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Críticas

Planeta Vermelho

Au-au de lata e condenados à morte em roteiro previsível

Por Luiz Joaquim | 01.08.2022 (segunda-feira)

– texto originalmente publicado no extinto site Tô na boa em 22 fev. 2001

Em abril do ano passado, Missão: Marte (Mission to Mars, EUA, 2000), de Brian De Palma chegou às telas brasileiras por baixo de uma velada batalha entre sua produtora, a Disney, e a Warner Bros, estúdio responsável por Planeta vermelho (Red Planet, EUA, 2000), de Antony Hoffman. O entrevero se baseava na estratégia de lançamento dos dois filmes, que feitos quase simultaneamente, tratavam do temas semelhantes: as agruras de um grupo de resgate que viajava 495 milhões de quilômetros em direção a Marte. Mas nem é tanto ao fiasco de US$ 90 milhões criado por De Palma que a produção de Hoffman (diretor publicitário da Budweiser, estreando agora no cinema) nos remete, e sim a um clássico da ficção-científica concebido por Ridley Scott, há 22 anos: Alien – O Oitavo Passageiro.

As referências, no roteiro e principalmente na direção de arte, são sutis, mas inconfundíveis. Embora ninguém gere monstros intergalácticos na barriga, em Planeta vermelho, seu argumento confina meia dúzia de pessoas numa viajem de seis meses na nave Marte-1 (cujas acomodações lembram muito a Nostromo do filme de 79). Além disso, o filme traz uma mulher (a bela e competente Carrie-Anne Moss, de Chocolate, Matrix) num papel determinante, e ainda apresenta um filósofo (Terence Stemp, numa atuação risível) que funciona como guia espiritual do grupo, nos fazendo recordar o andróide de Ian Holm. Até a sensual seqüência na qual Sigourney Weaver veste um macacão para enfrentar o monstro em Alien tem sua versão em Planeta Vermelho transferida para o nu de Moss numa ducha quente.

Moss em cena de “Planeta Vermelho”

Mas o diretor Hoffman não conseguiu incutir na sua produção o que realmente importava no filme de Scott: ritmo e envolvimento. Os diálogos de Planeta vermelho sofrem de um excesso de especificações tecnológicas que resvalam nas inter-relações dos personagens que, diga-se de passagem, são mal apresentados ao público. Aos olhos da platéia, os astronautas tornam-se meras vítimas, como gente numa fila segurando um bilhete numerado que indica sua vez de morrer na história.  A propósito, depois de Alien, filmes sobre expedições interplanetárias com tripulação pequena fazem o público ficar adivinhando quem vai sobrar no final (algo fácil de decifrar, dando uma olhada rápida nos nomes do elenco).

Os textos burocráticos funcionam como um anestésico, que anulam a agradável possibilidade de nos identificarmos com um dos personagens. Quando, por exemplo, a Marte-1 sofre uma pane, a comandante comunica-se com Lucille – um computador no estilo Hal de 2001. ‘Elas’ dialogam sobre os problemas que atingiram todas as variações das ‘rebimbocas das parafusetas’ que compõem a nave. Esse foi um dos esforços empregados pelos roteiristas Chuck Pfarrer e Jonathan Lemkin para tornar o filme tecnicamente convincente. O tiro sai pela culatra, pois o tecnicismo cansa.

Já a direção de arte de Catherine Mansell é eficaz. A combinação das imponentes locações na Austrália e a fotografia árida de Peter Suschitzky também funcionam, fornecendo a atmosfera perfeita para a ação de Planeta Vermelho – ação que parece nunca chegar. Essa eterna sensação de ‘a melhor parte está por vir’ permeia todo o filme graças a sua condição de flutuar, indecisa, em oferecer uma história filosófica (confrontando superficialmente religião e ciência) e outra de ação com suspense (eles descobrem que o Projeto Terra, lançado a Marte em 2025, foi destruído, mas não sabem como explicar o fenômeno).

Locações da Austrália ajudaram composição visual.

AU AU DE LATA – O projeto resumia-se em lançar algas na superfície marciana para, em 100 anos, gerar oxigênio suficiente no planeta a ponto de torná-lo a nova casa dos terráqueos. Mas, em 2056, o nível de poluição na Terra já é tão insuportável que a comandante Bowman (Moss) é enviada para Marte, onde deve recolher amostras do solo e verificar a atmosfera local. Com ela, além do filósofo vivido por Stemp, vão: um arrogante piloto (Benjamin Bratt, namorado de Julia Roberts); um traiçoeiro técnico substituído às pressas (Simon Baker); um cético, mas decente, Ph.D. em biologia (Tom Sizemore) e um operador de sistemas mecânicos (Val Kilmer).

Tem ainda AMEE – uma espécie de cachorro mecânico que vai ajudar a equipe na jornada. No ‘modo de navegação’, a máquina quadrúpede opera como um rastreador na superfície marciana, e age como um totó inofensivo; mas ele também funciona ‘no modo de guerra’, e aí funciona como um pitbull babão, pronto para matar. A apresentação dos dotes da engenhoca, já no início do filme, estimula a imaginação do espectador mais calejado em sci-fi a antever a verdadeira função desse monstrinho, composto de óleo e rolamento, para o enredo do filme.

Voltando às referências a Alien – O oitavo passageiro, uma outra curiosidade pode vir a ligar Carrie-Annie Moss a Sigourney Weaver. É que Moss está rodando Matrix 2 (previsão de estréia nos Estados Unidos em 2002) e já assinou contrato para Matrix 3. Seu nome também está cotado para mais uma seqüência de O Exterminador do Futuro. A moça pode, dessa forma, se transformar na nova musa da ficção científica no cinema. Posto alcançado por Weaver por suas participações nos sofríveis longas que vieram na seqüência aos filmes de Ridley Scott.

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