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Festivais

Roterdã, IFFR (2022) – The Cloud Messenger

Mostra Tiger Competition

Por Marcelo Ikeda | 16.02.2022 (quarta-feira)

Se a Tiger Competition em geral abriga filmes de vocação independente, com uma produção pequena, como o caseiro mexicano Malintzin 17, nos causa inicialmente um certo espanto um filme como Meghdoot (The cloud messenger) na competição principal, especialmente tendo em vista as diferenças desse filme em relação a Pebbles (Pedregulhos), o filme indiano exibido na Tiger no ano anterior e que acabou levando o prêmio principal da competição.

Enquanto Pedregulhos mostrava uma Índia rural, por meio da relação brutalizada entre um pai e um filho, Meghdoot já apresenta valores mais associados às imagens tradicionais que nós, estrangeiros, temos da cultura indiana. Meghdoot é um coming-of-age, passado em um rígido colégio interno no interior da Índia, onde um jovem estudante rebelde se transforma pelo amor por uma estudante, e tem, de alguma forma, que superar uma maldição em torno dessa jovem. Ou seja, por um lado, o filme é um ingênuo despertar do amor entre dois jovens colegiais, com aspectos de romance juvenil. De outro, os aspectos místicos da cultura indiana são expressos por essas divindades cujas aparições deslocam o filme de seu eixo mais propriamente realista, inserindo uma camada fantástica. No entanto, o entrelaçamento entre esses dois aspectos ocorre por uma narrativa bastante convencional, um tanto engessada. O aspecto místico parece surgir como uma camada de mero exotismo que busca despertar o interesse do espectador estrangeiro, mas sem um mergulho mais profundo nas raízes ancestrais da cultura local. Ainda, os conflitos do filme (o jovem rebelde contra uma instituição autoritária) são desenvolvidos de forma superficial e romantizada, mantendo sempre o filme num “feeling good” da construção de uma identidade própria desse coming-of-age. Assim, desperto a atenção para o lado um tanto conservador desse filme indiano. Basta comparar a estrutura material das duas escolas em Meghdoot e Pebbles para perceber de que lado cada um dos dois filmes está. As diferenças não se manifestam apenas nos seus respectivos modos de produção, mas em uma questão ética, em incorporar a crise como motor da narrativa. Ainda que eu tenha problematizado Pebbles por outros aspectos, relacionados a uma certa espetacularização da barbárie como estratégia de choque, sua proposta está mais próxima do cinema de independente de invenção do que do superficialmente belo mas convencional Meghdoot.

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