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Críticas

A Concepção

Geração vazia

Por Luiz Joaquim | 30.06.2022 (quinta-feira)

– texto originalmente publicado em 18 de agosto de 2006 no jornal Folha de Pernambuco.

“A Concepção” (Brasil, 2005), filme de José Eduardo Belmonte, estreando no Cinema da Fundação, apresenta uma proposta estética que busca entrar em consonância com a proposta de vida que seu personagens cantam. É o “Concepcionismo”, movimento (sic) que consiste em ser uma outra pessoa a cada dia que se passa. Numa costura de imagens propositadamente ora fora de foco, ora digitalmente sujas, ora casadas com animação digital, e ainda num trabalho de montagem (premiada em Brasília, feita por Paulo Sacramento, de “O Prisioneiro da Grade de Ferro”) cheio de hipérboles e até explicitamente incitando a desimportância da seqüência anterior, o filme quer chamar a atenção.

E chama, mas deixa na atmosfera uma sensação de fragilidade, talvez a mesma fragilidade que quer retratar na identidade de seus jovens. Estes são Lino (Milhem Cortaz), Alex (Juliano Cazarré), Liz (Rosanne Holland) e Ariane (Gabrielle Lopez), filhos assoberbados de uma Brasília estéril, como sugere um deles “Aqui, a saída é o aeroporto ou serviço público”. Atiçados por um estranho no grupo conhecido apenas por X (Matheus Nachtergaelle), eles dão partida ao movimento que os fará “transcender”.

Pôster de “A Concepção”

Mesmo com frases rasas e de impacto questionável, como “você não vai encontrar a verdade nem na religião em nas leis” ou “temos de ser tudo e de todas as maneiras”, X convence o grupo facilmente a submergir sob todas drogras e a praticar a absoluta liberdade sexual. Em meio ao mais puro hedonismo, fingem ser quem não são e renegam a possível essencial de identidade que possuem. Para isso, queimam identidade, passam cheque falsos, e aplicam golpes.

Belmonte quer assim, acender as luzes sobre uma geração perdida e perguntar em que medida a sociedade é responsável por isso. Um pena que as drogas, a nudez e o sexo ainda sejam as (fáceis) armas utilizadas para atingir esse objetivo. Sobre o o assunto “jovens, vamos ser diferente desses sistema opressor!” vem à mente o alemão “Edukators”, de Hans Weingartner. Simples e direto, sem o arrojamento que “A Concepção” queria ter.

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