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Festivais

21º FestCine (2019) – Alexandre Figueirôa

O festival só melhora quando homenageia profissionais da dimensão deste jornalista, professor e cineasta

Por Luiz Joaquim | 08.12.2019 (domingo)

Boa medida da seriedade de um festival pode ser verificada na escolha de seus homenageados. O Festival de Curtas de Pernambuco (FestCine), que já não teria de provar mais nada a respeito de seu comprometimento com o audiovisual pernambucano considerando o histórico de suas 20 edições anteriores, ainda assim dá mais uma prova do quanto é cuidadoso em suas escolhas.

Na edição 2019, a 21ª, que começa amanhã (9) e segue até o próximo sábado no Cinema São Luiz, o festival ainda se revela atento àqueles que fizeram/fazem do cinema em Pernambuco algo grande ao escolher como homenageado um profissional que costuma atuar fora dos holofotes e fazendo de seu trabalho, habitualmente silencioso, algo tão determinante para a nossa cultura e história quanto um longa-metragem premiado no exterior.

A figura em questão é o jornalista, crítico, professor, pesquisador e cineasta Alexandre Figueirôa.

Junto a atriz também homenageada neste FestCine, Conceição Camarotti (revelada ao cinema por Cláudio Assis em Texas Hotel, 1999), Figueirôa será celebrado hoje não apenas pela sua contribuição como a figura que investigou e investiga a história do cinema local, não apenas como a figura que ajudou a formar centenas de entusiastas e profissionais do audiovisual em Pernambuco, não apenas como aquele que resgata, reflete e problematiza o que se produziu e o que se produz no Estado, mas também como realizador.

Não por acaso, seu último rebento cinematográfico – o curta-metragem Piu-piu (2019), sobre o ator, cenógrafo e figurinista Elpídio Lima, considerado o primeiro transformista do Recife – integra a competição deste 21º FestCine, e terá sua exibição acontecendo na quarta-feira (11) – Veja a programação completa do 21º FestCine ao final deste texto.

 

Assim como Jean-Claude Bernardet – que nos últimos anos, após a consagração de uma carreira intelectual, tem se dedicado à criação artística –, Figueirôa também tem dado cada vez mais espaço à realização cinematográfica.

Piu-piu é o seu mais recente filme integrando uma filmografia comumente interessada em dar destaque e resgatar a dignidade de figuras também artísticas, geralmente atuando à margem do mainstream cultural local. Foi assim em Kibe Lanches (2017) e em Eternamente Elza (2013, correalizado com Paulo Feitosa). Comunicam-se, nesse sentido, seus Eternamente Ágora (1987, correalizado com George Moura) e Tudo se liga agora (2015, correalizado com Sérgio Dantas).

Para quem não sabe, Figueirôa também já se arriscou na frente das câmeras como figurante em títulos valiosos do cinema brasileiro. Os atentos poderão percebê-lo em Parahyba Mulher Macho (1983), de Tizuka Yamazaki, e O baile perfumado (1996), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira.

JORNALISMO – Como jornalista, Alexandre Figueirôa iniciou sua trajetória em 1980, mas não sem antes ter experimentado (e deixado de lado) cursar Engenharia. Sua estreia como repórter se deu no Diário da Noite (DN) – publicação vespertina do Jornal do Commercio, que circulou até 1985.

Foi nessa época, como repórter do DN, que entrevistou Tizuka Yamazaki por circunstância das filmagens de Parayba mulher macho (1983) no Recife. Ainda nesse período, Figueirôa aproximou-se do grupo Vanretrô (surgido no Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco em 1985), e dali escreveu um texto marcante para O berro, jornal experimental do curso de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), sobre o Super-8 Morte no Capibaribe (1983), curta de Paulo Caldas.

Ao fim de sua graduação, mudou-se para São Paulo e iniciou um mestrado em cinema na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Enquanto morou no Sudeste, escreveu sobre cinema para as revistas Set e Veja, retornando ao Recife apenas em 1991.

De volta, no Jornal do Commercio (JC), Figueirôa chacoalhou a crítica de arte que vinha sendo praticada no Recife com o seu histórico texto, de 14 de julho de 1991, chamado Um bonde chamado tropeço, avaliando uma peça teatral local.

O teor sincero, objetivamente consistente e carregado de personalidade no texto de Figueirôa chamou a atenção (no caso, indignada) não apenas da equipe da peça e de parte da categoria de artes cênicas no Recife, como também a atenção (no caso, admirada) de outros jornalistas de cultura, além de estudantes de jornalismo. Entre estes últimos a do hoje realizador Kleber Mendonça Filho.

Alexandre Figueirôa em foto divulgação

ACADEMIA – Ainda nos anos 1990, Figueirôa, começou a desacelerar sua atuação na crítica diária para iniciar o ofício de professor de jornalismo na Unicap. Dividia-se entre o JC e a universidade nos anos de 1992 a 1995. Daí partiu para a França, onde desenvolveu seu doutorado na Universidade de Paris III- Sorbonne-Nouvelle, para retornar ao Recife apenas em 2000.

Da França, Figueirôa ainda atuou como eventual correspondente do JC e pôs em prática aquela que seria a primeira cobertura do Festival de Cannes, em maio de 1997, para um jornal do Estado.

De volta ao Recife, na segunda metade dos 1990, o pesquisador reassume seu posto na Unicap e, em 2006, foi figura fundamental na criação do primeiro curso universitário de cinema do Estado. No caso, a pós-graduação em Estudos Cinematográficos, para a Unicap. Curso disponível para atividade até o momento presente.

Autor de livros, de artigos, capítulos de livros e também organizador de outras publicações, Figueirôa não descansa em suas pesquisas. Trabalha atualmente num grande projeto, ao lado dos pesquisadores Cláudio Bezerra e Túlio Vasconcelos, que deverá detalhar e avaliar a grandeza de Fernando Spencer (1927-2014) como jornalista e realizador.

Para nosso benefício, ainda teremos muitas obras de Figueirôa a conhecer no futuro.

Por enquanto, vamos celebrá-lo amanhã à noite.

 

Filmografia Alexandre Figueirôa:

Como diretor:

Eternamente Ágora (1987), com George Moura

Eternamente Elza (2013), com Paulo Feitosa

Tudo se Liga, Siga (2015), com Sérgio Dantas

Kibe Lanches (2017)

Piu Piu (2019)

Como figurante: 

Parahyba Mulher Macho (1983), de Tikuza Yamakazi

O Baile Perfumado (1996), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira

 

Programação completa do 21º FestCine

Local: Cinema São Luiz (Rua da Aurora, 175 – Boa Vista, Recife/PE)
Acesso gratuito

Segunda-feira (9/12)
18h30 – Abertura do 21º FestCine

Mostra Competitiva Formação (56 minutos)
Classificação:
Espelhos (Documentário, 8 minutos), de Carol Lima.
Linha da Mão (Documentário, 17 minutos), de Victória Drahomiro.
O menino que tinha medo do rio (Ficção, 20 minutos), de Dir. Coletiva.
Notícias de São Paulo (Documentário, 11 minutos), de Priscila Nascimento.

Mostra Competitiva Geral (98 minutos)
Classificação:
Marie (Ficção, 25 minutos), de Leo Tabosa.
Não moro mais aqui (Animação, 10 minutos), de Laura de Araújo.
Corpo Em Brasa – Romero Ferro e Duda Beat (Videoclipe, 4 minutos), de Sâmia Emerenciano.
Deus te dê boa sorte (Documentário, 23 minutos), de Jacqueline Farias.

Terça-feira (10/12)

Mostra Competitiva Formação (55 minutos)
Classificação: 14 anos
A Última Feira (Documentário, 20 minutos), de Tharciele Santiago.
AA- (Ficção, 11 minutos) de Pedro Ferreira.
Cena Jazz (Documentário, 24 minutos) de Tiago Silva

Mostra Competitiva Geral (92 minutos)
Classificação: 14 anos
Ex-Humanos (Ficção, 17 minutos), de Mariana Porto.
Barbas de Molho (Animação, 11 minutos), de Eduardo Padrão e Leanndro Amorim.
Nome de Batismo – Frances (Documentário, 16 minutos), de Tila Chitunda.
Revólver (Vídeo clipe, 4 minutos), de Cezar Maia.
Banzo (Experimental, 7 minutos), de Rafael Nascimento.
Caranguejo Rei (Ficção, 23 minutos), de Enock Carvalho e Matheus Farias.
Elos (Documentário, 12 minutos), de Juliana Lima.
Desumanize o Humano (Vídeo Clipe, 3 minutos), de Sérgio Dantas.

Quarta-feira (11/12)
19h – Mostra Competitiva de Formação (58 minutos)
Classificação: 12 anos
BRAVO! (Documentário, 22 minutos), de João Gabriel Lourenço.
Legado e Resistência (Documentário, 10 minutos), de Dir. Coletiva.
FilmeClipe Favela em Crise – Marolas Crew (Documentário, 10 minutos), de Dir. Coletiva.
Nu Ngi Sénégal: Imigrantes no Recife (Documentário, 16 minutos), de Erick da Silva.

Mostra Competitiva Geral (92 minutos)
Classificação: 14 anos
Volta Seca (Ficção, 21 minutos), de Roberto Veiga .
Um peixe pra dois (Animação, 10 minutos), de Chia Beloto  e Marila Cantuária.
Piu Piu (Documentário, 16 minutos), de Alexandre Figueirôa.
Corpo Monumento (Experimental, 18 minutos), de Alexandre Salomão.
Suporto Perder (Videoclipe, 7 minutos), de Cezar Maia.
O balido interno (Ficção, 15 minutos), de Eder Deó.
Zumbi (Videoclipe, 6 minutos), de Rafaela Gomes.

Quinta-feira (12/12)
18h30 – Mostra Competitiva Geral(100 minutos)
Classificação: 12 anos
Mansão do Amor (Ficção, 17 minutos) de Renata Pinheiro.
O mundo de Clara (Animação, 7 minutos) de Ayodê França.
Eu falo com todo mundo (Videclipe, 4 minutos), de Buguinha Dub e Costa Neto.
Hoje sou felicidade (Documentário, 20 minutos), de João Luís e Tiago Aguiar.
Rosário (Ficção, 19 minutos) Juliana Soares e Igor Travassos.
Quarto Negro (Ficção, 23 minutos), de Carlos Kamara.
Na busca do Conhecimento (Videoclipe, 4 minutos), de Cassiano Cassique.
Dias tão vermelhos (Experimental, 4 minutos), de Clara Gouvêa.
Hotel Central (Documentário, 18 minutos), de Tiago Martins Rêgo
Brega Protesto – Sem Destruição (Videoclipe, 3 minutos), de Dir. Coletiva.

Sexta-feira (13/12)
18h30 – Mostra Competitiva Geral (102 minutos)
Classificação: 16 anos
Até 10 (Ficção, 10 minutos), de Gabriel Coêlho.
Una – Faz Ideia (Videoclipe, 10 minutos), de Chico Ludermir.
Quando a chuva vem? (Animação, 8 minutos), de Jefferson Batista.
Naticoda (Experimental, 13 minutos), de Taciano Valério.
Atrofia (Ficção, 15 minutos ), de Geisla Fernandes e Wllyssys Wolfgang.
ARRETE – NUM ME ENCABULE (Videoclipe, 04 minutos), de Nathalia Simião.
Sambada dos Mascarados (Documentário, 24 minutos), de Chia Beloto e Rui Mendonça.
D-20 Vermelha (Ficção, 11minutos), de Djaelton Quirino.
Ouça o corpo falar (Experimental, 17minutos), de Ana Gabriela e Sofia de Oliveira.

Sábado (14/12)
17h – Sessão Especial com acessibilidade comunicacional
Classificação: Livre

Bacurau (Ficção, 130 minutos, 2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles

19h – Sessão especial Mostra Documentando

20h – Cerimônia de Encerrament

 

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