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Críticas

Armadilha

MacGyver do mal encontra Scooby Doo

Por Luiz Joaquim | 12.08.2024 (segunda-feira)

É sempre divertido acompanhar um lançamento dirigido por M. Night Shyamalan por meio das considerações de seus séquitos, em particular os brasileiros. Quinta-feira passada (8), chegou por aqui, no Brasil,  Armadilha (Trap, EUA, 2024) no qual o roteiro do cineasta vai desvelando diante de nossos olhos a verdadeira personalidade de Cooper (Josh Hartnett). Ele é um tradicional pai de família norte-americano que se vê encurralado num gigantesco estádio recheado com 20 mil pessoas, aonde Cooper levou Riley (Ariel Donoghue), sua filha de 12 anos, para acompanhar o show da jovem cantora pop Lady Raven (Saleka Shyamalan).

Saleka, filha do diretor, iniciou uma carreira musical aos 24 anos (em 2020) e escreveu quatro canções para Armadilha. E, uma vez visto o filme,  é esquisito não parar de pensar o quão esta “pequena” obra de US$ 35 milhões (boa parte saída do bolso do próprio pai de Saleka)  não soa como um mega-estrutura promocional para a carreira da jovem cantora. 

Ela canta. Ela é pop. Ela é filha do diretor.

Como sempre, a respeito dos filmes do indiano,  convém não adiantar detalhes, mas as linhas de condução são as mesmas. Um punhadinho de informações aqui e outra ali para, aos poucos, irmos compreendendo o que realmente está por trás da história que corre diante de nós. 

Ainda por essa  linha, segurando-a e nos levando juntos, há o personagem com uma disfunção psíquica ou psicológica – ou, ao menos, com ele sendo assim apresentado para assim o percebemos – até a grande revelação ao final.  

Cooper (o bom Hartnett): por que tão tenso?

É verdade que não temos em Armadilha uma  grande revelação no final, ao estilo Scooby Doo, mas é como se tivéssemos, com a explicação-causa da confusão mental de Cooper, e do fatal vacilo do vilão, lá, mastigadinha, na derradeira conversa entre Cooper e sua esposa (Alison Pill). 

Parece concreto, também que Mr. Shyamalan elaborou as reviravoltas de seu roteiro como quem conta uma história de ninar para crianças. As inverossimilhanças são tantas que, fatalmente, o espectador sairá da sala com um outro personagem, além do Scooby Do, martelando a sua cabeça: o MacGyver (Richard Dean Anderson), protagonista da telessérie Profissão: Perigo, sucesso no Brasil entre 1986 a 1993, quando era exibido nas segundas-feiras à noite, pela TV Globo. 

Em Armadilha Cooper consegue o inimaginável, seja com um avental de cozinha, um crachá ou com um raio de alumínio. 

De qualquer forma, a “experiência” no slogan de Armadilha, com a qual distribuidora  da obra vende o filme, é divertida o suficiente, mas convém não levar a sério, embora, vale dizer, o diretor/roteirista consegue fazer um filme aqui sobre violência sem (quase) ser graficamente violento em seus 105 minutos. Isso não é pouco.

E Shyamalan, com o apoio do bom Hartnett como o desajustado do momento, consegue estabelecer aquela tensão divertida em ao menos um momento do filme: numa apreensiva conversa entre Cooper e a esposa ali perto do falso desfecho. 

E eles (os falsos desfechos) são muitos aqui, a ponto do espectador, a certa altura, perguntar a si mesmo: “mas isso não terá fim nunca?”. 

Talvez não.

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