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Festivais

10º Olhar (2021) – O Protetor Irmão

A angústia da invisibilidade infantil

Por Luiz Joaquim | 14.10.2021 (quinta-feira)

O protetor do irmão (Brother’s Keeper, Tur./Rom., 2021) é um dos fortes candidatos da competitiva do 10º Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba, que encerra hoje (14) em sua segunda edição on-line, com acesso aos (belos) filmes pela bagatela de R$ 5.

Dirigido pelo turco Ferit Karahan, o filme chegou ao Olhar com o carimbo do Festival de Berlim, tendo recebido por lá o prêmio da crítica (Fipresci), quando exibiu pela mostra Panorama. Não à toa, o filme chamou a atenção do festival alemão – reconhecido em seu interesse pelas pautas políticas mundiais -, pela aparência de denúncia que O protetor do irmão traz consigo.

O ambiente é um internato infantil no leste da Turquia, numa região da Anatólia, que toca a educação de meninos curdos, ali pelos seus 10, 12 anos de idade, a mão de ferro. Melhor dizer que não se trata de educação aqui, mas de um disciplina com grau de rigidez assustadora e, logicamente, equivocada. Fruto de um histórico preconceito opressor na região.

É o que acontece já primeiros minutos da exibição, com Yusuf (Samet Yildiz) testemunhando no banho noturno dos garotos, um castigo desproporcional contra o amigo Memo (Nurullah Alaca). No tal castigo, Memo, e outros garotos, são obrigados a tomar banho frio. Com o detalhe que internato é localizado num lugar desértico e isolado, com um inverno rigoroso caindo lá fora, sob a temperatura de 30 graus negativos, e acumulando neve com até 50 centímetros de altura.

Com Memo amanhecendo enjoado, vomitando e vindo a ficar inconsciente, o que acompanhamos na sequência é a via crucis de Yusuf para tentar ganhar a atenção dos professores de modo a acudir o seu amigo.

Karahan conduz toda a primeira parte de seu filme pela perspectiva dos garotos, quase como uma câmera dos Irmãos Dardenne, nos mostrando tudo sob os ombros de Yusuf, o que só reforça nos espectadores a angústia de não ser ouvido e desprezado pelos adultos autoritários.

Num segundo momento do filme, a câmera sobe e agora estamos lado a lado dos professores – incluído o diretor do internato – com a responsabilidade de todos eles sendo descascada, ainda que nenhum deles assuma a culpa pelo abuso criminoso sofrido por Memo.

O professer Selim (Ekin Koç) tenta correr atrás do prejuízo sob os olhos de Yusuf

Sobre a angústia da invisibilidade vivida por Yusuf, há, numa situação específica, a representação simbólica que é perfeita do descaso dos adultos daquele internato com o que realmente importa (as crianças, sua educação e a sua segurança). O ambulatório do internato, sob os cuidados de um aluno mais velho (e não de um técnico em saúde), tem na soleira de entrada um piso escorregadio em função do acúmulo de neve do lado de fora. Todos, invariavelmente, entram no ambiente escorregando feio. A providência, aqui, só é realmente tomada quando sabemos que alguém torceu o tornozelo num desses escorregões.

Para além da tensão fílmica proposta no enredo em termos de encontrar um socorro médico para Memo naquele fim de mundo, com a comunicação igualmente precária por falta de sinal telefônico, O protetor irmão também funciona competentemente, em termos dramatúrgicos, como um valioso registro da infância perdida pelas crianças curdas da região.

Numa das sequências mais duras (e elas são muitas aqui), Yusuf dá uma escapada com o telefone celular de um colega e, bem escondido, telefona para a mãe. Solitário e choroso, mal consegue compartilhar com ela as dificuldades para tentar salvar o amigo. O que escuta é a recomendação dela para que se comporte na escola, pois ele carrega também (ela deixa claro) o fardo de ser a possível e única salvação (pela educação) de sua numerosa família. E Yusuf, lembramos, é um garoto com não mais que 12 anos de idade. Não é simples.

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