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Os 1970s que Amamos (#8)

A Vingança de Ulzana (Ulzana’s Raid, 1972)

Por André Pinto | 03.05.2021 (segunda-feira)

O faroeste revisionista de Robert Aldrich provocou polêmica ao retratar os apaches como seres implacáveis e sanguinários… mas em se tratando do histórico do realizador, o lance é muito mais complexo.

Temos um líder apache, o Ulzana do título, formando um grupo revoltoso que abandona a reserva e passa a tocar o terror entre os colonos brancos do Arizona.

Surge um destacamento do exército pra resolver a situação e garantir a segurança dos territórios ocupados. O chefe do grupo é o tenente Garnett (Bruce Davidson em início de carreira), um jovem obstinado que se choca com a violência dos índios e passa a perseguir os revoltosos com sede de sangue.

Junta-se à equipe o veterano caçador e conhecedor das artimanhas de guerrilha dos Apaches, McIntosh (Burt Lancaster, antigo parceiro de Aldrich no cinema) e um Apache colaborador dos soldados, Ke-Ni-Tay (Jorge Luke).

É através dos conflitos entre esses três personagens que o roteiro desvela a complexidade e motivação da matança perpetrada pelos Apaches. Numa bela discussão entre Garnett e Ke-Ni-Tay, é explicada a busca de Ulzana para ter poder e se sentir vivo. Algo relacionado à natureza de se obter ou sugar o calor e vitalidade, de absorver a alma do oponente, como um cerimonial ancestral de perpetuação de poder.

E, mais uma vez, o filme mostra visualmente a atmosfera de desencanto dos anos 1970. O glamoroso faroeste hollywoodiano não existe mais. Agora o deserto é brutal e inclemente. A crueldade apache chega a ser excessiva, a ponto de mostrar apunhalamentos, mutilações, resultados de torturas que lembram até Seven: Os sete crimes capitais, só que mais de 40 anos antes. Uma vítima tem sua barriga rasgada e seus intestinos retirados de forma explícita em uma das cenas, o gore em um faroeste mainstream é inédito aqui. É os anos 1970, baby, lide com isso.

Por mais ênfase que exista na vilanização do indígena americano, questionável até, Aldrich ainda permite uma reflexão que remonta ao período em que toda uma nação indígena foi aniquilada impiedosamente pelo homem branco, quando o veterano McIntosh explica ao verde Garnett: “Se você se sente chocado com que os apaches podem fazer com suas vítimas, não ficaria mais chocado ainda em ver que certos cristãos tementes a Deus são capazes de fazer a mesma coisa?”.

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