47ª Mostra SP (2023) – “After” e “El Fantasma”
Descobertas prazerosas (mas nem sempre)
Por Luiz Joaquim | 24.10.2023 (terça-feira)
— Na imagem em destaque, “After”, de Anthony Lapia.
SÃO PAULO (SP) – Uma grande diversão para cinéfilos que frequentam a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é “descobrir” filmes. Entenda por isso entrar numa sessão cuja obra não traz nenhuma, ou quase nenhuma, referência dos grandes ou médios festivais do mundo. Ou ainda, aquela produção cujo diretor seja um solene desconhecido e que, provavelmente, terá suas únicas exibições no Brasil dentro da programação da Mostra de SP.
No caso de After (Fra., 2023), exibindo nesta 47ª edição da Mostra, seu realizador Anthony Lapia nos apresenta seu primeiro longa-metragem e, ainda que Lapia seja um desconhecido, seu longa-metragem já garantiu distribuição no Brasil pela Pandora Filmes. A passagem pela seção Panorama, do Festival de Berlim, e no IndiLisboa, claro, ajudaram a introduzir esse pequeno e envolvente filme no mundo.
Aqui, bom dizer, temos uma obra que pertence integralmente aos amantes da música Techno, aos clubbers, notívagos insaciáveis em seu desejo de dançar ao som de 130 BPM (batidas por minuto). Mas pertence não só a estes. After propõe também uma conversa sobre o amadurecimento sentimental e sobre diferenças étnico-sociais por meio dos protagonistas Félice (Louise Chevillotte) e Saïd (Majd Mastoura).
Mas, voltando à música, é provável que nenhum outro filme se entregue, igualmente, ao gênero musical como After. A título de referência, os dez primeiros minutos de abertura dos filmes se concentram em enquadrar, em close, os rostos de corpos dançantes numa casa noturna em Paris. É só música e imagem.
Aos espectadores impacientes, sem interesse pelo Techno, After pode parecer, de cara, cansativo, mas não será se esperar para conhecer as convicções céticas da advogada criminal Félice e as inspirações revolucionárias do motorista de Uber Saïd.
Eles irão se conhecer na festa e Félice, para provocar a ex-namorada, deixa-a na boate e leva o desconhecido Saïd para seu apartamento. É no “after” da festa que vamos conhecer melhor esses dois e o que os aproxima e os afasta.
Já para os amantes do Techno, eles têm aqui uma boa peça de prazer, que deve ser visto num cinema com o som alto. A música é boa.
CHILE – Ao contrário de After, a co-produção chilena-brasileira El fantasma (Chile., 2023), de Martin Duplaquet, não tem passagens por festivais, mas tem lançamento garantido no Brasil pela Elo Company.
E, ao contrário de After, o filme chileno entra no pacote de ‘descobertas’ frustrantes.
Estamos em 2006, e o mercado chileno vive um momento de excitação financeira, mas de falsos resultados, pelo menos para o pequeno investidor. É o caso de José (Willy Samler), um ex-bancário que perde todas as economias num investimento furado. Com o fracasso, vem a separação da esposa, passando a viver de favores até decidir-se por arquitetar um crime. Quer roubar bancos.
Para tanto, vai atrás de dois parceiros (Daniel Muñoz e Dario Lopilato) e, no meio do caminho, agrega uma terceira pessoa a sua gangue (Eliza Zulueta). O golpe é simples. José se passa por funcionário dos bancos para “ajudar” clientes que precisam fazer depósito de altas quantias em dinheiro e some com esse dinheiro.
Por sua capacidade de não deixar pistas, ficou apelidado como O fantasma pela mídia chilena.
Aquilo que se mostra como um valioso argumento para um intrigante filme policial latino, ganha em El fantasma uma roupagem universal (no mal sentido), com um aparente desejo de alcançar o mercado estrangeiro.
Sobra clichê no desenvolvimento dos personagens e do enredo, sobrando espaço também para uma ideia de romance entre o personagem de Samler e Zulueta, além dos excessos na performance do bobo do grupo (Dario Lopilato), destoando de todo o resto. Uma pena.
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