Em maio, o festival de cinema de Cannes, um dos mais respeitados do mundo, incluiu em sua concorrida competição oficial o filme Motel destino, de Karim Aïnouz. Rodado no Ceará, nordeste do Brasil, Motel destino obteve destaque no festival francês e, de lá, ganhou o mundo. Garantiu assim uma larga distribuição em salas de cinema por dezenas de países, incluindo Portugal, tendo estado em cartaz, inclusive, na cidade do Porto entre os meses de setembro e outubro.

Por conta da passagem por Cannes, Karim Aïnouz contou que, após a exibição apresentar o quente triângulo amoroso mostrado no filme, a maioria das perguntas da imprensa era: “Mas onde fica o Ceará?”.

Não é apenas pelo sucesso internacional conquistado por Motel destino que a 2ª edição da mostra CineBRPorto – que iniciou sexta-feira (15) e  encerra neste domingo (17) do no Instituto Pernambuco-Porto Brasil (Portugal) – está jogando o seu foco no cinema contemporâneo feito no Ceará.

É também pela excepcional performance do cinema cearense no circuito exibidor brasileiro deste 2024, tendo colocado, até o momento, cinco novos filmes em cartaz e relançado um clássico brasileiro em versão restaurada (Corisco e Dadá, 1996, de Rosemberg Cariry).

O 2º CineBRPorto está oferecendo, em sessões gratuitas, quatro dessas obras lançadas em 2024 no Brasil, dando chance aos nossos espectadores de entender melhor “onde fica o Ceará”. Mas não apenas pelo aspecto geográfico do estado nordestino brasileiro mas também pelo que há de universalmente humano e pelo que há de cinematograficamente inventivo.

Com uma seta apontada para a instituição família (tradicional ou não), os quatro filmes – Estranho caminho (2024), de Guto Parente; Quando eu me encontrar (2023), de Amanda Pontes e Michelline Helena; A filha do palhaço (2024), de Pedro Diógines; e Mais pesado é o céu (2024), de Petrus Cariry – cada um a seu modo, ora encantando, ora assustando, ora abrindo os nosso sorrisos – juntos eles problematizam os conflitos e as aproximações próprias da relação pai x filho e da relação mãe x filha.

Cena de “Quando eu me encontrar”, que encerra a mostra no domingo, 17 de novembro.

O resultado desta coleção de filmes nos abre um rico painel sobre uma geração de realizadores cearenses afiados na representação de seu povo e de suas inquietações, que podem ser reconhecidas em qualquer lugar do mundo,

A família também é um ponto central no filme de abertura deste 2º CineBRPorto. Corisco e Dadá – recém-relançado nos cinemas do Brasil com resolução 4K – nos leva ao início do século passado, à época do cangaço no Nordeste brasileiro, para nos colocar lado a lado, colados, ao triste destino da menina Dadá (Dira Paes) sequestrada pelo capitão Corisco (Chico Diaz) que a transforma em sua companheira enquanto sofrem a sina dos cangaceiros.

Como bônus, a mostra traz um ponto fora da curva. Um segundo filme de Guto Parente, Clube dos canibais, lançado em 2018, no qual o talentoso diretor põe em prática o melhor da sua ousadia criativa cinematográfica ao representar o pior da burguesia local por meio de uma alegoria tenebrosa, envolvendo costumes bem incomuns entre ricos e políticos.

A mostra CineBRPorto é uma correalização da Fundação Joaquim Nabuco e do Instituto Pernambuco-Porto Brasil sem fins lucrativos e contando, nesta edição 2024, com o apoio das distribuidoras brasileiras Embaúba Filmes e Sereia Filmes

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Programação

Sexta-feira, 15 novembro (abertura) 

20h – Corisco e Dadá (1h45) 16 anos

Sábado, 16 novembro 

16h – A Filha do Palhaço (1h44) 16 anos

18h – Mais pesado é o céu (1h38) 16 anos

20h – O Clube dos Canibais (1h24) – 18 anos

Domingo, 17 novembro 

17h – Estranho Caminho (1h24) 14 anos

19h – Quando eu me encontrar (1h17) 16 anos

– entrada franca, mediante capacidade do auditório (100 lugares)

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FILMES

Corisco e Dadá (1h45) 16 anos 

A Filha do Palhaço (1h44) 16 anos

Mais pesado é o céu (1h38) 16 anos

O Clube dos Canibais (1h24) – 18 anos

Estranho Caminho (1h24) 14 anos

Quando eu me encontrar (1h17) 16 anos

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SINOPSES

Corisco e Dadá (Brasíl, 1996)

105 minutos / 16 anos / Scope / Sereia Filmes. Ficção de Rosemberg Cariry. Com Chico Diaz, Dira Paes, Virginia Cavendish

Dadá foi sequestrada aos 12 anos de idade pelo cruel Capitão Corisco e passou a viver a difícil vida do cangaço. Aos poucos, surge um companheirismo entre os dois, capaz de transformar o ódio em um amor que muda a história do cangaceiro. 

A Filha do Palhaço (Brasil, 2024)

104 min | 16 anos |  Scope | Embaúba Filmes

Ficção. De Pedro Diógenes. Com Jesuíta Barbosa, Mateus Honori, Démick

Lopes. 

Joana, uma adolescente de 14 anos, aparece para passar uma semana com

o pai, Renato, um humorista que apresenta seus shows em churrascarias,

bares e casas noturnas de Fortaleza, interpretando a personagem

Silvanelly. Apesar de mal se conhecerem, pai e filha terão que conviver

durante essa semana, vivendo novas experiências, que irão transformar

sua relação e suas vidas.

Mais Pesado é o Cèu (Brasil, 2024)

98 min / 16 anos / Scope / Sereia Filmes. 

Ficão de Petrus Cariry. Com Matheus Nachtergaele, Ana Luiza Rios, Sílvia Buarque, Danny Barbosa, Buda Lira.

Após acolher uma criança abandonada, Teresa conhece Antônio e os dois iniciam uma jornada pelas estradas. O passado em comum, para eles, são as memórias de uma cidade submersa no fundo de uma represa. A vida é sonho, mas o futuro é a incerteza.

O Clube dos Canibais (Brasil, 2019)

84 min / 18 anos . Ficção de Guto Parente. Com  Pedro Domingues, José Maria Alves, Rodrigo Capistrano, Rodrigo Fernandes, Tavinho Teixeira.

O filme mostra a história de Otavio e Gilda, um casal da elite brasileira que tem o hábito de comer seus empregados. Otavio é dono de uma empresa de segurança privada e é um dos principais membros do Clube dos Canibais. Quando Gilda acidentalmente descobre um segredo dos Borges, um poderoso político e líder do clube, ela e seu marido entram em um grande perigo.

Estranho Caminho (Brasil, 2024)

84 min | 14 anos |  Flat | Embaúba Filmes

Ficção. De Guto Parente. Com Lucas Limeira, Carlos Francisco, Tarzia

Firmino.

Um jovem cineasta que visita sua cidade natal é surpreendido pelo rápido

avanço de uma pandemia e precisa encontrar seu pai, com quem não fala

há mais de dez anos. Depois do primeiro encontro, coisas estranhas

começam a acontecer.

Quando Eu Me Encontrar (Brasil, 2023)

77 min | 16 anos | Flat | Embaúba Filmes

Ficção. De Amanda Pontes e Michelline Helena. Com Luciana Souza, David

Santos, Pipa, Di Ferreira.

A partida de Dayane se desenrola na vida daqueles que ela deixou para

trás. Sua mãe, Marluce, faz de tudo para não demonstrar o choque que a

partida da filha lhe causou. A irmã mais nova de Dayane, Mariana, enfrenta

alguns problemas na nova escola onde está estudando. Antônio, noivo de

Dayane, se vê num vazio diante da partida dela e busca obsessivamente

por respostas.