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Festivais

70º Berlim (2020) – Days

Tsai Ming-Liang amoroso

Por Ivonete Pinto | 29.02.2020 (sábado)

O diretor malaio dos incontornáveis Goodbye, Dragon Inn (2003) e Jornada ao oeste (2014), desta vez trouxe a Berlim um filme rodado na Tailândia e de novo um protagonista com quem já trabalhou em O rio (1977) e outros filmes, o taiwanês Lee Kang-Sheng.

Mais um fio de enredo tendo como suporte a dimensão nublada entre o documentário e a ficção.

Da não-ficção, temos a doença crônica do personagem principal, aqui às voltas com inúmeros tratamentos para amenizar a dor na coluna. O espectador é submetido ao tempo real destes tratamentos (variações de acumpuntura e longos períodos sentado ou deitado em posições desconfortáveis).

Em seu conhecido estilo de cinema, o tempo é estendido e requer paciência oriental. Quem a tem sai ganhando, pois, a imersão nos universos do autor fica facilitada. Os impacientes devem fugir da experiência. Aliás, para intensificar esta experiência, o próprio diretor avisa nos créditos iniciais que o filme que será visto deliberadamente não possui legenda. E nem precisa. Os raros diálogos são perfeitamente compreensíveis em qualquer cultura, o que é imperativo é a vontade de se entrar no filme. E o espectador que ainda estava com dificuldade de penetrar naquele universo, tem na caixinha de música um importante elemento de derradeira adesão.

Do mundo real, Ming-Liang transportou seu coadjuvante, um garoto de programa, o tailandês Anong Houngheuangsy.  Ele esteve na coletiva em Berlim e fez questão de dizer que o que está no filme é sua vida tal e qual, que faz programas porque é pobre e precisa se sustentar. Em uma das poucas sequências com ele há uma bela cena de sexo, que envolve uma longa massagem. Na verdade, massagem e sexo se confundem e a câmera de Ming-Liang é sútil sem ser acabrunhada, é sensual sem ser vulgar. Mostra o que é preciso, deixando ao espectador o sagrado direito da imaginação. O contrário, aliás, do procedimento do russo Dau.Natasha, de Ilya Khrzhanoviskiy, que exibiu sexo explícito como posicionamento político, quando de fato apenas praticou uma relação abusiva com sua atriz principal.

Ming-Liang prefere estar junto com seus personagens, não contra eles.

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