“Um animal amarelo” em Roterdã 2020
Novo filme de Felipe Bragança tem produção do português Luís Urbano e foi rodado em Moçambique
Por Luiz Joaquim | 14.01.2020 (terça-feira)
– com informações da assessoria da produtora de Um animal amarelo.
Escrito e dirigido pelo carioca Felipe Bragança, “Um Animal Amarelo” faz sua estreia mundial no Festival de Roterdã. O longa está em competição na Big Screen Competition, seleção de nove longas em estreia mundial descrita pelo site do festival como “uma coleção de filmes poderosos de diretores com carreiras de destaque internacional”.
Em “Um Animal Amarelo”, descrito como uma tragicômica e melancólica fábula tropical sobre as heranças do colonialismo português no Brasil de hoje, Bragança traz suas memórias e impressões de cidadão brasileiro e artista vivendo no conturbado Brasil atual “O filme é feito no encontro misterioso entre o pesadelo político-cultural que estamos vivendo e histórias muito pessoais e escondidas sobre as quais os brasileiros nem sempre gostam de falar”, ele explica.
Filmado no Brasil, Portugal e Moçambique, “Um Animal Amarelo” traz a inquietação do diretor sobre questões de identidade individual e coletiva:
“Filmar nesses países não foi como filmar no estrangeiro exatamente, mas filmar ainda mais perto de mim, nesse continente cultural instalado nas minhas vísceras, como que me vendo pela nuca, reinstalado como cineasta brasileiro. E, claro, voltei desse mergulho cheio de dúvidas, com a sensação de que a própria idéia de Brasil como harmonia construída sobre as ruínas coloniais está hoje se desfazendo por completa, e se tornando uma ainda mais nova ruína”.
“Com a sensação de que meu lugar criativo, eu, “branco brasileiro”, mestiço de tantos medos e fantasmas, deveria estar além do silêncio diante dos dilemas raciais e culturais que me ocupam o imaginário familiar e pessoal e suas origens ibéricas, ameríndias e africanas. Porque pensar qualquer construção, ou reconstrução de um sentido de comunidade que possa enfrentar o desmonte conservador e extremista no poder agora, vamos ter de encarar de forma nova a equação da nossa antropofagia cultural para além das sínteses sonhadas no passado. E esse pensamento novo deverá passar pelo fim na crença de um futuro paraíso prometido, mas acreditar na potência de um presente sempre feito da nossa auto-destruição, demolição, numa autofagia poética urgente e necessária. Talvez um Neo-Tropicalismo possível, uma nova modernidade almejada que nos tire desse atoleiro conservador, esteja na construção de uma linguagem multi-idiomática, auto-debochada, sem síntese, e que não esteja preocupada em se, e nos, salvar”, Bragança reflete.
O longa tem produção da carioca Marina Meliande e de Luis Urbano – produtor português de filmes de diretores como Miguel Gomes e Manoel de Oliveira – e traz no elenco o protagonismo do jovem Higor Campagnaro acompanhado de nomes como Herson Capri, Thiago Lacerda, Sophie Charlotte e Tainá Medina, além de um elenco luso-africano formado por Isabel Zuaa, Lucília Raimundo e Matamba Joaquim e dos portugueses Catarina Wallenstein, Diogo Dória e Adriano Luz. O lançamento está previsto para o 2º semestre de 2020 pela Olhar Distribuição.
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