9º Olhar (2020) – Um Filme Dramático
“Boyhood: Da Infância à Juventude” encontra “Doméstica”. Mas não pára aí.
Por Luiz Joaquim | 10.10.2020 (sábado)
Boyhood: Da infância à juventude encontra Doméstica. Esta ilustração ajudaria a dar uma ideia do que seja o documentário Um filme dramático (Un film dramatique, Fra., 2019), de Eric Baudelaire, mas, ao mesmo tempo, a reduziria a algo que ele não é.
O que há aqui do filme de Richard Linklater está no acompanhamento por quatro anos que Baudelaire faz a um grupo de alunos do segundo grau na escola Dora Maar, em Saint-Denis, às margens do Sena, mas distante do centro de Paris. É uma região também identificada pelo número 93 e vinculada à ideia de periferia, de subúrbio, de classe-média baixa.
Tal região, com seus personagens mirins, são o que importam a Baudelaire, e é pelo registro desse ambiente feito por um grupo de adolescentes, ali perto dos 15 anos de idade, com câmeras de vídeo registrando o seu cotidiano domiciliar, que Um filme dramático encontra o que há no documentário de Gabriel Mascaro.
Mas, novamente, não se resume a isso, uma vez que Baudelaire provoco os meninos a meninas a pensarem sobre o conceito do cinema. O que é um filme? O que pode um filme? A que serve? E, assim, vai nos apresentando uma perspectiva reveladora sobre aquele lugar, a partir daquele lugar e pelos olhos (câmeras) de indivíduos em pleno processo de formação moral.
Fica claro, nessa trajetória coletiva juvenil de quatro anos compilada em 114 minutos, o quanto de evolução, não apenas nas ideias, mas também no domínio estético da imagem, aqueles personagens amadurecem. Se no início do filme, o que temos são imagens fora de foco e trêmulas em grande volume, ao final, quatro anos mais tarde, já percebemos uma intencionalidade nas imagens que objetiva registrar o que pode haver de poético, por exemplo, em pombo pousados na estrutura de uma ponte sobre o Sena.
As brincadeiras sobre a edição de som na formação desses jovens são especialmente felizes, as quais geram também intervenções ótimas nas “campanhas eleitorais de mentirinha”, pelas quais lançam seus slogans políticos. São, por exemplo, palavras de ordem sobre o que há de legal na sincronização (ou não) do som na edição final de um filme.
Um filme dramático merecer ser visto ao lado de outros jovens, quem sabe, estimulando-os assim a experimentar o audiovisual como uma expressão mais comprometida com algo para além da avalanche de postagens ininterruptas que enchem as redes sociais de nada.
O documentário de Eric Baudelaire está disponível para ser visto na plataforma do 9º Olha de Cinema – Festival Internacional de Curitiba entre às 6h desta segunda-feira (12) até às 5h59 do dia seguinte. Clique aqui.
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