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Críticas

Paris, 13º Distrito

Caminhos e descaminhos do sexo, da solidão e do amor, desta vez intermediados por telas digitais.

Por Luiz Joaquim | 28.04.2022 (quinta-feira)

– na still acima,  Noémie Merlant como Nora e o ator Makita Samba como Camille 

Dono de uma Palma de Ouro (pelo incerto Deephan: O refúgio, 2015) e de um Grande Prêmio do Júri em Cannes 2009 (pelo muito bom O Profeta), o parisiense Jacques Audiard tem o seu Paris, 13º Distrito (Les Olympiades, Fra., 2021) entrando em cartaz hoje no Brasil – na verdade apenas nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife. Na capital pernambucana o filme pode ser visto no Cinema São Luiz.

Desta vez, em Cannes 2021, Les Olympiades levou o discreto prêmio de melhor trilha sonora. O título original não faria muito sentido se fosse mantido em seu lançamento no Brasil. Refere-se ao bairro parisiense conhecido pela sua efervescência cultural e multiplicidades de habitantes com origens étnicas diversas.

Em resumo, o enredo (adaptado de um conto) nos apresenta ao bairro por três personagens imbricados em suas buscas por algum sentido maior na vida. Mas pode-se dizer que o percurso que o filme traça caminha por três questões caras ao cinema francês: o sexo, a solidão e o amor. Nessa sequência.

Paris, 13º Distrito é, nesse aspecto, bastante francês ao estabelecer esse tripé como razão existencial. O trio protagonista é formado pelo professor universitário Camille (o ator Makita Samba), que vai alugar o quarto no apartamento de Émilie (Lucie Zhang) e acaba se envolvendo sexualmente com ela. A relação, entretanto, é apenas casual, para o incômodo da jovem que se apaixona por ele.

Camille, na verdade, vai se encantar pela interiorana Nora (Noémie Merlant, do ótimo Retrato de uma jovem em chamas), que vem morar em Paris para esquecer um trauma amoroso e estudar Direito. Uma confusão de identidade entre Nora e a callgirl Amber Sweet (Jehnny Beth) mudam os planos de vida da primeira, tanto profissional quanto sentimentalmente.

Jehnny Beth na pele da callgirl Amber Sweet

Como na Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade, aqui Émilie amava Camille que amava Nora que vai se descobrir amando Amber Sweet.

Audiard costura as dores e alegrias do trio principal por um roteiro de esmero, apresentado num preto e branco seco (fotografado por Paul Guilhaume), como quem apresenta pessoas perdidas em suas relações sempre intermediadas por algum aplicativo digital.

Paris, 13º distrito parece querer colocar esse modo de vivência em questão, não de modo depreciativo, mas apenas ressaltando o quanto ainda mais delicado e complicado pode ser as relações assim mediadas.

A forma como se dá a reviravolta na vida de Nora, envolvendo-se com Amber Sweet, parece ser o mais interessante aqui, mas, ao mesmo tempo, Paris, 13º distrito tem em Lucie Zhang uma força da natureza, como se diz, no campo da interpretação. A presença da atriz, de origem asiática, é dominante no todo no quadro, quando em cena. Mas o afrodescendente Makita Samba também não fica atrás e vive um dos momentos mais tocantes na história.

Ao centro, a atriz Lucie Zhang

Aquilo que seria secundário, e aí está a beleza de filmes bem cuidados, ganha importância na hora certa, e de maneira discreta, mas incontornável naquilo que representa.

No caso, sabemos que Makita colocou a cadeira de rodas da falecida mãe para vender. Numa situação bastante casual, quando uma interessada aparece para comprá-la, ele finalmente desaba de sua postura altiva e é ali que finalmente o entendemos também como uma pessoa frágil.

Não há diálogo. É apenas o cinema falando bem.

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