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Reportagens

Morre Marlon Brando (2004)

Um dos atores mais conceituados de Hollywood faleceu aos 80 anos

Por Luiz Joaquim | 03.05.2021 (segunda-feira)

– texto originalmente publicado na capa do caderno Programa da Folha de Pernambuco em 3 de julho de 2004 (sábado).

Morre um dos mais controvertidos, introspectivos e venerados entre os astros gerados por Hollywood, Marlon Brando. Aos 80 anos, Brando faleceu às 0h dessa sexta-feira em um hospital de Los Angeles. Conseguindo um estilo próprio de interpretação, Brando era um filho pródigo do Actor’s studio – conhecida escola para atores de Nova Iorque. Muito antes de James Dean chamar a atenção em Juventude transviada (1955), Elia Kazan já havia apresentado a beleza e o talento de Brando em Um bonde chamado desejo (1951). A mescla de brutalidade e delicadeza com a qual o ator moldou o personagem criado por Tennessee Williams catapultou sua carreira.

Elevado imediatamente a categoria de deus da beleza no mainstream cinematográfico, Brando continuou construindo uma galeria de rebeldes com temperamento sanguíneo e beleza delicada. Foi assim em Viva Zapata! (1952) e em O selvagem (1953), onde estampa o figurino e o estilo que iria ditar a moda e a postura “rebelde sem causa” em todos os anos 1950. No filme, ele é um motoqueiro que chega a pequena cidade e perturba a paz medíocre da comunidade, ao mesmo tempo que faz a mocinha questionar sua postura revoltosa. É um clássico que teria reverberações até hoje (vide O selvagem da motocicleta de Francis Ford Coppola).

Em 1954, sua beleza brilhou mais forte em Sindicato de ladrões, cuja atuação rendeu uma estatueta do Oscar. Anos depois, em 1973, polemizou quando, no lugar de receber o prêmio de melhor ator por O poderoso chefão enviou uma índia (desconfia-se que se tratava de uma atriz) que fez um discurso contra a imagem do índio retransmitida por Hollywood. Sempre envolvido em questões política, Brando se envolveu naquele que é reconhecido como um dos mais sérios filmes políticos de todos os tempos: Queimada (1969) do italiano Gillo Pontecorvo, que havia dirigido A batalha de Argeu (1965), filme adorado por Brando.

Em 1972, Brando reascende a chama do símbolo sexual em O último tango em Paris (*), de Bernardo Bertolucci. Polêmico e perturbador, o filme deu respeito internacional ao diretor italiano ao mesmo tempo em que mostrava um Brando maduro e misterioso, em conflito com a moral e ética. Com sua parceira de interpretação, a francesa Maria Schneider, Brando escandalizou o mundo na famosa cena da manteiga entre outras tantas que O Último Tango… gerou. O filme teve sua projeção proibida por muitos anos em vários países, inclusive o Brasil (sendo só liberado em 1979).

No mesmo 1972, Brando faria uma parceria com Copolla em O Poderoso Chefão que marcaria sua carreira para sempre. A super-produção foi um tiro no escuro da Paramount, que acabou dando mais que certo. O jovem Copolla era então um jovem desconhecido e Brando, conhecido pelo seu temperamento arredio. Sua atuação rendeu-lhe mais uma indicação ao Oscar e o seu personagem aqui é uma das figuras talvez mais comicamente imitadas no show business. A partir de então, a estrela só aceitava participar de filmes através de contratos milionários.

Em Apocalipse now (1979), novamente com Coppola, o ator brinda o público com nuances de seu perturbador personagem, um espécie de síntese do filme. Surgindo sob uma penumbra (recurso que Coppola encontrou para esconder o volume físico do ator). Brando reforçava ainda mais a aura misteriosa que cercava o mito por trás do ator.

Nos anos 1990 Brando vinha participando de comédias românticas, como Don Juan DeMarco (1995)  e policiais mostrando despudoramente seu corpo bem acima do peso. No último trabalho, A cartada final (2001) de Frank Oz, contracenou com Robert DeNiro e Edward Norton sendo lembrado pela produção como um encrenqueiro. Mas Marlon Brando parte como uma lenda da melhor combinação entre talento e beleza masculina que o cinema norte-americano já criou.

(*) Nota do autor: Este texto foi escrito antes das declarações da atriz Maria Schneider virem a público em 2007 sobre ter sofrido estupro no set de filmagens de O último tango em Paris. Para ler a respeito, clique aqui.

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