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Festivais

8º Cine Jardim (2024) – “Frevo Michiles”

Para frevar com Michiles

Por Luiz Joaquim | 15.10.2024 (terça-feira)

Se ontem (14) à noite, durante a abertura do 8º Cine Jardim: Festival Latino-Americano de Cinema de Belo Jardim (a 184 quilômetros do Recife), a plateia no Cinetratro Cultura foi embalada pelo lúdico da animação O sonho de Clarice, de Fernando Gutierrez e Guto Bicalho, hoje é dia de frevar.

O cineasta pernambucano Helder Lopes inaugura a competição de longas-metragens com o seu Frevo Michiles (2023) às 20h também no Cineteatro Cultural.

Lopes, que saiu ano passado do 7º Cine Jardim com o seu curta-metragem Um filme para Celso Marconi (co-dirigido com Paulo de Sá Vieira) contemplado com o “Prêmio Especial do Júri”, volta neste 2024 ao Agreste com o seu Frevo Michiles também já premiado. Quando exibido no 27º Cine-PE angariou a Calunga de trilha sonora e o prêmio da crítica, concedido pela Associação Brasileira de Crítico de Cinema – Abraccine.

E não podia ser diferente. Com olhos e ouvidos abertos, ou melhor, com lente e microfone boom abertos para o músico e compositor J. Michiles, o documentário de Helder é um convite à apreciação da beleza ao patrimônio cultural imaterial da humanidade que é o frevo pernambucano.

Quando desenhou um perfil para Celso Marconi no curta-metragem premiado ano passado, Helder já havia deixado claro o seu talento na preparação do terreno para nos apresentar seus personagens, sejam os protagonistas ou não, pelo silêncio da câmera que os observa em seu métier (e nos faz observá-los) para só depois o escutarmos oralmente em suas reflexões.

Pôster de “Frevo Michiles”

Não é diferente em Frevo Michiles, mas as primeiras imagens do longa-metragem trazem uma outra eloquência. Ao som de Sonho dourado, sua composição de 1983, colocada para vibrar pelo seu toca-disco, vemos por super-closes (na precisa fotografia de Marcelo Lacerda), apenas detalhes de Michiles. Um detalhe da mão que dedilha um violão imaginário, a boca que dubla em silêncio a letra da música, os óculos de sol que escondem os olhos, o medalhão inseparável do peito.

Nos dando apenas fragmentos de imagens desse ser musical, Helder, de partida, já provoca sua plateia: quem é esse J. Michiles? E, talvez, provocando para si próprio: Como montar o quebra-cabeça que nos entregará na tela o homem e o artista?

Até aí o espectador ainda não se dará conta que, na verdade, já conhece Michiles, ao menos pelas músicas que ele lançou ao mundo; a maioria pela voz de Alceu Valença.

Frevo Michiles com poucos recursos, algum bom material de arquivo e talento bem empregado resolve bem essa equação do quebra-cabeça.

Vendo o filme, alguém pode dizer que Michiles é um personagem fácil, que dá muito ao seu diretor e equipe, assim como a família solar do compositor tão bem registrada pelo documentário. Mas é igualmente trabalhoso condensar numa medida precisa algo tão eloquente e intenso como o que é mostrado aqui.

A sequência do almoço em família, quando Helder registra Maria da Conceição (Mirosa) interpretando Recife manhã de sol (1966), é belo exemplo da capacidade de Helder, administrando a câmera de Lacerda, em transpor com propriedade aquele amoroso calor familiar.

O mesmo se dá na performance com o neto entoando ao violão Isso aqui tá bom demais, quando Rômulo e Victor Santos agregam letras de musicas do avô numa mesma narrativa. É a expressão corporificada do que Michiles diz num dos depoimentos: O tempo voa, a vida passa rápido e as novas gerações irão fatalmente fazer a sua parte.

Material de arquivo em “Frevo Michiles”

Como já fazem também os filhos César Michiles, também músico, e Michelle Assunção, jornalista e crítica de música. Mas de um coisa Michiles tem certeza: muitas e muitas gerações futuras ainda irão ouvir bastante suas composições.

Se você duvida é por que ainda não viu Frevo Michiles. E o Cine Jardim te da esse oportunidade imperdível logo mais.

AO AR LIVRE – Mas há outro programa bom também à noite provido pelo 8º Cine Jardim. A partir das 19h, no Parque Janelas para o Rio (antigo Parque do Bambu), a “Mostra ao Ar Livre” apresenta os curtas-metragens Habitar (SP, 2023), de Antônio Fargoni, Carol (PE, 2024), Bruno Tavares; Casulo (SP, 2024), de Aline Flores; e Aracti (PB, 2024), de Veruza Guedes.

O acesso é gratuito. A qualidade é garantida.

O crítico Diego Benevides.

OFICINAS – O festival, tradicionalmente, também oferece ações formativas. Por elas, iniciou às 9h de hoje (15) a oficina “Documentando Realidades”, ministrada por Marlon Meirelles. Já “Crítica de Cinema”, com o cearense Diego Benevides, começa logo mais (às 13h).

Na primeira, Meirelles  convida os participantes a explorarem a força de um documentário como forma de expressão e transformação social. Ao longo do curso, os alunos serão guiados por etapas da produção documental, desde a concepção da ideia até a finalização do filme. Com foco em técnicas de narrativa, entrevistas e captação de imagens, os participantes têm a oportunidade de desenvolver suas próprias histórias, exercitando o olhar crítico e criativo.

Já em “Crítica de Cinema”, Benevides propõe apresentar o papel da crítica na formação do pensamento cinematográfico. A partir de aulas expositivas e debates de filmes, as pessoas inscritas são encorajadas a pensar os fundamentos da apreciação da arte e os pressupostos do conhecimento especializado sobre cinema, entendendo a crítica como atividade dos campos da comunicação e da cultura. O curso também quer estimular a reflexão sobre os diversos formatos, metodologias e estratégias da crítica de cinema na atualidade e compreender os processos de análise, diálogo e interpretação dos filmes.

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