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Festivais

25ª Retro/Exp Fundaj (2022) – Celso Marconi

Celso Marconi em revisão, homenageado, e em obra inédita no Recife

Por Luiz Joaquim | 15.12.2022 (quinta-feira)

Um encontro-apresentação valioso, no mais abrangente termo que a expressão pode abarcar, se dará hoje (15) a partir das 18h dentro da programação da 25ª Mostra Retrospectiva/Expectativa promovida pela Cinema da Fundação (Derby/Recife).

Trata-se de uma homenagem ao jornalista, crítico de arte/cinema, curador, realizador, professor Celso Marconi que, aos 92 anos, atua ainda como uma voz ativa, pelas redes sociais, no jornal ‘Vermelho’ e aqui neste CinemaEscrito pontuando aspectos que perpassam questões cinematográficas contemporâneas ao redor do mundo.

Influente na sociedade pernambucana desde a década de 1950, no que concerne ao fomento e à problematizações culturais, Celso não é uma figura do passado. Prova disso está na programação desta homenagem, hoje, que promoverá a exibição de três projetos do audiovisual contemporâneo protagonizados pelo intelectual Celso Marconi.

O primeiro é o documentário Um filme com Celso Marconi (2021), dirigido por Hélder Lopes e Paulo Vieira de Sá, no qual o universo particular do protagonista é investigado intercalando seu passado e o seu presente. Leia a crítica para o documentário aqui.

Na sequência, teremos o inédito (no Recife) Apolo (2021), curta de ficção assinado também por Paulo Vieira (tendo Hélder como assistente) e protagonizado pelo homenageado da noite (leia resenha mais abaixo, nesse texto).

Cena do curta-metragem “Apolo”

Concluída a projeção dos curtas-metragens, poderá ser visto o episódio com Celso Marconi realizado para o programa de tevê Palavra crítica (2020), dirigido por Tiago Leitão e coproduzido pela Plano 9 (leia reportagem aqui), no qual Celso, em entrevista, desdobra memórias de sua extensa carreira de quase sete décadas.

Antes das exibições, o editor do CinemaEscrito e autor da biografia de Celso Marconi (ler aqui), Luiz Joaquim (este que aqui escreve) e o escritor e jornalista Urariano Mota (site ‘Vermelho’) irão comentar aspectos da longeva carreira do homenageado.

Celso Marconi estará presente e poderá também conversar com a plateia.

A homenagem a Celso Marconi foi uma provocação do amigo de Celso e professor universitário Antônio Motta, sendo acolhida pelo programador do Cinema da Fundação, Ernesto Barros, que irá mediar o debate.

APOLO – Assim como o menino que acorda e, ao som de persistentes gotas d’agua pingando, olha a imagem desfocada de Bibi Andersson/Liv Ulmann na abertura de Quando duas mulheres pecam (Persona, 1966), de Ingmar Bergman, o curta-metragem Apolo (Bra., 2021), de Paulo Viera de Sá, já inicia nos colocando naquilo que podemos chamar de delirante simbiose entre o projecionista (o ator Marcos Pergentino) do Cineteatro Apolo (Recife) e um idoso frequentador daquela sala.

Mais do que uma simbiose, Apolo, com o projecionista acordando ao som dos pingos e diante de uma tela em P&B estampando um gigante e misterioso rosto do idoso, sugere que entre ele (o projecionista) e o idoso (frequentador) está o cinema, e que sem eles, o cinema não existirá, ou não existirá ao menos no secular padrão de entendimento do que seria ir/estar num sala de cinema.

Não por acaso, numa das sessões que o idoso frequentador comparece – o filme em cartaz é No decurso do tempo (1976), ficção de Wim Wenders, sobre as andanças de um projecionista (Rüdiger Vogler) em regiões remotas da Alemanha -, a narrativa de Apolo destaca um diálogo no filme de Wenders sobre o futuro do cinema.

Celso Marconi como o idoso frequentador de cinema em “Apolo”

O ‘futuro do cinema’ um tema caro à Celso (como homem do seu tempo que ele é), sendo também o passado do cinema algo colado em seu corpo há quase 70 anos – suas primeiras incursões na crítica cinematográfica datam o início dos anos 1950.

Ter Celso Marconi protagonizando Apolo torna o filme em algo muito particular.

Ver o filme ignorando o tanto que Celso carrega em seu corpo sobre o quesito cinema é ver uma outra obra. Ainda que densa em suas opções estéticas tão bem resolvidas por Paulo e seu talentoso fotógrafo Beto Martins, Apolo poderá ser percebido, neste caso, apenas como uma poética ode ao cinema.

Vermos o mesmo filme entendendo o gigantismo de Celso Marconi no segmento cultural e, particularmente, cinematográfico – há mais de meio século – empresta outra consistência para a densidade que o filme entrega. É como enxergar ali uma representação visual e narrativa de toda uma vida que segue insistente, como os irrefreáveis pingos d’água, envolvida pelo cinema e por tudo aquilo que dele é consequência.

O acesso ao Cinema da Fundação para a homenagem a Celso Marconi é franca.

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