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Os 1970s que Amamos (#28)

Os Olhos de Laura Mars (Eyes of Laura Mars, 1978)

Por André Pinto | 06.05.2021 (quinta-feira)

Quando a Nova Hollywood já dava seus suspiros finais, John Carpenter finalmente experimentava sua primeira “desventura” com os grandes estúdios. O jovem diretor ofereceu à Columbia um roteiro que era uma mistura atraente de suspense a lá Hitchcock com os famosos giallos que explodiam na Europa (o tipo de mistura cara à Brian de Palma). Mas o texto, que se chamava originalmente de EYES, sofre intensas alterações. O estúdio, O produtor Jon Peters (que constantemente provocava brigas nos bastidores) e Irvin Kershner, o diretor (um e seus trabalhos mais célebres é o Império contra-ataca) reviraram o trabalho de Carpenter pelo avesso. Não se sabe o que sobrou do tratamento original. Barbra Streisand havia sido escalada para o papel principal, mas se desligou da produção, deixando gravada a música-tema Prisoner (era costume da atriz-cantora fazer os temas de filmes que estrelava). Entra para fazer o papel Faye Dunaway, a musa dos 1970, a figura feminina por excelência da nova Hollywood.

Laura Mars (Dunaway) é uma famosa fotógrafa de moda de Nova York que passa a ter visões chocantes de assassinatos. Ela passa a enxergar os crimes pelos olhos do assassino. Ao perceber essa “conexão voyeristica” com o serial killer, Mars toma a iniciativa de descobrir a identidade do criminoso, mas seus relatos são vistos como delírios, e apenas um dos investigadores do caso, John Neville ( Tommy Lee Jones) parece confiar nos instintos da fotógrafa. Os dois se apaixonam.

Campanha inovadora da Columbia: o rosto de Faye Dunaway apareceria por completo nos cartazes às vésperas do lançamento comercial do filme

Nas minhas segundas impressões sobre o filme, percebo que a direção de Kershner continua burocrática. Por vezes a trama estaciona, explorando a datada estética setentona (inevitável, visto que a protagonista é fotógrafa de moda). A obra é uma cápsula do tempo de maquiagem, música, roupas, penteados e atitudes no ocaso da era Disco). Entretanto a premissa continua fascinante, e ainda funciona. Laura Mars transfere para sua arte visões perturbadoras de crimes regados à sexo e violência. Mulheres fatais seminuas empunhando armas, juntamente com corpos de homens deitados, encharcados de sangue. Quando as visões surgem pelos olhos de Mars, a tortura é eficiente: em determinado momento, a trama alcança níveis sádicos, fazendo com que a fotógrafa passe a enxergar as mortes violentas dos amigos que ela mais ama. De testemunha ela passa a ser cúmplice dos assassinatos. Dunaway, apesar de ser conhecida em Hollywood como uma profissional difícil, sustenta lindamente um filme que poderia ser um pastiche de um thriller. A mensagem de que a violência é banalizada pela mídia está lá, mas se dilui.

Hoje,  apesar de todos os atropelos, e por ter divido a crítica na época, continua sendo uma obra por vezes elegante e estilosa. É filme cult que merece ser revisto, de preferência em bluray, que recuperou boa parte do brilho e estética mutilado pelas exibições na tevê aberta nos 1980.

Quanto à John Carpenter, ele superou o trauma de ter sua obra dilapidada e partiu pra produzir um filme a partir de outro roteiro com controle criativo total: Halloween, que se tornou um dos filmes independentes mais lucrativos do cinema.

Para ler mais, em texto de Luiz Joaquim, sobre Os olhos de Laura Mars, clique aqui.

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