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Críticas

Alien: Romulus

Fãs do início da franquia podem respirar felizes. Dois uruguaios a salvaram.

Por Luiz Joaquim | 14.08.2024 (quarta-feira)

Já dá para dizer que 45 anos após o lançamento de Alien: O oitavo passageiro (1979), clássico absoluto da ficção científica, dirigido por Ridley Scott a partir dos personagens criados por Dan O`Bannon e Ronald Shusett, temos, agora, não só uma sequência digna – Aliens: O resgate (1986), de James Cameron – mas duas. 

A segunda chega amanhã (15) aos cinemas do Brasil com o título Alien: Romulus (EUA, 2024), produzido pelo pai da coisa toda, Scott (além de Walter Hill), mas sob a direção afiada do uruguaio Fede Alvarez (O homem das trevas).

Alvarez tinha 2 anos de idade recém-completos quando O oitavo passageiro estreou em sua cidade, Montevideo. De lá pra cá, o monstro com o exoesqueleto mais conhecido da história do cinema já havia ganhado outras quatro sequências pouco estimulantes, ao contrário daquela guiada por Cameron. E sem botarmos na conta as duas falcatruas Alien vs. Predador 1 e 2.

“Alien: O Oitavo Passageiro” estreou em março de 1980 em Montevideo. Alaverez havia completado 2 anos de vida um mês antes.

Não importava se a deusa Sigourney Weaver voltava a dar a cara como a Tenente Ripley, os títulos dirigidos por David Fincher (Alien 3), Jean-Pierre Jeanet (Alien: A ressurreição, certamente o pior da franquia) e mesmo aqueles que trouxeram Scott de volta para a direção (Prometheus e Alien: Covenant) davam a impressão de que o parasita alienígena não iria mais dar nos nervos do espectador com seus pulos no rosto das pessoas, incubando seu monstrinho que ganhava a vida rasgando o tórax das vítimas. 

Eis que chega Fede Alvarez e, ao lado do habitual parceiro Rodo Sayagues, retoma os personagens originais de O’Bannon para escrever a sequência Romulus, recebe a benção de Scott e nos dá esse, digamos, Alien 7, amarrando muito bem referências aos dois primeiros filmes e também ao insosso Prometheus. 

E a amarração vem com pouca firula, muita objetividade e uma boa quantidade de elegância. Estes dois últimos elementos são amigos daqueles fãs que viram felizes a franquia nascer forte no final dos 1970 e, tristes, minguar nos 1990. 

Elas (a objetividade e a elegância) estão na trilha sonora de Benjamin Wallfisch, que resgata o minimalismo original de Jerry Goldsmith em 1979; estão nos seis tripulantes que irão sucumbir, um a um, ao sangue ácido e aos dentes afiados da besta do espaço.

Estão também na aparição de sintético Ash (Ian Holm, falecido em 2020 e aqui assustadoramente gerado por IA); estão ainda na multidão que é a equipe do design e de efeitos especiais, que deram roupa nova para tudo que vemos, mas respeitando os conceitos originais; e  estão nas frases já clássicas do início da franquia, que aqui ganham um novo sentido. 

Get away from her, you bitch!” (Fique longe dela, sua vadia!), de O resgate, por exemplo, reaparece em Romulus não com tanta força como no filme de Cameron, mas com substância o suficiente para fazer abrir um sorriso de alívio no espectador. 

Numa análise rápida, Scott ter abençoado um projeto criado por dois jovens e competentes admiradores da franquia – Alvarez e Sayagues – ao invés de assumir a direção de uma nova sequência, foi o melhor que podia acontecer à série. 

Arriscada mas acertada opção em deixar o novo produto da franquia na mão de realizadores e elenco jovial

Enquanto Scott vinha empregando uma carga superlativa de exaltação para o que a franquia poderia vir a se tornar, sob uma estética asséptica e pouco envolvente – vide Prometheus e Covenant -, a dupla uruguaia conseguiu finalmente (e realmente) atualizar Alien sendo correta na fidelidade ao espírito do filme que deu início a tudo, há 45 anos.

Sem medo de errar, pode-se dizer que um enorme trunfo, entre tantos, lá atrás, em O oitavo passageiro foi apresentar a criatura visualmente aos poucos para o espectador, deixando apenas para o final uma ideia geral de sua total e assustadora aparência. 

Esse trunfo não conseguiu mais vingar a partir do terceiro filme (no segundo, Cameron ainda brincou com as estruturas corporais da Alien-Rainha e do exoesqueleto mecânico “vestido” por Ripley). 

No novo Romulus, voltamos a visualizar a besta negra de cabeça alongada, com mandíbulas externas e internas, e com as suas longas pernas e rabo, mas o roteiro de Alvarez e Sayagues, junto a um batalhão de designers e técnicos em efeitos especiais, dão conta de nos apresentar uma arrepiante surpresa ao final.

Uma nova criatura, com nova estrutura corpórea, que deverá deixar o espectador com ar de bobo enquanto, mentamente, se pergunta assustado: “Mas o que é isso?!”

ENREDOAlien: Romulus se passa cerca de 20 anos após os acontecimentos desastrosos na Nostromo, a espaçonave conhecida em Alien: O oitavo passageiro, ou seja, estamos ali, temporalmente, entre o filme 1 e o filme 2. 

O novo filme abre em uma das diversas colônias espaciais, num planeta onde os humanos vivem como escravos na esperança de conseguir quitar seus deveres com o sistema e migrar para um outro planeta chamado Yavaga – a 9 anos de navegação dali, pelo espaço – onde se pode ver o pôr do sol, e viver como se vivia na Terra.

Seguimos os protagonistas Rain (Callee Spaeny, de Priscilla e Guerra civil) e o sintético Andy (David Jonsson), a quem Rain cuida como a um irmão. O androide sintético é de uma geração, anterior a Ash (de O oitavo passageiro). Andy é mais simplório, tem apenas uma diretriz, cuidar de Rain, e soa um pouco bobo em sua limitação. 

Mas a premissa é ótima, considerando que ele ganhará importância vital na arriscada jornada feita com Rain a convite dos amigos Tyle (Archie Renaux), sua irmã Kay (Isabela Merced), Bjorn (Spike Fearn) e Navarro (Aileen Wu).  

Alien Malhação? Calma, a primeira impressão passa logo.

No princípio, Romulus poderá soar para alguns como um Alien encenado pelo elenco de Malhação, considerando tão juvenil atores com postura equivalente para seus personagens, mas não demora para a tensão e a urgência ganharem o seu espaço e androide Andy assumir uma nova personalidade dúbia, de herói e algoz ao mesmo tempo. 

O ator Jonsson, então, marca seu ponto dando um passo largo para a carreira, com suas expressões econômicas e eficazes ao fazer um sintético, quem diria, mais interessante que aquele de Michael Fassbender em Alien: Covenant. 

O plano da garotada é fugir da colônia naquele planeta com a ajuda de uma estação espacial abandonada que eles descobrem estar vagando não muito longe dali. Na verdade, o que eles precisam é das câmaras de hibernação e do criogênio que eles supõem haver na estação para poder encarar a viagem de nove anos até Yvaga. 

O que eles não atentavam é que havia um bom motivo para a estação ter sido abandonada. E, uma vez lá, acessando o lugar, começa o jogo de gato e rato.

Andy (Jonssson), na maior vitrine de sua inicial carreira, fazendo jus ao lugar conquistado.

A partir daí, Alvarez e Sayagues vão criando um crescente volume de situações limítrofes do solucionável, dando uma sensação desconfortável que aquilo ali não terá resolução contra o inferno daqueles jovens.

Falando em desconforto, vamos fazer uma recomendação aqui que, em 27 anos praticando a crítica cinematográfica, só fizemos uma única vez, em 2004, num texto sobre o filme Visões (leia aqui), dos irmãos Oxide e Danny Pang. 

A recomendação é: grávidas, evitem Alien: Romulus pois, caso contrário, o que irão ver no filme não deverá ser bem processado na cabeça sensibilizada de vocês pela já força da maternidade gerada pelo vosso ventre. 

Em tempo: o filme dá uma pequena dica sobre seu subtítulo Romulus. A dica aparece rapidamente em uma das portas da estação espacial, no módulo Rômulo, onde se vê o desenho da loba amamentando os irmãos Rômulo e Remo, os fundadores da poderosa Roma, em sua mitologia.

Histórico

Alien: O oitavo passageiro (1979), Ridley Scott

A saga começa quando o rebocador espacial Nostromo detecta uma transmissão de uma lua próxima. A tripulação investiga e descobre uma nave espacial abandonada com um ninho de ovos alienígenas. Quando um dos organismos se agarra a um membro da tripulação, o resto da equipa tem de lutar pela sobrevivência.

Aliens: O resgate (1986), James Cameron

Ripley (Sigourney Weaver), que sobreviveu ao ataque à Nostromo, acorda 57 anos mais tarde numa estação espacial médica que circunda a Terra. Eventualmente, descobre que os alienígenas que atacaram os seus companheiros de tripulação se tornaram mais fortes – e mais mortíferos. Para os deter, Ellen e uma nova tripulação embarcam numa missão para acabar com a espéci

Alien 3 (1992), David Fincher

Mais uma vez, Ripley sobrevive a um ataque alienígena. Após os acontecimentos de Aliens, ela vai parar em Fiorina 161, um planeta que abriga uma colônia penal. Não é o local ideal, mas pelo menos é seguro. Os monstros do espaço reaparecem e Ripley é forçada a liderar todos numa batalha sem uma única arma.

Alien: A ressurreição (1997), Jean-Pierre Jeunet

Se há uma coisa com que podemos contar, é com a capacidade dos Xenomorfos de regressarem. Alien: Resurrection passa-se 200 anos depois de Ripley ter se sacrificado para matar a rainha dos alienígenas. Os militares ressuscitam-na através de clonagem, mas no processo, o seu ADN funde-se com o de um Xenomorfo. A experiência liberta ainda mais alienígenas, levando a uma nova luta.

Alien vs. Predador (2004), Paul W. S. Anderson

Neste crossover dos dois filmes, nos encontramos na Antárctida, onde o rico explorador Charles Bishop Weyland financia uma expedição para descobrir uma fonte de calor recentemente detectada. Quando ele e a sua equipa chegam, encontram uma pirâmide e, claro, monstros. Para sua surpresa, os extraterrestres não são as únicas criaturas estranhas no deserto gelado. Também há Predadores. 

Alien vs. Predador 2 (2007), Colin e Greg Strause

Os Xenomorfos e os Predadores estão de volta. Desta vez, os monstros decidem lutar em Gunnison, Colorado, e os seus residentes são apanhados no fogo cruzado. Alien vs. Predador: Requiem é o filme com a classificação mais baixa do franquia

Prometheus (2012), Ridley Scott

Neste prequel, uma tripulação parte para descobrir as origens da humanidade. A sua busca leva-os a um planeta distante onde encontram os restos de uma civilização antiga. Os seus construtores parecem estar extintos, mas a tripulação não está sozinha. Um alienígena violento aguarda-os, com poderes que podem destruir a humanidade.

Alien: Covenant (2017), Ridley Scott

Aqui, um grupo de humanos tenta colonizar um planeta remoto. Aterram num oásis paradisíaco, mas rapidamente descobrem que não é tão pacífico como parece. Enquanto exploram o planeta, fazem uma descoberta horrível.

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