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Críticas

Mais Pesado É o Céu

O céu é o limite

Por Luiz Joaquim | 08.08.2024 (quinta-feira)

Amanhã (9), tem partida a 52º edição de Festival de Cinema de Gramado. Hoje chega aos cinemas do Brasil o seu grande vencedor da edição 2023. Mais pesado é o céu, longa-metragem do cearense Petrus Cariry, foi celebrado também, importante lembrar, em diversos festivais mundo afora.

Mais pesado… saiu da Serra Gaúcha carregando os Kikitos de direção e fotografia (ambos para Petrus), montagem (Petrus e Firmino Holanda) e um como prêmio especial do júri para a atriz Ana Luiza Rios, que protagoniza o filme ao lado de Matheus Nachtergaele.

Mais do que esse primeiro reconhecimento pontual de Gramado validando o novo filme de Petrus, há uma coerência na trajetória temática e (principalmente) estética do realizador que já o consolida como uma das mais importantes expressões do cinema brasileiro contemporâneo (alguns, inadvertidamente, diriam do ‘cinema nordestino’). É uma expressão construída por uma trajetória de mais de 15 anos. E é isso que nos faz querer ver com olhos bem abertos o que esse cineasta joga no mundo.

Em Mais pesado… o cearense Antônio (Nachtergaele) volta de São Paulo em direção à barragem do Castanhão, onde está submersa a Velha Jaguabiraba, cuja história está muito bem contada no documentário Memórias da chuva, de Wolney Oliveira (ler aqui).

Antônio vai passar por lá antes de tentar a sorte numa nova possibilidade de ganhar a vida com um amigo. Mas, na beira do açude, conhece Teresa (Rios) que, minutos antes, encontra um bebê abandonado num barco e assume sua maternidade.

O encontro e percurso, agora unidos, desses dois andarilhos desvalidos é o caminho que faremos juntos em Mais pesado… Um caminho que esbarra numa generosa e também solitária dona de casa, Fátima (Silvia Buarque), e na funcionária de um pequeno restaurante de beira de estrada (Danny Barbosa).

No destino dos protagonistas, Petrus incute um sentido de “começo de tudo” a partir de uma terra arrasada. O que temos é um homem, uma mulher e um bebê, que passam a morar num casebre emprestado por Fátima, cujas forças se entrelaçam contra a urgência diário da fome.

Teresa se prostituindo, Antônio pedindo esmola na beira da estrada.

Nada mais tristemente trivial na história desse país do que a vida de Teresa e Antônio espelhada em muitas, milhares (milhões?) de outros brasileiros. É isso, também, o que faz Mais pesado… ser um filme que merece atenção. A arte (não o entretenimento) é a grande responsável, afinal, para dar visibilidade, com a devida força transformadora, ao invisível. E Petrus, com o senso trágico que estabelece para as suas crias, nos ajuda a enxergar essas dores, sobretudo as deste país que nos últimos oito anos vinha incitando o que há de selvageria e de barbárie no ser-humano.

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