53º Brasília (2020) – Seleção
É tudo Brasília. Edição 2020 privilegia documentários.
Por Luiz Joaquim | 25.11.2020 (quarta-feira)
– com informações da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec) – texto de Lúcio Flávio. Acima, still do longa-metragem Entre nós talvez estejam multidões
A edição 53ª do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) tem rosto e personalidade traçados. É fortemente documental, descentralizada com produções das cinco regiões brasileiras e tem uma presença equilibrada feminina e de criadores negros. O desenho dessa face nasceu do trabalho dos 13 jurados da Comissão de Seleção, sob a orientação do curador e diretor artístico, o cineasta Silvio Tendler.
“Temos um recorte sincero de um Brasil que faz cinema com muita bravura, diante das adversidades impostas ao setor pelo desmonte da cultura em âmbito nacional. Foram quase 700 filmes que se apresentaram às comissões de Seleção do Festival de Brasília. Isso demostra uma produtividade intensa num momento de crise. O Brasil por meio do cinema quer mostrar sua verdadeira cara, e o Festival de Brasília será sua vitrine”, diz Tendler.
Após duas semanas de avaliações, nas quais prevaleceram o bom senso, a troca de ideias e de impressões, o amor ao audiovisual nacional e muita sensibilidade em jogo, as três comissões de seleção escolheram os 30 filmes dos 698 que participarão da 53ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB), que será transmitido de 15 a 20 de dezembro pelo Canal Brasil e streaming Play Brasil.
Dos seis filmes selecionados para a Mostra Oficial de longa-metragem, cinco são documentários, dando vazão a homenagens viscerais ao cinema nacional e ao diálogo com figuras emblemáticas da cultura nacional.
Conheça os longas da Mostra Oficial:
Espero Que Esta Te Encontre e Que Esteja Bem
(Natara Ney, Documentário, PE/RJ/MS, 83 min)
Por Onde anda Makunaíma?
(Rodrigo Séllos, Documentário, RO, 84 min)
A Luz de Mario Carneiro
(Betse de Paula, Documentário, RJ, 73 min)
“Longe do Paraíso
(Orlando Senna, Ficção, BA, 106 min)
Entre Nós Talvez Estejam Multidões
(Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito, Documentário, MG/PE, 92 min)
Ivan, o TerríVel
(Mario Abbade, Documentário, RJ, 103min)
Presidente da Comissão de Seleção de longas, o cineasta e músico André Luiz Oliveira conta que foram levados em conta aspectos como o tradicional ineditismo e o atual panorama político, social e epidemiológico.
“Vivemos esse momento difícil tanto por conta da pandemia, quanto pela situação do audiovisual brasileiro que, a partir do atual governo federal, praticamente se encontra na UTI, com projetos estacionados”, reflete André Luiz Oliveira.
“Não existe mais recurso, não existe mais política de audiovisual, estamos em processo de destruição e renascimento, porque o cinema brasileiro já renasceu várias vezes e não é dessa vez que ele vai ser destruído”, aponta.
Os documentários vieram de regiões como Rio de Janeiro, Roraima, Mina Gerais (em coprodução com Pernambuco), Pernambuco (em parceria com Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul). O único representado do gênero ficção é baiano, “Longe do Paraíso”, dirigido por Orlando Senna, um ícone da velha guarda do cinema brasileiro. “É um cineasta muito combatente e importante para o cinema brasileiro”, contextualiza André Luiz Oliveira, referindo-se ao coautor de “Iracema – Uma Transa Amazônica”.
Dirigido pelo jornalista e crítico de cinema Mario Abbade, “Ivan, o TerríVel” debruça sobre a trajetória e obra de Ivan Cardoso, o inventor do subgênero brasileiro, “terrir”, famoso pela mistura irreverente de comédia com traços de chanchada, terror e suspense.
Em “Entre Nós Talvez Estejam Multidões”, a dupla Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito propõe uma jornada experimental na Comunidade Eliana Silva – assentamento urbano de Belo Horizonte -, a partir da perspectiva dos moradores ao longo da campanha presidencial de 2018.
Um lote de 110 cartas de amor trocadas por dois amantes nos anos 50, descobertos em Mato Grosso do Sul, é o ponto de partida para “Espero Que Esta Te Encontre e Que Esteja Bem”, de Natara Ney.
No documentário, “Por Onde Anda Makunaíma?”, Rodrigo Séllos promove o resgate histórico e cultural do célebre personagem imortalizado por Mário de Andrade na literatura modernista.
Uma das figuras mais respeitadas do cinema nacional, sempre lembrado por seus trabalhos como diretor de fotografia em clássicos do Cinema Novo, Mario Carneiro é destaque da homenagem “A Luz de Mario Carneiro”, de Betse de Paula.
Na única ficção do páreo, “Longe do Paraíso”, o jornalista e escritor, Orlando Senna, conta a história do pistoleiro Kim (Ícaro Bittencourt), que, jurado de morte após cometer grave erro na organização que trabalha, tem a chance de se redimir diante de missão quase impossível.
Para a Mostra Oficial de Curta, foram escolhidas 12 produções de 463 inscritos. São filmes que formam o expressivo e guerreiro mosaico do atual audiovisual no Brasil. “Foi um trabalho árduo em função do volume de filmes inscritos e do curto período de tempo”, conta o curta-metragista e presidente da Comissão de Seleção de Curtas do FBCB, Clementino Junior.
Conheça os curtas da Mostra Oficial:
À Beira do Planeta Mainha Soprou a Gente
(Bruna Barros e Bruna Castro, Documentário, BA, 13m18s)
Distopia
(Lilih Curi, Ficção, BA, 10m38s)
A Morte Branca do Feiticeiro Negro
(Rodrigo Ribeiro, Documentário, SC, 11mim)
Mãtãnãg, A Encantadora
(Shawara Maxakali e Charles Bicalho, Animação, MG, 14m)
Ouro Para o Bem do Brasil
(Gregory Baltz, RJ, Documentário, 17m24s)
“República
(Grace Passô, Ficção, SP, 15m30s)
Vitória
(Ricardo Alves Jr. Ficção, MG, 14m)
A Tradicional Família Brasileira KATU
(Rodrigo Sena, Documentário, RN, 25mim)
Pausa Para o Café
(Tamiris Tertuliano, Ficção, PR, 5mim)
Quanto Pesa
(Breno Nina, Ficção, MA, 23min)
Guardião dos Caminhos
(Milena Manfredini, Experimental, RJ, 3 mim)
(Matheus Faria e Enock Carvalho, Ficção, PE, 19m57s)
“Chegar à primeira lista foi tranquilo. O difícil foi a escolha dos 12 filmes representativos, pois poderiam ser inúmero recortes de seleção. Esse foi o consenso da Comissão de Curtas”, comenta Clementino.
Ao contrário da Mostra Oficial de Longas, na seleção dos filmes de curtas, o gênero ficção sobressaiu-se entre os filmes escolhidos pelos jurados. Foram seis produções, seguidas de quatro documentários, uma animação e um projeto experimental, o carioca, “Guardião dos Caminhos”, de Milena Manfredini.
“Buscamos apresentar, dentre o que nos encheu os olhos ao longo dessa maratona, um retrato brasileiro consciente, diverso na estética, no olhar e na voz, no chão e lugar de fala”, avalia Clementino Junior.
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