55º Brasília (2022) – Carta da Abraccine
Abraccine convoca, em carta, a valorização do profissional da crítica cinematográfica
Por Luiz Joaquim | 29.11.2022 (terça-feira)
Acima, foto da leitura da carta durante a premiação, por Paulo Henrique Silva. Créditos: PC Cavera
A crítica cinematográfica persiste em existir, como a água que jorra da torneira e forma um espiral girando em torno do ralo da pia. Pia que nunca enche em sua capacidade de propor reflexão. É, enfim, de constante crise que vive a boa crítica. Mas em seu campo profissional, e não apenas no Brasil, a crítica vem passando por uma crise fora de seu interesse produtivo. Passa, há alguns anos, por uma degradação em termos de reconhecimento profissional não apenas pelos veículos de comunicação corporativos, mas também por alguns festivais e mostras de cinema, além de distribuidoras que, cada vez mais, priorizam influencers generalistas, ao invés de um profissional gabaritado no segmento, para participar de eventos afins.
Vale lembrar que (ainda é assim) é a fortuna crítica de um filme, junto à performance nos festivais, que levará um título cinematográfico a entrar na história. Em particular aquelas obras que não contam com uma megaestrutura marqueteira. Estamos falando, portanto, da maior parte da produção cinematográfica brasileira.
E não há fortuna crítica sem críticos de cinema.
Para chamar a atenção sobre a sensível e preocupante questão, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema – Abraccine leu uma carta assinada coletivamente por profissionais que cobriam o 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A leitura foi feita pelo mineiro Paulo Henrique Silva – que colaborou para o CinemaEscrito na cobertura desta edição.
A carta aponta tensões, dificuldades da categoria e propõe sugestões aos produtores de eventos cinematográficos no país.
Conheça, na íntegra, a carta da Abraccine lida na noite da premiação (20/11) do 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
“Nesse momento em que o setor cinematográfico vive uma expectativa de retomada, é preciso chamar a atenção para o exercício da reflexão crítica, que historicamente sempre esteve ao lado do cinema brasileiro, contribuindo para a sua construção e fortalecimento.
A crítica de cinema vive um instante de grande desvalorização, com perda de espaço tanto na mídia tradicional quanto no universo digital, devido à falta de políticas e de investimento para o setor. Com isso, o pensamento crítico hoje está fragilizado, reduzindo-se a uma mera indicação de entretenimento, forçosamente voltada para as produções estrangeiras, que já contam com uma estrutura publicitária muito forte.
Assim diminuíram-se os espaços para os filmes brasileiros e o entendimento da importância histórica da presença da crítica, inclusive nos festivais.
Nesse momento tão delicado, convidamos os diversos agentes dessa cadeia produtiva, como gestores públicos, festivais de cinema, veículos de comunicação e associações de classe, a participarem de um esforço de incremento da crítica a partir de algumas ações, que gostaríamos de propor:
– Realização de atividades de formação de jovens críticos, como oficinas e debates;
– Valorização com a devida remuneração dos trabalhos de mediação, curadoria e produção de textos para eventos;
– Inclusão nos editais de recursos para projetos relacionados à crítica.
Com isso, acreditamos que a crítica poderá voltar a ocupar o espaço de protagonismo e continuar colaborando para o crescimento da atividade como um todo”.
Assinam: Adriano Garrett, Amanda Aouad, Bárbara Bergamaschi Novaes, Carlos Helí de Almeida, Cecilia Barroso, Georgiane Abreu, Guilherme Lobão, Humberto Pereira da Silva, Lorenna Rocha, Maria Caú, Maria do Rosário Caetano, Luiz Zanin Oricchio, Neusa Barbosa, Paulo Henrique Silva.
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