Papa Francisco: Um Homem de Palavra
Fé, razão e ciência num mesmo homem a serviço da humanidade
Por Luiz Joaquim | 05.10.2020 (segunda-feira)
É bom o título do mais recente filme de Wim Wenders, Papa Francisco: Um homem de palavra (Pope Francis: A Man of His Words, Ale., Sui., Ita., Fra., Vat., 2018), uma vez que o documentário reforça constantemente (e comprova) ser o argumento o único instrumento que dispõe o Santo Padre para promover a paz, estimular o amor, e combater a injustiça no mundo. O quão preparado intelectualmente é e o quão imbuído pela fé está um homem assim, que aperta a mão dos maiores líderes políticos, sendo ele mesmo um líder espiritual para cerca de 1,3 bilhão de católicos? Quais seriam, portanto, as palavras de Francisco?
Tais questões encontram muito boas respostas nesse retrato de um Papa que se compromete com a modernidade, olhando para o seu tempo. Algo que deixa claro inclusive num sermão dado à cúria romana sobre a necessidade de abrir os olhos aos conflitos do presente sem esquecer, logicamente, da tradição. Em suas palavras, uma cúria “que não se atualiza e não se autocritica é um corpo doente”.
Disponível pela Netflix, o documentário intercala-se por meio de três estruturas: Numa há um rico volume de imagens que seguem a santidade ao redor do mundo, pregando ou acalentando pessoas díspares em sua posição social como congressistas norte-americanos, detentos italianos, refugiados africanos ou filipinos que perderam absolutamente tudo para um desastre natural – situação esta última, que, num raro momento, o deixa sem palavras.
É aqui, a propósito, que o documentário registra um dos mais comoventes momentos do filme (e eles são muitos), quando uma idosa filipina se curva para beijar a mão de Sua Santidade e se deixa ficar ali por um tempo que parece infinito, como se lhe fosse o único lugar de conforto no mundo para, depois, sair cambaleando de volta em direção à consciência do sofrimento, da sua realidade.
Numa segunda estrutura, vemos em Um homem de palavra Wenders dar movimento (por uma interpretação com atores encenando um filme silencioso, em P&B) a história de São Francisco a partir dos afrescos criados por Giotto e dispostos na basílica erguida em homenagem ao santo após a sua morte. Afresco estes dispostos “como uma grande história em quadrinhos sagrada”.
Na terceira estrutura do filme, Wenders dispõe do próprio Papa Francisco dando respostas enquanto encara diretamente a sua objetiva (ou a nós, espectadores). As respostas atendem perguntas inquietas sobre a finitude da vida, sobre a equivocada ideia de soberania humana sobre a Terra, sobre a necessidade de harmonia na família, sobre o respeito à diversidade de gênero, e àquilo ao que o pontífice chama de três Ts: Teto (família), Terra (fazê-la dar frutos) e Trabalho, que é a coisa mais nobre que cabe ao homem: imitar a Deus com a mão. Criando.
Como um bom latino, o Papa Francisco é dramático, carismático e humorado. São características muito próprias do humano, que o aproxima enormemente daqueles que precisam dele hoje, e também daqueles que acham que não precisam. Wenders parece ter entendido isso e o seu filme pode funcionar como um atalho a essa compreensão.
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