Como inaugurou o Planeta Drive-in no Recife?
Quase 30 anos após última sessão num autocine no Recife, o Planeta Drive-in oferece a experiência de novo
Por Luiz Joaquim | 16.07.2020 (quinta-feira)
Quase 30 anos separam a última sessão de cinema projetada em um drive-in no Recife (veja matéria ao final desse texto) da sessão de ontem (15) que inaugurou o empreendimento Planeta Drive-in Recife – produzido pela paranaense Agência Reality em parceria com o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação e a rede Moviemax (cines Rosa e Silva, entre outros), com esse último assumindo a responsabilidade da programação local.
A sessão inaugural, às 19h, com o filme Minha mãe é uma peça 3 (2019), de Susana Garcia, contou com quase toda a capacidade para 150 carros ocupada na estrutura montado na esquina das avenidas Boa Viagem e Antônio de Góes, no bairro do Pina.
ESTRUTURA – Para ter acesso ao espaço, o interessado deve desembolsar pelo ingresso R$ 70 a R$ 90 por carro (com o máximo de quatro ocupantes), conforme o horário da sessão, que pode ser adquirido no site planetadrivein.com.br. O acesso de entrada se dá pela avenida Boa Viagem, num portão ao lado do prédio da Arena Pernambuco. Será inteligente aquele frequentador que for ao drive-in bem mais cedo que o horário da sessão uma vez que uma fila fatalmente será formada para a entrada dos carros. Na sessão de ontem, por exemplo, para aqueles que vieram da Zona Norte do Recife, a fila se estendeu na av. Herculano Bandeira ao lado do Recife Praia Hotel.
Uma vez no portão de entrada, o acesso é liberado mediante leitura do código de barra de seu ingresso (o qual o frequentador pode apresentar pelo smartphone ou em papel impresso). Com boa e grande equipe de apoio, o empreendimento conta com diversos balizadores que, caminhando, acompanham o carro até a sua vaga, identificada por fila (‘a’ mais próxima da tela e ‘i’ mais distante) e número do estacionamento. Todos os atendentes estão protegidos com máscaras e escudos de acrílico no rosto.
Quando estacionado, o usuário verá uma placa ao seu lado esquerdo, indicando a estação a sintonizar (90,7 FM) para captar o áudio do filme, além de um símbolo QR-Code para, por meio do smartphone, poder baixar o aplicativo do Planeta Drive-in. Pelo aplicativo é possível comprar pipoca, bebida e outros comidinhas. As compras são entregues pelos funcionários pela janela dos automóveis.
Ainda pelo aplicativo, o frequentador “agenda” sua ida ao banheiro. Tal registro pelo app. é necessário para evitar aglomeração ao sair do veículo. O cliente sabe de sua vez de ir ao sanitário pelo aviso de um dos funcionários.
A SESSÃO – Distribuídas de forma que a leitura da tela seja confortável de qualquer posição (ainda que haja uma árvore no terreno), as vagas para os carros são espaçosas e organizadas de modo que os veículos maiores (SUVs, caminhonetes) fiquem nas últimas filas, com os carros menores na frente.
A tela, de 144 m2, não funciona recebendo um facho de luz com um projetor a frente dela, como tradicionalmente acontece num cinema, mas sim recebendo uma transmissão digital por trás dela. Isso significa que a tecnologia não é a de um cinema tradicional, com projeção no formato DCP (como, por exemplo, ofereceu o projeto Vivo Open Air, no Recife em 2012 e 2016, com uma tela de 300 m2). Em outras palavras, o que temos aqui é uma tela brilhante, como se fosse a de um colossal smartphone exposto na horizontal, transmitindo um filme com brilho próprio da tecnologia.
A opção faz sentido se considerarmos que o projeto agendou também sessão à tarde, em plena luz do dia (mirando o público infanto-juvenil), daí a funcionalidade do brilho excessivo da tela, para dar conta da leitura da imagem mesmo sob o sol. A opção, entretanto, não é exatamente a mais atraente para aquele fã de cinema um pouco mais exigente.
Assim como não é também audaciosa, ao menos na semana inaugural, a programação (veja abaixo), pautada por arrasa-quarteirões não inéditos, variando entre a comédia, o romance, o suspense e o infanto-juvenil. Uma vez que o projeto é vultoso no inve$timento, e com poucas vagas de ingresso, não podia se esperar algo muito diferente. É prudente apostar em sucessos garantidos, mas arriscar com títulos inéditos (ainda que de pouco impacto popular) seria bem-vindo, para atrair não apenas aquele interessado em viver a experiência de ir a uma sessão num drive-in pela primeira vez, mas também aquele que quer ver um filme que reúna sofisticação cinematográfica e ineditismo (ao menos no Recife).
Uma outra observação técnica para quem gosta de cinema: ao final da sessão inaugural, os créditos finais de Minha mãe é uma peça 3 não foram exibidos. Após as imagens finais da obra, a tela deu lugar ao símbolo do empreendimento, enquanto fogos de artifícios começaram a explodir no céu, celebrando a abertura do espaço.
A decisão pelos fogos também não pareceu acertada uma vez que a ideia do espetáculo deveria estar no filme. Mais uma vez remetendo ao Vivo Open Air, outra experiência de cinema ao ar livre, tínhamos ali também um espetáculo extra-filme (a estrutura da tela levantando lentamente sob um jogo de luz) que acontecia antes do início da sessão. Ali, o final da sessão tinha o filme respeitado com os créditos exibidos até o final, e com os seus espectadores ainda processando o recado da obra ao final do espetáculo que um filme, por si só, pode se revelar.
Programação:
Quinta-feira, 16/7 – 16h – Como treinar o seu dragão (dub.) / 19h – Shazan (dub.) / 22h – O homem invisível (dub.)
Sexta-feira, 17/7 – 16h – Sonic: O filme (dub.) / 19h – Coringa (leg.) / 22h – Nasce uma estrela (leg.)
Sábado, 18/7 – 16h – Como treinar o seu dragão (dub.) / 22h – Nasce uma estrela (leg.) / 22h – O homem invisível (leg.)
Domingo, 19/7 – 16h – Sonic: O filme (dub.) / 19h – Minha mãe é uma peça 3 / 22h – Coringa (leg.)
Drive-in no Recife, o passado.
Em março de 1977, aconteceu a primeira exibição do Autocine Drive in, na sede do Aeroclube de Pernambuco, no mesmo bairro do Pina onde funciona o Planeta Drive-in. O filme inaugural seria a pornochanchada O marido virgem (1973), de Saul Lachtermarcher, com Perry Salle e Sandra Barsotti, mas um incidente apagou o brilho da primeira sessão, quando uma ventania extraforte derrubou a tela (de 112 m2) do empreendimento.
Com ajustes e reforços feitos, o espaço reabriu no sábado 12 de março com capacidade para 320 automóveis. Na programação, as crianças se divertiram com as presepadas de Tom e Jerry, na sessão das 18h, e os adultos, em duas sessões, às 19h30 e 21h30, se divertiram com a sacanagem de uma pornochanchada: O motel (1975), de Alcino Diniz, com Maria Lúcia Dahl, Carlos Eduardo Dolabella, Ary Fontoura e Monique Lafond no elenco.
O Autocine Drive in, em sua primeira fase, seguiu forte até 1983 quando, na segunda-feira 20 abril, fez sua última sessão projetando Os implacáveis (1972), de Sam Peckinpah, com Steve McQueen.
Um mês antes deste fechar, um outro empreendimento de mesma natureza havia surgido no Recife. Era o Autocine Joana Bezerra, localizado onde hoje existe o Fórum do Recife. Foi no sábado 5 de março de 1983 que o espaço promoveu um coquetel, às 20h, com a presença do prefeito do Recife, Jorge Cavalcante, para exibir Num lago dourado (1981), filme de Mark Rydell, com Henry Fonda e Katharien Hepburn (tendo ambos recebido os Oscars de ator e atriz por esse filme em 1982).
Pelo filme inaugurou, percebe-se que Fernando Quintas Lopes, empresário do Autocine Joana Bezerra, tinha outras pretensões com o empreendimento. De fato, toda a estrutura era mais sofisticada que o pioneiro Autocine Drive in.
O espaço em Joana Bezerra comportava 240 veículos, tinha o áudio do filme captado pelo rádio dos carros na faixa 88.1 FM, e projetava as imagens para uma tela de 16 x 8 metros, por meio de dois projetores Velocine. O valor do ingresso, por pessoa, custava Cr$ 600 (cruzeiros). O equivalente na época a US$ 2 ou, em dinheiro de hoje, cerca de R$ 11.
O Autocine Joana Bezerra tinha sessões regulares diariamente, com duas sessões por dia, e, para o primeiro mês, Fernando Quintas trouxe Bye Bye Brasil, A vida íntima de um político, O expresso da meia-noite, Menino do Rio e Mogli: o menino lobo.
Infelizmente, o negócio durou menos de um ano. Sua última sessão ocorreu em 21 de janeiro de 1984, projetando Ghandi (1982), de Richard Attenborough, com Ben Kingsley. Ficou um mês em cartaz, e foi o título que mais rendeu dinheiro ao Autocine Joana Bezerra.
Três anos depois, em 1987, no mesmo parque do Aeroclube de Pernambuco, passa a funcionar o Autocine Aeroclube e, no ano seguinte, em maio e 1988, surge o Autocine Boa Viagem, o maior de todos, com capacidade para 300 automóveis, tendo funcionado até o início da década de 1990.
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