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Críticas

Cafi

Pela ótica de Cafi

Por Luiz Joaquim | 15.11.2023 (quarta-feira)

Como entendem de imagens esses pernambucanos. Amanhã (9) estreia nos cinemas do Brasil Cafi (Bra., 2023), filme dirigido por Natara Ney e Lírio Ferreira que só reforça nossa assertiva. Na verdade, o documentário não deveria ser menos do que é: uma delícia de passeio com Carlos Filho, o fotógrafo Cafi, pela sua trajetória de vida e profissional. Esferas que se misturam entre si e também pela vida de dezenas de pessoas talentosas do Recife, Olinda, Rio de Janeiro e Minas Gerais, responsáveis pelo melhor da música brasileira.

No Recife, uma sessão de Cafi ganhará debate com Natara e Lírio na noite de quarta-feira (22) no Cinema da Fundação/Porto

Um bom elogio a fazer para um documentário que se pretende retratar alguém é dizer que ele realmente traz seu personagem para mais próximo do espectador. E é isso que Cafi faz.

Natara e Lírio acompanham, com a câmera empunhada pelo sempre competente Beto Martins, a nuca de Cafi, ou melhor, a câmera quer captar a mesma perspectiva de Cafi mas não a perspectiva de Cafi. Em outras palavras, não temos uma câmera subjetiva, mas uma que tenta perceber o que só Cafi percebe. É uma tentativa naturalmente estéril (afinal, se a perspectiva é de Cafi, então só ele a percebe). Mas Natara e Lírio sabem disso, e muito bem

O artifício é apenas uma bossa estilística para depois, aos poucos, irmos conhecendo (ou reconhecendo) a arte fotográfica de Cafi. Um exemplo: quando está viajando num trem, a câmera de Beto Martins mostra Cafi sendo servido por uma funcionária do transporte. Cafi não perde tempo ao perceber que a luz renderá uma boa fotografia da moça e saca imediatamente sua câmera fotográfica. Natara e Lírio, logo após o clique, nos presenteiam, aí sim, com a perspectiva do cinebiografado deles, mostrando a imagem da moça pela ótica do fotógrafo.

Bossa estilística e câmera colada na nuca à parte, em Cafi temos um belo exemplar de cinebiografia que passa longe da obviedade, o que, mais uma vez, aproxima o projeto do seu objetivo. Cafi soa como Cafi. Livre e suave em suas pedaladas e na forma como encara a vida e o trabalho. Na palavra da mãe de seus filhos, Deborah Colker, Cafi é um menino.

Foto: Cafi

“Trabalho”, inclusive, é uma palavra questionado pelo protagonista. Questões estas que, talvez, não o tenha expandido ainda mais como artista da fotografia que é.

Sempre lembrado como o autor da foto do mítico álbum Clube da esquina (1972), Cafi se diz muito beneficiado pela chance de ter “clicado” a capa dos discos de tanta gente bacana. Só para Milton Nascimento foram 18.

Falamos de Alceu Valença, Jard Macalé, Chico Buarque, Ronaldo Bastos, Lô Borges, Beto Guedes, sem contar os cliques sobre Caetano, Gil, Gal, Bethânia, Tom Jobim, Dorival Caymmi, Beth Carvalho, Luiz Gonzaga e Gonzaguinha e Elis.

foto: Cafi

Cafi, o filme, também abre espaço para ouvir Colker e Zé Celso Martinez, beneficiados pelo registro de Cafi sobre as performances, respectivamente, dos artistas em Cão sem plumas e Sertões.

Mas talvez o grande desafio aqui tenha sido estabelecer o recorte do que expor e do que deixar de lado, considerando o tanto de beleza que Cafi congelou em imagens. Nesse sentido, Natara e Lírio acertam no alvo, não apenas por compor um filme enxuto e ao mesmo tempo abrangente, mas também por amarrar as pontas dos blocos temáticos com uma suavidade que faz o tempo passar no mesmo compasso dessa suavidade.

Além do trailer abaixo, o leitor pode ir esquentando o interesse por ver o filme dando uma espiada na página oficial do fotográfo. É só clicar aqui.

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