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‘Grande Sertão: Veredas’ em mais uma adaptação

Dirigido por Bia Lessa, “O Diabo na Rua no Meio do Redemunho” ganha trailer e cartaz oficial

Por Yuri Lins | 08.08.2024 (quinta-feira)

– Com informações da assessoria de impressa do filme.

A obra-prima de Guimarães Rosa, Grande sertão: Veredas, ganha mais uma adaptação cinematográfica com o filme O diabo na rua no meio do redemunho, dirigido por Bia Lessa e estrelado por Caio Blat e Luiza Lemmertz nos painéis principais. A produção acaba de divulgar o seu trailer, cartaz oficial e data de estreia, chegando aos cinemas no dia 15 de agosto.

Quem conhece a trajetória da realizadora Bia Lessa sabe de sua dedicação ao universo de Guimarães Rosa. A diretora já havia realizado uma exposição no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, dedicada aos textos do autor, e posteriormente adaptou a obra para o teatro, com grande sucesso de público e crítica. Durante a pandemia, Lessa retomou as histórias de Riobaldo e Diadorim, desta vez para a linguagem cinematográfica, mantendo o mesmo elenco da peça teatral.

Cartaz oficial de “O Diabo na Rua no Meio do Redemunho” (2024).

Na peça, a própria contenção do palco levou Lessa e seu cenógrafo, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, a imaginar um cenário minimalista e, por conseguinte, bastante simbólico, onde os personagens ficavam confinados dentro de uma jaula. Esse minimalismo também é transportado para as telas de cinema, onde os atores habitam um cenário totalmente escuro, quase sem qualquer referencial geográfico concreto, onde as indicações de tempo e de espaço existem através da evocação do texto em cena, encontrando, assim, um modo cinematográfico para representar a radicalidade das invenções literárias de Guimarães Rosa, ainda que prescindindo da aridez real da paisagem sertaneja.

No ano de 2024, é possível dizer que Guimarães Rosa está na moda. Vale lembrar que Grande sertão: Veredas também foi adaptado recentemente pelo cineasta Guel Arraes em Grande sertão. Tanto o filme de Guel Arraes quanto o de Bia Lessa compartilham alguns atores, especialmente as figuras globais de Caio Blat e Luisa Arraes. Se, por um lado, a presença desses profissionais cria uma conexão natural entre as obras, o temperamento de cada filme é completamente diferente. Contudo, não é difícil imaginar Guel Arraes tendo assistido ao trabalho anterior de Bia Lessa no teatro, e a partir dali, escolhido alguns rostos para sua própria adaptação. A consequência, talvez, seja a saturação desses nomes e a comparação inevitável entre as obras.

Cena de “Grande Sertão” (2024), dirigido por Guel Arraes.

Em contraponto à investigação formal de Lessa, Arraes opta por uma releitura contemporânea da obra, transpondo a história para um cenário urbano e violento. Ao invés dos sertões e seus jagunços, a trama se passa em uma periferia dominada pelo tráfico, com Riobaldo como um professor envolvido em um submundo de gangues, tudo encapsulado no gênero favela movie para melhor concretizar o amplo desejo comercial de seus idealizadores. Arraes extrai o sentido aventuresco subjacente ao formalismo de Rosa, ampliando-o para conquistar o grande público e, quem sabe, popularizar o autor mineiro entre as novas gerações, ainda que ao preço de pouco pensar em um modo de equivaler cinematograficamente as invenções linguísticas contidas no livro.

Se a moda continuar, desejo que uma possível terceira adaptação cinematográfica da obra de Guimarães Rosa transcenda tanto a mera reinvenção de gênero quanto a radical abstração do aparato cinematográfico. Que a próxima versão seja uma síntese dessas experiências: com recursos suficientes para uma imersão nas verdadeiras veredas e, ao mesmo tempo, um abraço pleno à radicalidade da linguagem roseana. Grande sertão: Veredas, enquanto texto, permite ao cinema cumprir sua vocação como arte capaz de retratar a realidade em sua materialidade, englobando o que ela é, o que foi e o que pode vir a ser. Assim, poderíamos ver nas telas as paisagens sertanejas e os tipos que povoam as páginas dos romances de Rosa, permitindo um reencontro entre o mundo palpável que inspirou o autor e a rigorosa linguagem literária que ele lavrou. Quem, no cinema brasileiro contemporâneo, aceitaria tal empreitada? Sonhar não custa nada.

Assista ao trailer de O Diabo na Rua no Meio do Redemunho:

 

Confira a nossa crítica para Grande Sertão (2024):

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