8º Cine Jardim (2024): “Mais um Dia, Zona Norte”
Allan e o seu cinema que sussurra
Por Luiz Joaquim | 19.10.2024 (sábado)
– na foto divulgação, acima, a personagem Valéria em cena de Mais um dia, Zona Norte.
A noite de ontem (18) do 8º Cine Jardim: Festival Latino-Americano de Cinema de Belo Jardim apresentou Mais um dia, Zona Norte (RJ, 2023). Filme do craque Allan Ribeiro que, com este filme, em dezembro do ano passado, arrebatou nada menos que sete prêmios num dos mais tradicionais festivais de cinema do país: o festival de Brasília. Entre os prêmios, o de melhor filme do júri oficial e o do júri da crítica (Abraccine).
O cinema de Allan torna-se a cada dia mais sofisticado por suas escolhas, não apenas estética mas também temática. Isto porque aquilo que poderia ser visto como trivial – mais um dia na vida de quatro suburbanos cariocas – ganha dimensões universais. E não pelo superlativo, mas sim pelo minimalismo.
E dar bom ritmo e interesse a um filme pelo minimalismo estético ou temático é tão ou mais complexo quanto fazer o mesmo quando se tem o conforto das infinitas possibilidades de produção e de narrativa.
Allan, neste filme – assim como noutros de sua carreira -, não quer provar teses, não quer comover pela humildade e não quer dar dignidade a seus personagens reais (porque eles já a tem). Nada disso parece ser ser uma questão.
Allan parece querer fazer, e consegue, um registro limpo (ainda que ensaiado) da vida comum destes quatro personagens comuns e, por esse registro, iluminar, com luz suave, todo um contexto social que conhecemos tão bem, mas muitas vezes não nos atentamos para as suas nuances.
A beleza e a empatia pelos personagens que vivenciamos como resultado do trabalho de Allan repousa no fato de que o cineasta consegue representar cinematograficamente um ambiente humano sem intervir com as impurezas (ou, ao menos, intervindo com um mínimo de impureza) na construção dessas pessoas e da sua realidade.
E é nessa limpidez que está a beleza do cinema de Allan Ribeiro. São filmes que correm sem tropeço, com a firmeza de uma convicção, ou, ao menos, com um compreensão de onde quer chegar. Não é coisa simples de fazer.
São nas brechas das histórias triviais contadas pela servidora da limpeza pública do Rio de Janeiro, Valéria, pelo animador Victor Veiga, pelo vendedor de vinil Silvio e da estudante Lara que conhecemos um tantinho da essência de suas vidas.
E, curiosamente, Allan nos entrega isso mediado por registros em vídeo ou áudio feitos com smartphone dos personagens. Seja na memória de Valéria sobre esquecer de voltar a Zona Norte após um domingo de praia na Zona Sul, seja pela conversa no videofone entre Lara e seu namorado, ou quando Victor promete numa ligação a mãe que a atenderá, passando, no final do expediente, num mercado para comprar e levar fruta pra casa. No caso de Silvio, o vemos (escutamos) ao fone, oferecendo a um amigo uma de suas perucas para uma performance num bar.
Para nossa satisfação, Allan não para e em breve, chega ao circuito exibidor seu mais recente filme, O dia da posse (leia crítica clicando aqui).
E hoje (19), o 8º Cine Jardim, anuncia os vencedores da mostra competitiva, uma tarefa, como se percebe, nada fácil a ser definida pelo júri oficial.
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