Bem-vindo, você está no Cineteatro do Parque
Recife volta a ter o cineteatro popular que já alimentou várias gerações e tornou-se um símbolo cultural
Por Luiz Joaquim | 05.12.2020 (sábado)
– acima, foto divulgação de Andréa Rego Barros/PCR
Um oásis arquitetônico e cultural incrustado no centro nervoso do Recife. Não estamos falando do Cinema São Luiz, sob gestão do governo do estado, mas sim do Cineteatro do Parque, administrado pela Prefeitura da Cidade do Recife (PCR). Neste dezembro de 2020, mesmo mês que completa dez anos de portas fechadas ao público, o espaço reabrirá em inauguração na sexta-feira (11) – sob os protocolos habituais de cuidados sanitários – com uma apresentação da Banda Sinfônica do Recife (BSR).
Dentro desse protocolo, a sala irá receber incialmente o máximo de 300 frequentadores por evento, a despeito de sua capacidade total de 803 pessoas- o que o torna a 2ª maior sala de cinema de Pernambuco (ficando atrás do São Luiz, com 1.050 lugares).
Nos dias seguintes à inauguração, sessões especiais do filme vencedor do 48o Festival de Gramado, King Kong en Asunción, de Camilo Cavalcante, serão projetadas nesta nova sala cinematográfica do Recife que, aos 105 anos (foi inaugurado em 24 de agosto de 1915 – entenda lendo aqui), apresenta-se ao recifense com uma excelência de balanço entre a sofisticação técnica e a tradição que marca sua estrutura original.
A reforma teve um preço. Foram mais de R$ 20 milhões que podem ser percebidos no que está sendo entregue à população. Em visita na tarde de ontem (4) ao espaço, o editor deste CinemaEscrito, Luiz Joaquim – acompanhado do programador do Cine São Luiz (Recife), Geraldo Pinho, da produtora Emilie Lesclaux, do cineasta Kleber Mendonça Filho, e do programador do Cinema da Fundação, Ernesto Barros – pôde apurar a dimensão do tesouro que será devolvido à população. População, a propósito, cuja geração atual entre os 15 e 25 anos de idade provavelmente nunca colocou os pés no número 81 da Rua do Hospício.
Para além da reforma infraestrutural do conjunto arquitetônico, com atualizações no sistema elétrico, de hidráulica, do ar-condicionado, incluindo dois gigantescos geradores nativos, um auditório para ensaios da BSR, do escritório administrativo, do depósito da Filmoteca Alberto Cavalcanti, e do jardim externo com novo projeto paisagístico (que ganhou um ambiente para eventos ao ar livre, já sendo carinhosamente chamado de ‘marcozerinho’), o novo Cineteatro do Parque passou por um minucioso trabalho de restauração.
Tal restauração, sob supervisão de Simone Osias, gerente do Gabinete de Projetos Especiais da PCR, coloca o Parque de volta àquilo que é o mais próximo que o Recife viu em 1929, quando o espaço sofreu sua primeira reforma, então sob a gestão do Grupo Severiano Ribeiro, que o modernizou para a chegada dos talkies, o cinema falado.
Este resgate de hoje inclui tornar visíveis os lindos painéis de Mário Nunes e Álvaro Amorim, datados de 1929, nas laterais da boca de cena do palco. As poltronas, ainda que acolchoadas e com cobertura mais agradável ao toque, mantêm cores sóbrias, próprias ao centenário cineteatro.
O CINEMA – Em conversa com Marcelino Dias, gestor do Cineteatro do Parque, confirmamos que a programação do cinema deverá funcionar nos moldes (de sucesso) que marcou a gestão anterior ao fechamento em 2010 – com agenda de exibições entre segunda e quarta-feira, ficando a pauta de quinta à domingo para as artes cênicas.
Nunca é demais registrar que o ‘molde de sucesso’ do passado, que tornou o Parque conhecido nacionalmente pelo seu alto percentual de ocupação, tinha um condimento especial dado pela mão de Geraldo Pinho [que neste 4 de dezembro, comemora 70 anos de vida]. Geraldo elaborava uma programação sofisticada e ao mesmo tempo popularmente atraente, assim como fazia um de seus antecessores no cargo, Celso Marconi. O CinemaEscrito ainda não tem a informação de quem ficará à frente desse trabalho na nova fase do espaço.
Seja quem for, terá a disposição um equipamento cultural em forma de tesouro para burilar sua programação cinematográfica. Não apenas em termos de localização geográfica, como também no que diz respeito a estrutura técnica.
Do ponto de visto tecnológico, o cinema vai operar com um projetor DCP de marca Christie, com resolução 4K. Pondera-se também ocupar, talvez no futuro, a cabine com o projetor analógico, 35mm, que hoje está parado no Cineteatro Apolo (também da PCR). Mas isso é uma outra história.
O novo projecionista do Parque, Pedro Berenguer, poderá operar o equipamento remotamente, por um monitor instalado no auditório, o que facilita ajustes a serem feitos na janela de projeção e no volume do som, entre outros.
Falando em som, 28 caixas acústicas circundam o auditório. As frontais (esquerda, central, direita), ao contrário dos habituais cinemas, não estão escondidas por trás da tela, mas sim no alto, acima dela, apontadas para a plateia. Além do subwoofer, no piso inferior estão as circundantes traseiras (três) e as laterais (nove na esquerda, cinco na direita). Na bancada superior, outras seis na esquerda e seis na direita.
Durante a visita de ontem, houve a projeção de dois trailers e a demonstração deixou claro que a calibragem está precisa, com som e imagem de excelência. A estrutura está, enfim, pronta para ser eleita como novo templo dos cinéfilos, dos amantes das artes cênicas e de fãs de shows musicais no Recife. Para tanto, a programação precisa fazer jus à estrutura e, pelo entusiasmo e empenho de Marcelino Dias, não deverá ser diferente.
Como um todo, o Cineteatro do Parque apresenta-se agora, por si mesmo, como uma peça de arte. Peça que será entregue à população. Espera-se que essa mesma população perceba o valor daquilo que é seu, e o tome realmente como o tesouro que ele é.
Como aperitivo, confira outras fotografias do novo Cineteatro do Parque.
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