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Entrevistas

Entrevista: Mara Mourão (Doutores da Alegria)

Um elixir contra a tristeza.

Por Luiz Joaquim | 22.07.2022 (sexta-feira)

– texto publicado no jornal Folha de Pernambuco em 16 set.2005. Na foto de Filipe Assis, Wellington Nogueira e Mara Mourão: criador do projeto e diretora do filme.

“Doutores da Alegria” é o terceiro longa-metragem de Mara Mourão e seu primeiro documentário. Mais conhecida pelo último “Avassaladoras” (2002), a cineasta registra no novo filme a importância do arquétipo milenar na figura do palhaço através do trabalho feito pelos “Doutores da Alegria”, formado por mais de 30 profissionais do humor. O grupo, em 14 anos, já levou alegria a mais de 350 mil crianças e adolescentes hospitalizados em São Paulo, Rio de Janeiro e no Recife.

Na última quarta-feira, em visita ao Recife para divulgar o filme (com estréia marcada para sexta-feira no Box Guararapes e Cinema da Fundação), Mourão e seu marido, Wellington Nogueira, também fundador do projeto no Brasil, conversaram com a Folha de Pernambuco sobre a proposta do filme e do “Doutores”.

A diretora lembrou que Wellington sempre voltava para casa contando os vários casos que vivenciava no hospital. Enquanto ouvia, pensava que a história rendia um filme. “Em 2002, senti que a hora tinha chegado. Já havia um livro publicado sobre o trabalho deles e um centro de estudo também foi criado para pesquisar os efeitos da “medicação” que eles passavam”, recorda Mourão.

Filmado em sete semanas, sendo 33 dias em hospitais cariocas e paulistas e 16 dias de entrevistas, o material bruto com imagens captadas (em 16mm e câmera digital) contabilizavam 130 horas. “Passei cerca de um ano dentro de uma ilha de edição para montar a versão final do filme, mas tenho, no mínimo 90 minutos de material para fazer outro filme com a mesma qualidade de conteúdo”, diz a Mourão que promete oferecer esse material inédito ao lançar o filme em DVD.

Enquanto montava “Doutores…”, Mourão escutou muitos colegas da área cinematográfica lhe dizer para inserir imagens de crianças em estado terminal. “Alguns diziam que tinha de ter cenas com pacientes em estado lastimável. Eu nunca usaria essas imagens, que cheguei até a captar, porque os “Doutores….” nunca fariam isso”.

Perguntado se o projeto tinha ou teve alguma conexão com o desenvolvido pelo o do norte-americano Patch Adams (que virou filme com Robin Williams em 1998), Wellington é categórico com um “não”. “Eles têm a intenção de mudar o mundo. Nossa pretensão é apenas a de levar alegria”, explica. O grupo, uma organização não-governamental, busca inclusive evitar termos médicos para designar o que fazem. Segundo o “Doutores…” o que eles oferecem não é terapia, tratamento ou cura, mas sim uma intervenção artística.

Presente também na entrevista, Maurício Dias, da produtora Grifa Mixer, lembrou dos cuidados durante as filmagens nos hospitais. “Os quartos eram pequenos e a presença de câmeras tinha de ser discreta. Para isso, vestimos nossos operadores de palhaços, e passamos a chamá-los de Bochecha e Bisteca. Disfarçamos também a câmera como se fosse um peixe. Numa situação, um garotinho paciente chega a dizer que está vendo uma bolha na boca do peixe. Os “Doutores…” aproveitam e fazem surgir logo uma bolinha por trás da câmera”.

Wellington salienta que esse é o espírito do projeto. “O palhaço tem de estar totalmente envolvido com a criança e livre de qualquer plano lógico na hora de fazer rir. O improviso é fundamental e temos de raciocinar como uma criança, para a qual tudo é novidade. Insegurança não pode existir também, senão a criança percebe e isso é fatal”, revela.

Durante todo o processo, Mourão disse que só não “desmoronou” em alguns momentos porque tinha um objetivo bem claro na sua frente: amplificar o alcance do trabalho da ONG. “Espero que o filme estimule outros serviços sociais semelhantes, e que inspire os jovens com exemplos éticos”. Perguntada sobre como ela situa hoje seu filme no cenário de documentário brasileiros Mourão lança o seguinte: “Vejo “Doutores…” como um bálsamo para o espectador cansado de violência no cinema. Não digo que reprovo esse tipo de cinema, mas com esse filme ofereço um elixir de coisas boas”. Outras informações sobre a ONG e o filme estão no site www.doutoresdaalegriaofilme.com.br

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