70ª Berlim (2020) – The Woman Who Ran
Um sul-coreano onde o menos é mais
Por Ivonete Pinto | 29.02.2020 (sábado)
BERLIM (ALE.)Nem só de Parasite vive o cinema sul-coreano. Há sutileza, delicadeza, originalidade por lá. Hang Sang-soo, com The woman who ran (Domangchin Yeoja) nunca ganharia o Oscar porque é lento, porque tem muitas lacunas, não se apoia em gêneros, mas assim como Parasita, tem papel imprescindível numa cinematografia que se impõe pela diversidade. Foi o único filme a receber aplausos em cena aberta dos títulos que concorrem ao Urso de Ouro na Berlinale. E o feito se deveu à performance de um gato. Pode parecer estranho, porém isto não depõe contra o filme. Ao contrário, ilumina o conceito de cinema que Sang-soo gosta de trabalhar, valorizando o improviso e o minimalismo. Assim como não havia um roteiro rígido e as atrizes puderam improvisar, o gato teve seu momento especial. A cena também é uma bela homenagem à Nouvelle vague, em particular a François Truffaut e a presença mágica dos gatos em seus filmes. Além dos bichanos, o estilo de câmera que brinca com o zoom (inclusive na memorável cena do gato) dá uma inesgotável leveza ao enredo minimalista. Mulheres sós que conversam sobre a vida. Imagens roubadas de câmeras de vigilância que revelam alguma coisa sobre o título do filme. Pouco em um festival tradicionalmente político? Pouco neste momento de horrores totalitários, de coronavírus e tragédias ambientais? Parece pouco mesmo, mas é um presente a qualquer cinéfilo dotado de alguma sensibilidade.
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