Moonfall: Ameaça Lunar
Houston, we have an evil moon
Por Luiz Joaquim | 04.02.2022 (sexta-feira)
A fórmula é antiga e Rolland Emmerich é um de seus mais bem-$ucedidos propagadores. Pega-se um punhado de drama familiar, e se as relações forem disfuncionais com direito à redenção, melhor; coloca-se a pitada da presença de um nerd, que sempre ouviu ser xingado de looser para depois apresentá-lo como o verdadeiro herói de todos nós; e recheia-se a receita com uma tonelada de efeitos CGI mostrando o fim do mundo para termos mais um elemento formador do parque de diversão visual que também lançou Independece Day (1996 e 2016), O dia depois de amanhã (2004) e 2012 (2009).
Isso só para ficar em alguns dos espetáculos ocos e milionários que Emmerich pariu para o mundo.
No novo (novo?) Moonfall: ameaça lunar (Moonfall, EUA, 2022) a palavra ‘oco’, a propósito, é valiosa pois ela remete a um fato comprovado, ocorrido em novembro de 1969, quando a missão Apollo 12 provocou a colisão de uma peça de 2,5 toneladas na Lua e, para a surpresa de todos, o satélite natural da Terra ressoou como um sino por quase uma hora.
A expressão “satélite natural” é o que está em jogo no enredo, e o nerd da vez, o rechonchudinho e simpático KC (John Bradlay) é o responsável por, no enredo, provocar a imaginação do espectador.
Além do assunto sobre a reverberação da Lua, que ele fala para uma plateia de criancinhas que visitam a NASA (e para as criancinhas no auditório do cinema), KC também lembra que, nos anos 1960, o deus Carl Sagan já dizia que um satélite natural não poderia ser oco.
O que leva à ideia de que: se não é natural só poderia ser uma megaestrutura construída por uma inteligência extra-terrestre.
Pela ótica da ciência, as afirmativas não podem ser tão taxativas assim, mas estamos falando da ciência hollywoodiana e, para esta, o superficial é o suficiente para criar situações limítrofes com o objetivo de deixar o espectador pensando: “agora não dá mais… ele não vai conseguir sair dessa”.
Uma coisa pode ser dita aqui: Roland Emmerich é esperto na montagem de sua montanha-russa de emoções, pondo vítimas e desacreditados ou desvalidos no lugar de heróis. De bobos da vez, eles passam a serem os únicos possíveis de salvar a Terra da destruição (mais uma vez, promovida pelos ETs do mal). Como não simpatizar com eles?
Aqui, a iminência da Terra acabar está no impacto que receberá da Lua. Ela começou a sair de sua órbita após bilhões de anos circundando a Terra. Um acidente envolvendo a tripulação de uma aeronave espacial, numa missão em 2011, já dava a pista de que algo estava errado, mas é claro que as autoridades renegaram o depoimento da única pessoa que testemunhou o evento, o astronauta Brian (Patrick Wilson).
Veja esta sequência no clip abaixo
Como muitos devem saber, a aproximação da Lua causaria uma série de mudanças climáticas na Terra. E na velocidade de aproximação que o filme sugere, os efeitos seriam catastróficos.
E é exatamente isso que interessa a Emmerich: o apocalipse, para, por ele, apresentar os seus heróis. Curioso é também observar algo que já iniciou há mais de uma década em Hollywood, considerando o mercado exibidor Chinês: constatar a presença de orientais no elenco, que, mesmo com papeis discretos, têm seu destaque em situações definidoras.
O merchandising é também uma já bem azeitadas ação em filmes dessa natureza, que, aqui, inclui uma perseguição de carros enquanto tudo é destruído pela alteração da gravidade na Terra. O espetáculo, que lembra um videogame fora do nosso comando, é a vitrine para o lançamento do carro Lexus NX (veja aqui), assim como, por exemplo, foi a bobadagem chamada Batman VS Superman: A origem da justiça servindo de vitrine para o lançamento do Renegade, da JEEP. Não recorda? Veja aqui.
Mas Moonfall corre tanto em sua narrativa quanto o carro que propagandeia para pular logo para as aventuras dos dois heróis desacreditados da vez – KC e Brian – em salvar a Planeta.
E sobre essa aventura, se o espectador estiver com o espírito de um adolescente ao ir assistir as presepadas dessa dupla na Lua – acompanhados da personagem de Halle Barry, como a motherfucker da NASA -, é provável que o seu contentamento seja alcançado.
Do ponto de vista humano, ou familiar, vale observar o ensejo do filme no sagrado quando o assunto é o amor paterno/materno pelos filhos, e vice-versa; mas Moonfall parece não acreditar no casamento, apenas no divórcio.
A julgar pelo entusiasmo dos influencers ao final da sessão cabine dedicada à divulgação do filme (antes conhecida como ‘cabine de imprensa’), quando quase todos eles pareciam ter acabado de testemunhar um novo Ben-hur ou um novo 2001: Uma odisseia no espaço, essa nova montanha-russa do Emmerich deverá fazer um bom dinheiro.
P.S. – E já que já falamos em Carl Sagan, não custa também lembrar que Moonfall , em sua solução final no contato com os ETs, pegou carona na solução final de Contato, romance do cientista que virou um belo filme pelas mãos de Robert Zemeckis em 1997.
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