5º Festival Internacional de Cinema LGBTI (2020)
Dramas, documentários e comédia integram a mostra, entre 28 e 30 de agosto, na plataforma LGBTFLIX
Por Luiz Joaquim | 26.08.2020 (quarta-feira)
– com informações da assessoria do festival. Acima, imagem de O terceiro casamento.
Sabendo da complexidade do tema e com o intuito de contribuir como uma janela de exibição da produção de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no audiovisual, o Festival Internacional de Cinema LGBTI chega a sua 5ª edição. Anteriormente realizada em Brasília, desta vez a mostra é promovida online e totalmente gratuita. Quatorze produções audiovisuais com narrativas sobre diversidade e oriundas de vários lugares do mundo integram o festival, que acontece entre os dias 28 e 30 de agosto em endereço específico (clique aqui).
O evento é possível graças a uma união de missões diplomáticas coordenada pela Embaixada da Bélgica, com participação das embaixadas da Alemanha, Austrália, Áustria, Dinamarca, Eslovênia, Espanha, Irlanda, Países Baixos e Uruguai, e parceria com a Delegação Europeia no Brasil. Juntas, elas reafirmam o compromisso com a igualdade e a dignidade de todos os seres humanos, independentemente da sua orientação sexual ou identidade de gênero. O apoio institucional é das embaixadas do Canadá, Suécia, Suíça e Estados Unidos.
Além dos filmes internacionais, a mostra conta com produções brasileiras, cuja exibição é viabilizada por meio da parceria com o coletivo #VoteLGBT, que assina a curadoria. Desta forma, o evento audiovisual possibilita também trazer reflexões importantes sobre diversidade sexual e de gênero no contexto nacional.
A exibição acontece na plataforma LGBTflix, iniciativa que já reúne 250 filmes brasileiros de temática LGBT+ e tem funcionado como espaço de fruição cultural para espectadores interessados em obras que discutam questões LGBTs, especialmente em tempos de pandemia e isolamento social.
AS TEMÁTICAS – A programação engloba filmes que abordam alguns temas presentes na vastidão das vivências das pessoas LGBT+, segmento da população atravessado pela opressão, estigma e preconceito. A transição de gênero, realidade historicamente evitada pela produção audiovisual, é eixo central do documentário australiano ‘52 Terças-feiras’, da diretora Sophie Hyde. A intersexualidade é objeto do filme austríaco ‘Erik&Erika’, de Reinhold Bilgeri, ao tratar da vida de uma aclamada esquiadora que tem sua identidade questionada. A relevante discussão continua na produção dinamarquesa ‘Nobody Passes Perfectly’, sobre quais impactos são presentes em um relacionamento a partir da decisão de uma das pessoas em transicionar de gênero.
Nem só de histórias de superação vive o audiovisual LGBT+, por isso na comédia uruguaia ‘Os Golfinhos Vão para o Leste’ um gay solitário evita a visita da filha, mas repensa a decisão ao saber que será avô. De fundamental importância na cultura LGBT+, a arte drag aparece em ‘Galore’, documentário que narra dilemas na vida de Lady Galore, drag holandesa que resolve passar por uma cirurgia de redução do estômago. Ainda no campo das artes, o filme dinamarquês ‘Amphi’ demonstra intensa abordagem artística e coloca três jovens em um anfiteatro onde desenvolvem um projeto que envolve arte e sexualidade.
Dilemas entre LGBTs de outras gerações aparecem em duas outras produções. Em ‘O Terceiro Casamento’, um gay recentemente viúvo escolhe participar de um casamento arranjado com uma congolesa 20 anos mais jovem. Já no filme espanhol ‘Por 80 Dias’, a visibilidade lésbica é eixo central ao narrar o reencontro de uma mulher de 70 anos com uma antiga amiga da adolescência.
Entre as produções brasileiras, questões urgentes são propostas, como o tensionamento da existência transexual na periferia, abordagem feita pelo filme “Meu Corpo é Político”. A potência do encontro entre duas mulheres negras é retratada no premiado “Minha História é Outra”. Olhares femininos e feministas seguem sendo apresentados pelas produções “Quebramar” e “MC Jess”. Já em “Terra Sem Pecado” a reflexão parte de relatos sobre homossexualidade em comunidades indígenas. A lista de produções nacionais se encerra com o documentário “Que os Olhos Ruins Não Te Enxerguem”, que costura relatos contundentes para problematizar a interseção entre gênero, raça e classe na comunidade LGBT+.
O #VoteLGBT é um coletivo que busca aumentar a representatividade das pessoas LGBT+ em todos os espaços da sociedade, principalmente na política. Entendendo a representatividade de forma interseccional às pautas de gênero e de raça, o coletivo compreende a diversidade como um valor fundamental para a democracia.
PROGRAMAÇÃO COMPLETA
Todos os filmes estarão disponíveis na plataforma no período de 28 de agosto (sexta-feira, a partir das 18h) até 23h59 do dia 30 do mesmo mês, à exceção do filme ‘Erik&Erika’, que será transmitido às 20h do dia 29 de agosto.
O Terceiro Casamento (Troisièmes Noces). Dir. David Lambert. 2018. 100 min. Bélgica. 14 anos.
Recentemente viúvo e dominado pelo luto, Martin é um gay de 50 e poucos anos que aceita a proposta de um amigo para se casar com Tamara, uma congolesa de 20 anos. Esses dois seres tão diferentes terão que acreditar nesse amor arranjado diante das autoridades migratórias, mas se fingirem por muito tempo poderão encontrar uma forma particular de se amarem.
52 Terças-feiras (52 Tuesdays). Dir. Sophie Hyde. 2013. 104 min. Austrália. 16 anos.
Aos 16 anos, a trajetória da menina Billie para uma vida independente é acelerada quando sua mãe revela planos de transição de gênero. Ela é obrigada a se mudar para a casa do pai, e agora só pode ficar ao lado de sua mãe nas tardes de terça-feira, momentos em que aprende sobre afeto e sexualidade.
Erik&Erika. Dir. Reinhold Bilgeri. 2018. 89 min. Áustria. 16 anos. (Este filme tem exibição única às 20h de sábado, dia 29)
Erika Schinegger é uma estrela do esqui que se tornou sensação na mídia. Foi aclamada como esquiadora campeã até que um teste de sexo determinou que ela era ele – e Erik(a) passou por rejeição e acusação de fraude. Essa história baseada na vida real configura um conto sobre os tabus da sociedade nos anos 1970.
Os Golfinhos Vão para o Leste (Las toninhas van al Este). Dir. Gonzalo Delgado, Verónica Perrota. 2016. 83 min. Uruguai. 16 anos.
Miguel Angel é uma celebridade extravagante da televisão cujo ápice da fama ficou no passado. Vive recluso em Punta del Este e não encontra sua filha Virginia há anos. Ela decide visitar o pai para retomar o relacionamento, mas ele resiste até ser informado que irá se tornar avô pela primeira vez.
Galore. Dir. Dylan Tonk, Lazlo Tonk. 2019. 74 min. Países Baixos. 14 anos.
Após quase uma década nos palcos, Lady Galore é uma figura valorizada na cena drag europeia. Mas tanta dedicação tem seu preço. Sander den Baas, o homem que dá vida a Lady Galore, passa por problemas de saúde e precisa fazer uma cirurgia de redução de estômago. Ele poderá ficar mais saudável, mas o que restará de Lady Galore?
Amphi. Dir. Mathias Broe. 2018. 30 min. Dinamarca. 14 anos.
Três jovens que não se conhecem são colocados em um anfiteatro abandonado e começam a trabalhar em um projeto de arte que envolve seus corpos. Uma intimidade se desenvolve entre eles, e conversas sobre fluidez sexual emergem. Os estranhos se tornam confidentes e suas vergonhas, medos e segredos acabam sendo revelados.
Nobody Passes Perfectly. Dir. Saskia Bisp. 2009. 43 min. Dinamarca. 14 anos.
A coragem de alguém que decide mudar radicalmente é contada com sutileza. Tomka namora Lotte e vai passar por um processo de transição de gênero. O que essa nova fase vai mudar no relacionamento é uma questão que intriga as personagens. Uma reflexão que questiona o entendimento de gênero centrado em perspectivas biológicas.
Por 80 Dias (80 Egunean). Dir. José Mari Goenaga, Jon Garaño. 2010. 105 min. Espanha. Livre.
Axun é uma mulher de 70 anos. Um dia ela precisa ir ao hospital e esbarra com Maitê, sua amiga da adolescência. Elas logo percebem que a afinidade continua a mesma de cinquenta anos atrás e se divertem muito com o reencontro. Até que Axun descobre que Maitê é lésbica, o que resulta em sentimentos conflituosos.
Meu Corpo é Político. Dir. Alice Riff, 2017, 71 min, Brasil. 12 anos.
O filme aborda o cotidiano de quatro militantes LGBT que vivem em periferias de São Paulo. A partir da intimidade e do contexto social dos personagens, o documentário levanta questões contemporâneas sobre a população trans e suas disputas políticas.
Quebramar. Dir. Cris Lyra, 2019, 27 min, Brasil. Livre.
Jovens lésbicas de São Paulo viajam a uma praia deserta para passar o Ano Novo. Lá, constróem refúgio físico e emocional para seus corpos e afetos através da amizade e da música. Nesse ambiente seguro e de cuidados mútuos, podem relaxar.
Terra sem Pecado. Dir. Marcelo Costa, 2019, 20 min, Brasil.
O documentário em curta-metragem tem como proposta principal abordar a questão da diversidade sexual entre os indígenas do Brasil. Atualmente os indígenas LGBT+ sofrem preconceito dos próprios parentes, que reproduzem um comportamento que não faz parte de suas tradições. E quando saem de suas aldeias para os centros urbanos, sofrem duplo preconceito, por serem indígenas e por serem LGBT.
MC Jess. Dir. Carla Villa-Lobos, 2018, 20 min, Brasil. 14 anos.
Jéssica tem que enfrentar o preconceito cotidiano. Encontra na arte uma forma de se expressar e superar suas inseguranças.
Minha História é Outra. Dir. Mariana Campos, 2019, 22 min, Brasil.
O amor entre mulheres negras é mais que uma história de amor? Niázia, moradora do Morro da Otto, abre a sua casa para compartilhar as camadas mais importantes na busca por essa resposta. Já a estudante de direito Leilane nos apresenta os desafios e possibilidades de construir uma jornada de afeto com Camila.
Que os olhos ruins não te enxerguem. Dir. Roberto Maty, 2019, 74 min, Brasil.
O documentário se propõe a discutir a diversidade de gênero, classe e raça dentro da comunidade LGBTQIA+ na periferia de São Paulo. São personagens percorrendo a metrópole ao mesmo tempo que narram suas vidas, seus sonhos e afetos.
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