X

0 Comentários

Festivais

48ª Mostra SP (2024) – Afogamento Seco

Sobre os pontos sem retornos da vida

Por Luiz Joaquim | 23.10.2024 (quarta-feira)

SÃO PAULO (SP) – Ele nasceu na Lituania, chama-se Laurynas Bareiša e devemos prestar atenção ao seu nome. Aqui na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Bareiša apresenta seu segundo longa-metragem Afogamento seco (Seses, Lituânia, 2024), já premiado em Locarno pela melhor direção e atuação para o coletivo de atores no filme.

Bareiša já havia chamado a atenção do mundo no seu primeiro longa – Peregrinos (2021) – quando foi eleito melhor filme na mostra Horizonte de Veneza. Agora, com Afogamento…, confirma que está no cinema para nos provocar, lembrando que algumas possibilidades narrativas são desenvolvidas apenas pela linguagem que o cinema oferece.

Em seu novo filme, Bareiša nos conduz a um ponto crítico na narrativa, acontecendo lá pela metade de sua duração. Daí, corta abruptamente para um outro tempo no futuro.

A iminência da morte de uma personagem é que marca aquele ponto crítico no meio do filme. Já no tempo futuro, o cineasta nos deixa no escuro, não dando pistas do que aconteceu àquela personagem. Terá morrido? Foi salva?

Após o corte abrupto, Bareiša nos informa imediatamente um novo dado. Sabemos que, no intervalo de tempo que não tivemos acesso, um outro personagem do grupo faleceu violentamente.

Daí adiante, Afogamento… alterna os dois tempos enquanto vai nos dando as respostas do que precedeu ao que já soubemos do ‘futuro’. O resultado é brihante e coloca o espectador como testemunha impotente da desgraça que ocorrerá com o personagem tragicamente morto.

Faz do espectador uma testemunha tensa, torcendo para que o acidente não acontece, muito embora o ‘futuro’ já tenha nos revelado aquele destino.

Lembra, em algum sentido, ao que Michael Haneke fez conosco com o seu Funny Games (1998).

Afogamento… não propões tensões de contexto social ou pessoal, exceto pela condição financeira do lutador Lukas (Paulius Markevicius), precisando de um empréstimo, que não consegue de nenhum banco, para comprar uma casa.

Cena de “Afogmento Seco”

Toda a história ocorre numa casa de veraneio perto de um lago para onde Lukas vai com a esposa Ernesta (Gelmine Glemzaite). Eles estão lá para comemorar o aniversário do filho e a recente vitória de Lukas. Quem os acompanha é sua irmã Juste (Agnes Kaktaite) e seu cunhado Tomas (Giedrius Kiela) com a filhinha dos dois. 

A aposta do filme está na sua forma. E Bareiša sai vencedor dessa aposta. Entregando uma tensão constante, enquanto o espectador vai tentando encaixar as peças do quebra-cabeças que ele espalha ali na metade de sua duração.

Há ainda uma provocação mais sutil com o espectador. Antes e depois do ponto de virada, há uma sequência com Ernesta e Jude escutando uma música e fazendo uma coreografia ensaiada. A coreografia é a mesma, mas a música não. Há ali, talvez, um outro código, pelo que é dito na letra de cada uma das músicas, talvez revelador. Mas isso só saberemos quando aprendermos lituano.

Mais Recentes

Publicidade

Publicidade