
The Alto Knights: Máfia e Poder
Cinemão, no melhor dos sentidos, com De Niro em dose dupla.
Por Luiz Joaquim | 20.03.2025 (quinta-feira)

“Absolute Cinema” estampa o famoso meme com o Scorsese e suas mãozinhas pro alto. Se a ideia fosse fazer uma crítica com uma imagem, ela seria essa para The Alto Knights: Máfia e poder (EUA, 2025), dirigido por Barry Levinson, prestes a completar 82 anos. Se jovens cineastas vissem o novo filme de Levinson talvez até pensassem: “hmm, seria bom envelhecer como ele”.
É bem revigorante ver um veterano pegar um belo roteiro de outro veterano, Nicholas Pileggi (92 anos), e criar algo tão vibrante, atual e sedutor como Alto Knights. Criar algo que pode suscitar a memória do bom cinema dos anos 1930, 1970, 1980, 1990? Mas isso é possível? Dê um pulo numa sala de cinema para ver o novo Levinson.
Para quem tem memória curta – ou nem a tem -, vale resgatar que Levinson começou a cavar o seu espaço nos filmes lá em 1968, tendo já assinado Bom dia, Vietnã (1988), Rain man (1988), Avalon (1990), Bugsy (1991).
Já Pileggi é o homem das letras por trás de Os bons companheiros (1990), Cassino (1995), O irlandês (2019), só para citar três pedradas no campo da Máfia, dirigidas por outro veterano, o Scorsese do meme.
Mas como currículo não é garantia de qualidade (e sim um indicativo de potencial), o importante é perceber ‘como’ The Alto Knights faz seu brilho suscitar o meme do Scorsese, que, à propósito, parecia ser o nome lógico para assinar a direção desse roteiro de Pileggi.
Isso porque, aqui, revisitamos aquele universo já muito representado por Scorsese no cinema: cerca de cinco décadas da história dos EUA no século passado, partindo da Lei Seca, nos anos 1920, até a Máfia italiana se envolver no tráfico de drogas, nos anos 1960/1970.
O fio condutor é a amizade/rija dos parceiros Frank e Vito – ambos personagens interpretados por Robert De Niro, outro deleite oferecido por The Alto Knights, com De Niro calibrado em seu melhor para mais um mafioso aterrorizante.

Vito atrás (De Niro) e Frank na frente (De Niro também).
E bastam os quatro minutos iniciais do filme para Levinson/Pileggi apresentarem não só a origem dos dois amigos, mas também a complexidade dela em função do temperamento oposto de cada um. Frank diplomático, Vito intempestivo e sanguinolento. Com espaço ainda para introduzir o início do romance entre Frank e a sua futura esposa Bobbie (Debra Messing, a eterna Grace da telessérie Will & Grace).
Com esse primor de prólogo, a publicidade de Alto Knights poderia facilmente empregar o slogan: “Seu envolvimento total nos quatro primeiros minutos ou o seu dinheiro de volta”. Dá um particular prazer ver uma introdução assim, até porque nos faz lembrar, na hora, que ainda restam outros 116 minutos de maestria a ser projetada na tela.
A primeiríssima sequência do filme nos coloca na Nova Iorque de 1957, com Frank Costello voltando para seu luxuoso apartamento de um importante evento da alta sociedade, quando, prestes a entrar no elevador, leva um tiro na cabeça. O mandante: seu amigo Vito.
Uma simplificação do enredo de Alto Knights (nome da boate que Frank e Vito dirigiram nos anos 1920) pode dizer que na história seguimos os dois amigos ítalo-americanos ao longo das décadas em suas escaladas pela Máfia e na sedimentação de uma organização nacional, para a surpresa do FBI, até o atentado sofrido por Frank em 1957.
A dupla atuação de De Niro só revela a estatura desse ator que sempre merece bons personagens. De Niro dá uma dimensão trágica para a amizade dos amigos Frank e Vito, e tem a chance aqui – muito bem aproveitada -, de não apenas dar vida a um homem sensato e a outro insano, mas fazê-los contracenar um com o outro.
Uma cena: Frank no conforto de sua casa assiste pela televisão o filme Fúria sanguinária (1949) com James Cagney: aquele que foi em Hollywood, nos anos 1930 e 1940, o que foi o De Niro das Máfias ao longo de sua carreira. A cena é carregada no estilo hollywoodiano da época, e a cara que De Niro faz para o seu Frank é impagável diante do que vê no filme. Dá o tom certeiro do descolamento da realidade vivida pelo sensato Frank e da Hollywood naqueles anos. É uma cena silenciosa que sintetiza bem a persona de Frank. Nada menos que genial.
Nas sequências com a dupla Frank e Vito em cena, os efeitos especiais fazem a sua parte primorosamente, assombrando o espectador leigo, mas a maquiagem deixa um tanto a desejar. Dá à aparência de Frank algo um tanto irregular (e de Vito também) e até lembrando, em certos momentos, o nosso Renato Aragão.
Há um outro senão em Alto Knights: a entrada de um jovem mafioso de Vito, o Frankie Boy (Belmont Cameli), na trama. Ela é solta. Há um pulo de um contexto a outro no terceiro terço do filme e é lá que Frankie Boy brota, deixando o espectador com a sensação de que passou por um vácuo, ou que dormiu por cinco minutos. Como se o montador do filme, Douglas Crise, tivesse sido obrigado a encolher a minutagem da obra, seja qual for o motivo de quem o obrigou.
Mas isso é nada perto do todo que significa The Alto Knights. Vá e não pisque, ou você corre o risco de acusar o filme injustamente de confuso, por conta de uma confusão gerada na ignorância de sua piscada.
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