Amin Stepple Hiluey (1950-2019)
O CinemaEscrito preenche uma lacuna pessoal. Publica texto sobre a perda de um dos grandes do audiovisual
Por André Cananéa | 10.04.2020 (sexta-feira)
Antes tarde do que nunca. O CinemaEscrito.com publica, finalmente, um registro sobre a morte de um dos grandes do audiovisual do Nordeste. O texto foi gentilmente cedido por André Cananéa, tendo sido publicado originalmente no jornal A União (João Pessoa/PB), na edição 27 de dezembro de 2019.
Pioneiro no uso do Super 8 em Pernambuco e roteirista de filmes como Árido movie, o jornalista Amin José Stepple Hiluey foi cremado, ontem (26/12/2019), em Paulista (PE). Paraibano de Campina Grande, morreu quarta-feira (25/12/2019), aos 69 anos, em decorrência de um câncer na próstata, luta que travava desde 2016. De acordo com informações do Jornal do Commercio, Amin Stepple faleceu às 18h40 no Hospital Unimed, no bairro da Ilha do Leite, em Recife. Ele deixa a esposa Ana Ruth e um filho, Diogo Stepple, de 24 anos.
“Ele foi um dos pioneiros do Super 8 em Pernambuco e qualquer jornalista se graduando hoje em dia ouve falar dele. A perda dele deixa uma lacuna no jornalismo e no cinema do Estado. Ele era um cara que quando fazia jornalismo fazia cinema ao mesmo tempo”, lembrou Diogo, em depoimento ao JC.
Nascido em 1950 na Serra da Borborema, filho de um comerciante de origem libanesa com uma mãe inglesa, de quem herdou os sobrenomes estrangeiros, Amin encontrou o cinema ainda em Campina Grande. Lá, junto com os jornalistas Agnaldo Almeida e José Nêumanne Pinto, mais o poeta Antônio Moraes de Carvalho, entre outros, integrou o Cineclube Glauber Rocha. “Por essa época, chegamos até a produzir uma peça de teatro, que a gente chamou de Pithecantrópus Populorum Show, escrita por mim, por Amin e por Moraes”, recorda Agnaldo Almeida.
Não demorou muito para Amin Stepple sair da Paraíba em direção ao Recife, onde cursou jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Na capital pernambucana, ele deu sequência à paixão por cinema, integrando cineclubes locais. Em 1974, deu início a uma produção autoral que resultaria em filmes como Isso é o que é (1974); Tempo nublado (1975) e Creuzinha não é mais tua (1979), todos feitos em Super-8.
“Ele era, nos anos 1970, um dos três mosqueteiros do cinema Super-8 pernambucano, junto com Paulo Cunha e Geneton Moraes Neto, sendo que Jomard Muniz de Britto seria uma espécie de D’Artagnan. Roteirista, crítico, telejornalista durante muitos anos, nasceu em Campina Grande, mas foi o Recife quem o seduziu e o projetou”, sintetizou o escritor Braulio Tavares, em postagem nas redes sociais.
Também pelas redes sociais, o jornalista pernambucano Paulo Cunha lamentou a partida do paraibano, um amigo de longa data: “Amin foi quase um irmão mais velho para mim. Estávamos nos falando mais nesses últimos tempos, depois que ele fez um prefácio lindo para o livro que escrevi com Ana Farache sobre Geneton. Era um gênio, uma inteligência pura. Amin foi a consciência crítica da minha geração. Que pena…”.
Em 1976, Amin Stepple passou a frequentar o Curso Livre de Cinema no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Entre 1982 e 1996, trabalhou na Rede Globo Nordeste, onde foi editor-chefe do NE2 por mais de dez anos. Também trabalhou nas editorias de Cultura e Política do Diário de Pernambuco.
O publicitário Genivaldo Lima, de Campina Grande, recorda que Amin também chegou a trabalhar em campanhas políticas na Paraíba. “Trabalhamos juntos na de 2002, na (agência) Alfa9”, informa. “Fizemos a campanha de Maranhão (então candidato ao Governo naquele ano). Ele também escreveu o guia eleitoral de Ney Suassuna, que era candidato ao Senado na época”.
Antes, nas décadas de 1980 e 1990, Stepple produziu vídeos como Cinema pernambucano – 70 anos (1989), História de amor em 16 quadros por segundo (1989) e That’s a lero-lero (1994), este filmado em 16mm. O cineasta ainda foi roteirista dos longas Árido movie (2005), de Lírio Ferreira, e País do desejo (2011), de Paulo Caldas.
Alias, o termo “árido movie” foi cunhado pelo paraibano para designar a explosão do cinema pernambucano a partir do final dos anos 1990. Também das redes sociais, o jornalista e amigo Xico Sá recordou esse marco, acrescentando que Amin foi uma das pessoas mais brilhantes que ele conheceu no Recife “e no resto do mundo também”. “Inteligência e repertório intelectual (cinema, literatura, geopolítica, jornalismo etc.) aliados a um humor cortante, meio nordestino, meio inglês”, descreveu.
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