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Reportagens

Jeorge Pereira (1974-2021)

Uma luz intensa se apaga no audiovisual de Pernambuco

Por Luiz Joaquim | 10.05.2021 (segunda-feira)

O domingo deste Dias das Mães (9/5) foi um tanto melancólico em Pernambuco com a notícia que circulava sobre o falecimento de Jeorge Pereira (1974-2021). Hipertenso, Jeorge foi vítima de um infarto fulminante impedindo-o de continuar iluminando o cenário cinematográfico no Estado com seu talento, entusiasmo e generosidade.

Os que conviveram com Jeorge lembram imediatamente de seu sorriso, sua empolgação e perseverança quando o assunto era cinema, ou melhor, não havia outra alternativa para Jeorge que não fosse estar sempre ao lado da perseverança.

Como muitos apaixonados por cinema, Jeorge procurou aperfeiçoar seu conhecimento na universidade para uma formação no audiovisual, tendo concluído sua graduação em Cinema de Animação em 2011 no Centro Universitário Aeso Barros Melo (Uniaeso), em Olinda. Mas, antes, já havia estudado, por cinco anos, literatura.

Ainda num período anterior ao da atuação no cinema, prestava serviço para a ONG Rodas da liberdade, do franco-suíço Michel Penever. Ali, durante anos, trabalhou com a distribuição de cadeiras de roda para pessoas que perdiam a mobilidade por circunstância de algum acidente, ficando paraplégico ou tetraplégico.

Sendo ele próprio uma vítima da poliomielite no primeiro ano de sua vida, Jeorge encontrou no cinema uma das mais felizes formas de expressar seu lado criativo. Ainda no curso de cinema, conheceu uma turma de colegas e professores, como Marcelo Lordello e Pedro Severien, que viriam a ser tornar parceiros profissionais quando Jeorge passou a atuar no segmento.

Cena de “Organismo”

Membro da Associação Brasileira de Animação, Jeorge, em 2014 passou a integrar o Conselho Consultivo do Audiovisual de Pernambuco. Seu mais conhecido trabalho veio ao mundo em 2019, o longa-metragem Organismo.

Com Rômulo Braga e Bianca Joy no elenco, o filme contava a história do arquiteto Diego (Braga) que fica tetraplégico, perde a mãe e precisa repensar sua relação com a companheira. Organismo teve estreia em 17 salas de cinema espalhadas em 13 capitais do País, e em 2020 entrou no catálogo do Canal Brasil.

A família informa que o velório de Jeorge acontece no número 10 do principal do Cemitério de Santo Amaro (Recife), com o sepultamento às 14h de hoje (10/9) .

Jeorge Pereira, em foto de Sâmia Emericiano

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Em sua página no Instagram a diretoria da Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas de Pernambuco / Associação Pernambucana de Cineastas (ABD-Apeci) publicou a nota

A Diretoria da ABD-APECI vem a público lamentar profundamente o falecimento, ocorrido ontem, do nosso querido companheiro e associado Jeorge Pereira, aos 46 anos de idade. Roteirista e diretor de cinema talentosíssimo, incansável lutador pelas políticas públicas para o audiovisual e pelas pautas da acessibilidade, figura querida por todes pelo seu carisma, inteligência e ética.

Baiano de coração pernambucano, Jeorge trabalhou escrevendo para teatro e produziu um livro de contos intitulado “Letagonia”, publicado pela editora Elógica, antes de migrar para o audiovisual. Formou-se na primeira turma do curso de Cinema de Animação da Uniaeso, tendo sua trajetória universitária marcada pelo fortalecimento da produção de animação no Estado. Foi integrante da Associação Brasileira de Cinema de Animação – ABCA e articulador da Lei do Audiovisual de Pernambuco, aprovada em 2014.

Em 2019, lançou seu primeiro longa-metragem “Organismo”, produzido pela Inquieta Cine, e nos últimos anos colaborou em diversos projetos da cena audiovisual pernambucana, como roteirista, diretor e diretor assistente. Atualmente, trabalhava em seu segundo longa-metragem intitulado “ID”. Neste dia de luto, em meio aos tempos extremamente difíceis que vivemos com a pandemia e com os reiterados ataques feitos contra a cultura brasileira, reverenciamos o legado de criatividade, integridade e coragem que Jeorge nos deixa.

A amorosidade que ele expressava em todos os encontros, com sua alegria inabalável, seguirá sendo inspiração e motivo de orgulho e boas lembranças para todas as pessoas que tiveram a sorte de conhecê-lo. Nos solidarizamos com a sua família e suas tantas amizades, desejando que encontrem conforto para essa perda na memória dos momentos com Jeorge e na continuidade de sua esperança de um mundo melhor, mais inclusivo, democrático, livre e plural.

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Em sua página no Facebook, o realizador André Pinto compartilhou algumas palavras em nome do coletivo em que Jeorge era figura fundamental.

“Sentávamos todos juntos e colocávamos os papéis na mesa. Demorávamos para focar em nossos projetos, mas a conversa que iniciava a reunião era uma só: cinema, séries e quadrinhos. Nosso sonho era um dia fazer com que nossas ideias audiovisuais virassem discussões em todos os cantos do planeta. E cada nova louca história que caía na mesa era entremeada com aquela risada contagiante, numa nota só. Era Jeorge, o Pequeno Grande Artista. Se alguém da turma se perdia no enredo, Jeo segurava na mão e trazia de volta o sonhador. Mas não era de volta pra realidade. Era pra colocar em outro mundo de fantasia”

 Dos amigos e parceiros de sonhos:

 Henrique Spencer, Daniel Bandeira, Luiz Rodrigues, Andrea Cohim, Rafael de Almeida, André Pinto, Carlos Kamara, Marcello Trigo, André Farkatt e Luciano Bresdem.

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