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Festivais

27º Festival des 3 Continents (2005) – Melancia

Melancia, água mineral, muito sexo e uma menina que reza no meio da multidão

Por Felipe Berardo | 01.12.2019 (domingo)

– texto publicado originalmente em novembro de 2005 no jornal Folha de Pernambuco.

NANTES (FR) – O filme mais procurado na mostra competitiva do Festival des 3 Continents (F3C), exibiu no sábado. Fala sobre melancia e água mineral, com muito sexo bem filmado entre as duas coisas. Mesmo com data de estréia nacional na França depois de amanhã, a sessão de Tian Bian Yi Duo Yun (The Wayward Cloud, Tawian, 2005), de Tsai Ming-Liang não deu pra quem quis.

Considerando os parâmetros de seleção do festival (dar espaço a talentos desconhecidos), é de certa forma injusta a inclusão deste filme na mostra competitiva, uma vez que Ming-Liang é experiente e prestigiado diretor. De qualquer forma, é delicioso assistir The wayward cloud com sua desinibida e original história de amor ente dois vizinhos de um prédio numa Taiwan desolada pela falta d’água, onde o suco de melancia é a saída para matar a sede.

A fruta vira um objeto de fetiche sexual e pontua não só as sacanagens no filme em produção do ator pornô como também a solidão de sua solitária vizinha. Ao espectador brasileiro, o filme de Ming-Liang remete imediatamente a pornô-chanchada Contos eróticas, de 1977, no qual Cláudio Cavalcanti transa com uma melancia numa banheira.

Ming-Liang está em Nantes, onde promoveu no sábado uma aula de direção de atores com os dois protagonistas do filme. O cineasta também foi responsável por uma programação no festival com filmes da produtora Cathay, de Hong Kong. Na mostra estão clássicos realizados entre os anos 1950 e 1960. São filmes de capa e espada e musicais que influenciaram em muito o cinema de Ming-Liang.

Dois outros destaques em competição foram o chileno Mi Mejor Enemigo (2005), de Alex Bowen, e o turco Melegin Düsüsü (Angel’s Fall, 2004). O primeiro arrancou aplausos extensivos da platéia com a história simples entre duas tropas atrapalhadas, uma chilena e outra argentina, de seis soldados cada uma. Eles estão no meio dos pampas “defendendo” a fronteira de uma iminente guerra entre os dois países. Ao invés da guerra chegar, chega a amizade proibida entre eles.

Still de “Angel’s Fall”

Angel’s Fall é um dos mais belos filmes mostrados no F3C, e, talvez, o menos compreendido. Exibido numa sessão ao meio-dia de ontem, a narrativa lenta conseguiu incomodar até os franceses. Com 98 minutos de duração, o filme não gasta mais de dez minutos com diálogos para nos imergir na solidão da protagonista. Um das seqüências mais bonitas exibidas em Nantes está neste filme. Enquanto ela chora e reza baixinho dentro de casa, um técnico de som caminha pela rua com seu microfone ultra-sensível registrando barulho de multidão. Ao se aproximar da casa, ele pára e escuta em segredo as preces da menina triste. Comovente.

* O repórter viajou pela Fundaj e com o apoio da Prefeitura de Nantes.

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