Mar de Dentro
O antiglamour da maternidade
Por Luiz Joaquim | 06.04.2022 (quarta-feira)
Mar de dentro (Bra., 2020), estreia de Dainara Toffoli num longa-metragem, é finalmente lançado nas salas de cinema do Brasil (no Recife estará em cartaz no Cinema São Luiz amanhã, dia 7). É por ele também que Mônica Iozzi brilha com mais intensidade como uma atriz.
Na verdade, se há algo de muito valor aqui é a presença forte de Iozzi na tela, compondo uma personagem firme em sua integridade. Integridade não em termos morais (moralismo ou amoralismo não está em debate no filme, o foco é a maternidade), mas integridade em termos de coesão, de coerência na composição dessa mulher que irá descobrir-se mãe à força.
O enredo é simples: Manuela (Iozzi), publicitária em ascensão, fica grávida acidentalmente do namorado Beto (Rafael Losso). Ele quer, ela, não. Até que, juntos, decidem seguir adiante com a gravidez. No entanto, um contexto particular irá impedir que Beto acompanhe Manuela nessa nova fase do casal.
O que se segue é a relação de Manuela com o próprio corpo e a igualmente dura tarefa de equilibrar o trabalho, aqui no caso tão amado, com a incontornável missão de cuidar (bem) da cria, o bebê Joaquim, particularmente tão necessitado da mãe nos primeiros meses.
A direção de Toffoli é tão discreta quanto interessante. Parece mesmo possuir uma consciência de que o mais acertado é disponibilizar todos os espaços do enredo para Iozzi assumi-los com a segurança que apresenta aqui. É um belo personagem para uma atriz apresentar o seu talento, e a protagonista de Mar de dentro agarra a oportunidade com competência.
A maioria dos marmanjos, muito provavelmente, não irá acessar sutilezas próprias da maternidade aqui desenhadas (a incômoda massagem no peito ‘pedrado’, durante o banho, por exemplo), e podem até confundir o ritmo mais moderado na segunda metade do filme como um problema.
Mas aquilo que assim possa se apresentar é nada mais do que a desglamourização da maternidade. Nesse sentido, há uma honestidade comovente por parte de Toffoli, mais do que isso, há uma coragem em procurar dar ritmo dramático a algo repetitivo e, por isso mesmo, cansativo.
Na tomada final, um enquadramento simples e inteligente resolve, pela presença do mar, a reconciliação entre a mãe e o seu bebê, ou, melhor dizendo, resolve o retorno da simbiose que nunca deveria ser interrompida entre aqueles dois corpos.
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