Os 1970s que Amamos (#18)
A Louca Escapada (Sugarland Express, 1973)
Por André Dib | 22.05.2021 (sábado)
Talvez o filme mais melancólico de Spielberg. Goldie Hawn, em um papel fora de seu habitual, é Lou Jean, mãe que perde a guarda do filho e é capaz de arriscar a própria vida para tê-lo de volta. Junto com o namorado (William Atherton) Lou Jean sequestra um policial, transformando a busca pelo filho numa caçada organizada pela polícia local nas estradas do Texas.
Parecia mais um road-movie seguindo a onda de tantos outros lançados nos 1970, mas Spielberg consegue transformar o olhar particular sobre o casal protagonista em um espetáculo cinematográfico único.
Vilmos Zsigmond e Spielberg sentavam todos os dias no set antes de filmar para “ajustar” a ordem do dia, e muitas das soluções criativas saíram dali. Uma delas foi de fazer um plano sequência através de uma pan em 360°, focando no diálogo de três personagens… dentro de um carro, e a outra uma conversa captada através de rádio mostrando dois personagens em primeiro plano e um terceiro personagem em segundo plano…usando dois carros em movimento, separados e emparelhados. O filme foi também o primeiro da história do cinema a usar a Panaflex. Nenhum dos planos aqui demonstrados jamais foram produzidos antes, dando um ponto de vista inédito sobre a história. O interior dos carros de A louca escapada pareciam enormes cenários onde todo tipo de movimentação de câmera era possível.
O filme também marca a iluminada parceria entre Spielberg e John Williams, que renderia hinos icônicos do cinema. Curiosamente, John Williams diria mais tarde que não se sentiu satisfeito com o resultado musical (já discordando do mestre, é uma das mais belas) e, depois de 47 anos, a trilha sonora continua sem lançamento em disco, cassete ou vinil, e só poderá ser liberada depois da morte do compositor.
O filme é prova de que o diretor não é de escolher apenas finais fáceis e felizes. A personagem determinada de Lou Jean também é uma figura trágica, cuja explosão de fúria na cena final até hoje deixa um gosto amargo para quem assiste.
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