Superman: O Retorno
Por que o cinema precisa de Superman?
Por Luiz Joaquim | 19.05.2022 (quinta-feira)
– texto originalmente publicado no jornal Folha de Pernambuco em 14 de julho de 2006
Vai soar fraco escrever aqui o chavão “uma das mais esperadas estréias do ano” , mas parece ser o mais apropriado a dizer sobre “Superman: O Retorno” (Superman Returns, EUA, 2006). Por que? Porque, gostando ou não de cinema, desde 1938, quando foi criado pelos quadrinistas Joe Shuster e Jerry Siegela, a figura alada, de capa vermelha, que vagueia pelo céu velando pela humanidade, vem mexendo com o imaginário de todos que já tiveram algum tipo de contato com o universo pop.
Some-se a isso o megassuceso de “Super-Homem: O Filme” em 1978, quando Christopher Reeve (1952-2004) iniciou uma competente franquia encarnando o rosto do herói por mais três seqüências, até 1987. O filme foi o primeiro que deu um status mundialmente nobre a um super-herói. Isso significa, que pelo encantamento do audiovisual (a mais influente entre os jovens), hoje temos três gerações (duas vendo-o pelo cinema e um terceira vendo-o pela TV) que cresceram respeitando e admirando os exemplos de justiça e ética do Homem de Aço.
Só por esses argumentos, pode-se afirmar, sem medo, que está nova versão, dirigida por Bryan Singer (de “X-Men” 1 e 2), era muito esperada. E com apreensão. Afinal, era numa entidade de 68 anos, representando a justiça e uma inflexível dignidade, que a Warner Bros estava remexendo. A boa notícia é que o resultado deve agradar não só aos fãs do personagem, mas também àquele espectador mais exigente, que hoje sente falta de filmes equilibrados na dosagem entre a ação e a reflexão, e num ritmo narrativo mais clássico do cinema, ou seja, numa velocidade menos “televisiva” habitual em boa parte de filmes de super-heróis.
Desde a abertura, com os créditos remetendo ao filme de 1978, e utilizando a popular trilha sonora de John Williams, “O Retorno” foi esteticamente desenhado e composto como um filme clássico. Não abusa dos efeitos especiais e dá espaço digno para questões humanas. Há, inclusive, um novo ingrediente dramático sobre paternidade que dá um estofo de maturidade à produção (assim como a opção pelo clássico na estética).
As próprias palavras ditas por Jor-El (um virtual Marlon Brando, como o pai de Superman, em imagem e som aproveitados de 1978) reforçam o tom divino que a paternidade carrega. E pode-se dizer que a experiência da paternidade mostra-se aqui numa expressão cristã. Não só nas palavras de Jor-El, quando diz que enviou seu único filho à Terra para iluminar os humanos, que possuem, acima de tudo, a capacidade para serem bons. mas não têm quem os guie. Superman também remete à imagem de Cristo quando, num esforço para salvar bilhões de pessoas, leva uma ‘ilha’ de cristal e kryptonita para o espaço, pondo em risco a própria vida. A imagem de sua queda, de tão bela, imprime para sempre na história do cinema, uma nova referência visual para o martírio da crucificação.
Sem dedicar muito espaço para a origem do homem de aço, “O Retorno” concentra seu enredo na volta do herói (Brandon Routh), cinco após seu longo desaparecimento, contra a violência e injustiça na cidade de Metrópoles. Melhor ainda, num rápido registro de reportagem pelos monitores do jornal Planeta Diário – onde trabalha o tímido Clark Kent, alter-ego do herói – vemos Superman agindo na França, Alemanha, Itália e em outros países, dando a dimensão mundial que o Super merece.
Paralelo a esse contexto, temos Lex Luther (Kevin Spacey) , livre da prisão e dedicando-se a criar um império a partir de segredos tecnológicos do próprio Superman. Lois Lane (Kate Boswoth), o amor secreto do Homem de Aço, também aparece diferente. Noiva e mãe de um garoto, Lane ficou famosa por ganhar o Prêmio Pultizer pelo artigo “Por que o mundo não precisa do Superman” .
Não há o que criticar sobre a atuação dos novatos Routh, 26 anos, e Bosworth, 23, assim como do veterano Spacey. Todos estão contidos como devem ser, e explosivos nos precisos momentos que pedem isso. Talvez a opção por atores com mais idade emprestasse outra tipo credibilidade ao drama do órfão Superman, mas não há nada de grave, no jovem elenco, que possa macular um dos maiores ícones do universo dos quadrinhos e do cinema.
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