Turma da Mônica Jovem – Reflexos do Medo
Versão adolescente dos personagens de Mauricio sofre em comparação com a turma clássica
Por Renato Felix | 31.01.2024 (quarta-feira)
O “multiverso” dos personagens de Mauricio de Sousa amplia seu alcance no cinema com a estreia de Turma da Mônica Jovem – Reflexos do Medo (Bra, 2023). Um novo filme “live action”, mas com um elenco diferente em relação a Turma da Mônica – Laços (2019) e Turma da Mônica – Lições (2021). Durante os primeiros anúncios do novo filme, houve uma certa comoção entre os fãs dos dois filmes anteriores estrelados pela turma “clássica”, digamos assim.
A garotada reclamou que o elenco foi trocado, mas a verdade é que Reflexos do Medo nunca foi uma continuação de Laços e Lições: são projetos diferentes, baseados em material diferente. Todos tem coprodução da Mauricio de Sousa Produções, mas Laços e Lições, dirigidos por Daniel Rezende, e, também, Turma da Mônica – A Série (2022) foram tocados pela Biônica Filmes e Quintal Digital, enquanto o filme da versão jovem, dirigido por Maurício Eça, chega via Bronze Filmes e BeBossa Entertainment e é um projeto até anterior aos outros.
A Turma da Mônica Jovem foi criada em 2008 como uma versão adolescente de Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e seus amigos com um desenho em estilo próximo ao mangá para agradar aos leitores dos quadrinhos japoneses. O sucesso foi acima do esperado pela Mauricio de Sousa Produções, com edições chegando a 500 mil exemplares vendidos. As HQs, além de mostrar os personagens mais crescidos e mais maduros com relação às suas características (o Cebolinha – ou melhor, Cebola – já não fala “elado” o tempo todo, o Cascão já não é tão avesso ao banho, etc), investiram mais no romance, na aventura e até no gênero do horror.
É daí que parte o novo filme. Reflexos do Medo é uma história de suspense/ terror em que os personagens investigam o que está por trás do leilão do museu da escola e se deparam com um mistério sobrenatural.
Um “efeito colateral” do sucesso das HQs da turma jovem é que elas rapidamente também conquistaram as crianças menores, de modo que as histórias precisaram “baixar o tom”. Isso se reflete no filme, fazendo com que o terror seja mais uma inspiração narrativa que um mergulho de fato no gênero. Ensaiando uma ou outra cena de tensão, o filme nunca chega a ser contraindicado para crianças.
Andar nesse fio da navalha prejudica o filme, que não ousa avançar no clima que tenta imprimir, trilha caminhos fáceis e pouco complexos e abusa de clichês nos diálogos. Ao mesmo tempo não chega a ser um filme da turma clássica, já muito bem representada em Laços e Lições e na série da Globoplay, coisa que não se propõe mesmo a ser. Reflexos do Medo fica no meio desse caminho. Não chega a ser um mau filme, mas, se apoia basicamente na identificação histórica dos personagens de Mauricio com o público. Se não fossem Mônica e sua turma ali e, sim, personagens novos, o filme se sustentaria para além de produções infanto-juvenis rotineiras? Fica o questionamento.
Mas os jovens atores se saem bem, com simpatia e carisma, e com personalidade própria em relação ao elenco dos filmes anteriores (sobretudo a Magali de Bianca Paiva e o Cascão de Theo Salomão). Há que ressaltar aqui o status da Milena (Carol Roberto), transformando o quarteto protagonista num quinteto já no cartaz do filme. Lançada em 2017 para dar um reforço na diversidade nos gibis de Mauricio de Sousa, a primeira menina negra de destaque na turma desde o começo é promovida praticamente em patamar de igualdade com Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali não só nas HQs como também na publicidade. E isso é – com trocadilho – refletido em Reflexos do Medo.
No fim, a comparação com o “outro universo” da Turma da Mônica live action nos cinemas não é favorável à versão adolescente dos personagens. Há o azar, inclusive, da “versão clássica” já ter aparecido bem crescidinha em Turma da Mônica – A Série, inclusive com algumas características ali da turma jovem, o que levou boa parte dos fãs a acharem que seria natural que aquele elenco “progredisse” para se tornar a TMJ nos cinemas. Não foi o que aconteceu, de mais de uma maneira.
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