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Críticas

Batem à Porta (texto #1)

Apocalypse, soon.

Por Luiz Joaquim | 02.02.2023 (quinta-feira)

Deus no céu e M. Night Shyamalan na Terra. É assim para alguns fãs incondicionais do cineasta de 52 anos que lança hoje (2) no Brasil seu 15º filme, Batem à porta (Knock at The Cabin, EUA, 2023).

Baseado no livro de Paul Tremblay – The Cabin at the end of the world (2018) -, o romance pode ser encontrado no Brasil pelo título O chalé no fim do mundo, publicado pela Bertrand Brasil editora.

É boa a premissa da história criada por Tremblay e adaptada para a tela por Michael Sherman, Steve Desmond além do próprio Shyamalan… boa pelo menos ao que a produção se presta: excitar a tensão no espectador contra uma situação limítrofe, além de instigar sua curiosidade quanto a resolução do que aqui é proposto.

De brinde, há a encenação de um contexto analógico – um tanto simplista, é verdade – a respeito da homossexualidade e a sua histórica condição de vítima de preconceito e violência pela sociedade.

O casal Eric (Groff) e Andrew (Aldridge) estão em sua casa onde, nem ali, estão livres da eterna condição de acuados pela sociedade.

A circunstância aqui criada pode estimular, no espectador, as mais diversas conclusões a partir do desfecho definido pela história. Entre elas, a de que homossexuais é que irão purificar a Terra.

Ou mesmo o inverso, a de que eles não têm escapatória da condenação (seja ela qual for), nem mesmo numa ficção em que são os heróis. E, assim sendo, o filme seria homofóbico? Não. Não é para tanto.

O enredo diz que a menina Wen (Kristen Cui), de oito anos, está de férias numa casa de veraneio numa floresta, no meio do nada, onde não há sinal de celular – sempre importante essa limitação para o suspense do cinema pós anos 1990.

Acompanhada pelos pais Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge), a menina é a primeira a encontrar, nos arredores da casa, Leonard (Dave Bautista, o Drax de Guardiões da Galáxia).

Ele é um dos quatro estranhos que querem entrar na casa para fazer um pedido à família.

Leonard (Bautista) aborda a pequena Wen (Cui)

Pelo pedido, a família terá de escolher sacrificar alguém dentre eles para evitar o Apocalipse, e o escolhido não poderá tirar sua própria vida. É preciso que um integrante tire a vida do outro.

Não precisa de formação religiosa ou de profundo conhecimento bíblico para relacionar Leonard, Redmond (Rupert Grint), Sabrina (Nikki Amuka-Bird) e Ardiane (Abby Quinn) com os Quatro Cavaleiros do Apocalipse.

Se há uma derrapada (e costumar haver) nessa mais nova brincadeira de Shyamalan, ela está no terço final do filme, com os heróis verbalizando/explicando a lógica do que representa a identidade do professor Leonard, da enfermeira Sabrina, da cozinheira Ardiane e do violento técnico Redmond com a identidade dos icônicos cavaleiros da Bíblia Sagrada.

A cor das roupas que o quarteto usa também não é aleatória, mas dessa explicação o filme poupa o espectador, ou pelo menos o permite criar suas próprias ilações.

De qualquer forma, Shyamalan consegue criar com elegância cinematográfica, mais uma vez, um universo particular, fechado em si mesmo, mas como uma expressão do nosso mundo real.

Ele provoca, principalmente, os religiosos. Aqueles que têm fé. O faz como quem cobra deles a coerência de acreditar em pragas divinas da mesma forma que acreditam nos milagres.

Assim faz o deus na Terra, para alguns, M. Night Shyamalan com o seu Batem à porta.

Em tempo: Como seria curioso ver uma versão do filme com Will Smith no elenco (e, nos perdoem pela brincadeira).

Leia também a crítica de Yuri Lins para Batem à porta

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