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Festivais

45ª Mostra SP (2021) – Irmandade

Melhores amigas para sempre

Por Luiz Joaquim | 26.10.2021 (terça-feira)

Entre as centenas de filmes ofertados pela 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é possível fazer interconexões estéticas e/ou temáticas da mais variadas possíveis. Resolvemos destacar aqui três títulos forte – cada um a seu modo – protagonizado por mulheres em seu limite, e tendo o sexo como um elemento preponderante em cada trama. São eles Má sorte no sexo ou pornô amadorIrmandade e Coisas verdadeiras.

Importante dizer que, apesar dessa preponderância, os três filmes estão menos interessados no sexo, e mais curiosos sobre o seu efeito nessas mulheres, aqui mostradas como originalmente frágeis, mas fortes na hora certa para a decisão.

Irmandade (Sestri, Rep. Tcheca/Maced./Kos, 2021), de Dina Duma.

Este é um pequeno conto sobre o horror que pode ser a experiência da adolescência e, conforme a diretora da Macedônia, Dina Duna (em seu primeiro longa-metragem), é um horror reconhecível nas apenas nos países notadamente ocidentais, mas também naqueles da região balcã europeia.

Ali entre os 14 e 16 anos de idade, as inseparáveis amigas Maya e Jana (Antonia Belazelkoska e Mia Girauld, respectivamente) estudam e treinam natação juntas. Com a intenção de ajudar a tímida Maya, a extrovertida Jana arranja para que, numa festa, a amiga finalmente fique com o mais popular garoto da escola. As coisas não dão muito certo e só piora quando Elena (Marija Jancevska) entra em cena, aguçando o ciúme de Maya que, atiçada por Jana, irá se vingar de Elena com um ato que vai reverberar eternamente na vida de todos os envolvidos.

Girauld e Belazelkoska

Nesse incômodo filme (no bom sentido), a diretora Duna reforçar o quão desigual são as reações e os efeitos sociais nascidos a partir uma mesma situação para quando o sujeito é um garoto e para quanto o sujeito é uma garota. O foco principal aqui, entretanto, joga luz sobre a fragilidade da formação de um jovem quando ele ou ela está sob o domínio de outro jovem, seja qual for sua orientação sexual. A questão aqui é o caráter.

No filme, como num pesadelo regido pelas redes sociais, a vida de Maya – e de todas as colegas do colégio – não pode fugir de um padrão esperado para as meninas, e de um padrão esperado para os meninos. Algo injusto que vai resultar num acidente perturbador, cuja consequência a direção de Duna soube aproveitar bastante bem, incorporado aqui na contida agonia de Maya. E com ela seguimos juntos até o final do filme.

Há, porém, uma porta na história que, apesar de aberta, não foi bem explorada em Irmandade. Trata-se da relação de Maya com seu pai, que deixou a mãe da adolescente para viver com uma segunda esposa, estando esta no início de uma gestação. Numa sequência econômica e eficiente, dentro de um carro, Irmandade mostra a confusão na cabeça de Maya, atrelando a repulsa pelo ex-paquera ao próprio pai. A confusão na cabeça na menina já está formada com relação ao sexo, e o nó só aumenta para esse filme sem final feliz, que ganhou o prêmio especial do júri no festival de Karlovy Vary neste 2021.

Leia também sobre:

Má sorte no sexo ou pornô amador (Babardeala cu Bucluc Sal Porno, Rom./ Rep. Tcheca/Luxemb./Croa., 2021), de Radu Jude. (clique aqui)

Coisas verdadeiras (True Things, GB, 2021), de Harry Wootliff (clique aqui)

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