– texto originalmente publicado na coluna Frame, assinada por Luiz Joaquim, para a revista eletrônica A Ponte, em 18 de dezembro de 1998.  Acima, still de O doce amanhã, de Atom Egoyan. 

O cinéfilo que pensava já estar livre da maratona de assistir  filmes num curto espaço de tempo (agradável maratona, vale registrar),  como aconteceu na semana passada com a comemoração dos 75 anos da  Warner Bros, pode ir tirando o carrinho da chuva. É que a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) vai exibir 14 filmes significativos desse ano que termina. Sim, são catorze filmes. Todos serão exibidos  num período de seis dias. A “Retrospectiva 98” começa nessa sexta-feira (18/12/1998), e segue até a quarta (23/12/1998).

“Os filmes que estão na Retrospectiva 98 da Fundaj não são parte, exatamente, de uma seleção do tipo os melhores filmes do ano” explica o jornalista Kleber Mendonça Filho, coordenador da divisão de cinema da Fundação,  “se assim fosse, teríamos ausências graves como O Resgate do Soldado Ryan e The Truman Show, entre outros”. Kleber conta que a mostra é o resultado de um esforço em reunir obras que marcaram 1998 (dentro das limitações da Fundaj), e algumas outras que tem seu valor reconhecido no planeta inteiro, mas que, por algum motivo nefasto, ficaram em cartaz aqui na Veneza Brasileira por apenas sete dias, ou pior, chegam aqui com três minguadas exibições na abençoada “sessão de arte” do Grupo Severiano Ribeiro.

Dentre aquelas obras de arte que passaram correndo por aqui, e a retrospectiva dá uma última canja pra você se deliciar, estão: Na companhia de homens, excelente experimento de Neil Labute, que mostra o quanto vocês, garotas, podem se dar mal acreditando em algumas promessas masculinas. O doce amanhã, do canadense Aton Egoyan (diretor também de Exótica), que realiza aqui um verdadeiro desmonte na tradicional estrutura linear de contar estórias. Além da maestria com que conduz o vai-e-vem no passado e presente, Egoyan nos brinda com uma trama que mostra, sem maquiagens, alguns dos valores mais sombrios do homem: a perda. Não foi a toa que O doce amanhã  ganhou o prêmio especial do Juri em Cannes, e concorreu ao Oscar de melhor roteiro. Ainda sobre os “desprezados” pelo circuitão que estão na retrospectiva, constam o meigo Amor & Cia., de Helvécio Ratton (que dirigiu O menino maluquinho), e o competente Gattaca, de Andrew M. Niccol.

Entre os arrasa quarteirões selecionados, estão o aclamado Tarantino com Jackie Brown, a deliciosa revelação de Paul Thomas Anderson, Boogie nights, o oscarizado Melhor impossível, e, lógico, o mega-fenômeno Titanic. Outro filme que merece destaque é o Central do Brasil. Passados nove meses de sua primeira exibição aqui no Recife, vale ir conferir se e o filme merece todos os créditos que lhe atribuem.

Além das películas mencionadas, estão também na retrospectiva o holandês Caráter, o espanhol Carne trêmula, o australiano Oscar & Lucinda, o americano Cidade das sombras e o austríaco Funny games. Esse último merece atenção especial. O filme está, atualmente, em cartaz em Londres, onde está fazendo um reboliço na opinião pública. A inocência/violência disfarçada mostrada em Funny games acabou conquistando os críticos londrinos, que o elegeu como o melhor filme em cartaz dessa temporada.  Não seja louco de perder a chance de ver uma aula de cinema, vinda da Áustria.

“Funny Games”, 1997, de Michael Haneke

PASSAPORTE – Durante as sessões da sexta-feira, 18.12, a Fundaj irá sortear 20 convites individuais que permitirão o acesso a qualquer um dos filmes (a contar do sábado – 19.12) da retrospectiva.

PROGRAMAÇÃO DA RETROSPECTIVA 1998

SEXTA – 18.12

18h30 – Caráter

20h35 – O Doce Amanhã

22h20 – Carne Trêmula

SÁBADO – 19.12

18h00 – Jackie Brown

20h30 – Funny Games

22h15 – Boogie Nights

DOMINGO – 20.12

17h00 – Titanic

20h30 – Central do Brasil

SEGUNDA – 21.12

19h10 – Amor & Cia.

20h50 – Oscar & Lucinda

TERÇA – 22.12

19h00 – Na Companhia de Homens

20h40 – Melhor Impossível

QUARTA – 23.12

19h00 – Gattaca

20h50 – Cidade das Sombras