Homem-Aranha 2 (2004)
Efeitos especiais e amor em sequência do aracnídeo
Por Luiz Joaquim | 04.05.2021 (terça-feira)
– texto orginalmente publicado na página 5 do caderno Programa do jornal Folha de Pernambuco, em 3 de julho de 2004 (sábado).
É curiosa a abordagem temática dessa continuação, Homem-aranha 2 (Spider-man 2, EUA, 2004) que estreou ontem, como um rolo compressor, em cerca de 600 cinemas brasileiros, ou seja, tomando 35% de todas as salas do País. Esta sequência, com o mesmo Sam Raimi que dirigiu o primeiro filme, dedica longa extensão de sua história à questões psicológicas de Peter Parker em detrimento da ação do herói aracnídeo. Se por um lado, essa opção torna o filme mais emocional e humanamente envolvente, por outro a ação ganha um tom menos determinante no contexto.
Isso não significa que as sequências de luta entre Aranha (Tobey Maguire) e o vilão da vez, Dr. Octopus (Alfred Molina, de Frida) sejam opacas. A plástica digitalizada do filme ganha mais consistência e consegue colocar o espectador no mesmo balanço do super-heroi, além de revelar os limites de seus superpoderes. A ideia de vincular a potencialidade do Aranha com as fragilidades da vida pessoal de Parker é aqui um trunfo.
Com uma revisão relâmpago do filme anterior nos créditos de abertura, Homem-aranha 2 mostra Parker em conflito com os rumos de sua vida pessoal. Vê suas notas ruírem na escola, observa seu amor secreto, Mary Jane (Kirsten Dunst), marcar casamento com um astronauta engomadinho, e sofre ao ver sua tia despejada de casa. Sem dinheiro, amor e conforto, Parker abandona o uniforme e a vida altruísta de herói para se dedicar a quem ama. Tudo vai por água abaixo quando o cientista Otto Octavius transforma-se na aberração Octopus: uma fusão homem-máquina com oito membros e força total.
O que move o vilão é apenas o desejo de continuar sua pesquisa e, cego para atingir o êxito, rapta Mary Jane a fim de descobrir de Parker como alcançar o Aranha. É quando Parker relembra que “poderes especiais, requerem responsabilidades especais” e volta a ativa para salvar a sua amada. Mas, os aspectos conflituosos e de eterno perdedor que marcam Parker nessa sequência dão uma nova textura ao personagem, provocando um novo estigma entre as fãs femininas; o de, segundo elas, o Aranha ser um herói “fofinho”. Homem-Aranha 2, enfim, ilustra bem como uma sequência pode servir para expandir nuances de seu protagonista, ao invés de apenas sugar a imagem anteriormente construída.
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