11º Fest. Latino-SP (2016) – coprodução inter.
Como andam as articulações latino-americanas com produtoras estrangeiras?
Por Luiz Joaquim | 24.07.2016 (domingo)
SAO PAULO (SP) – Dentro do bloco de seminários e debates promovidos pelo 11o Festival de Cinema Latino-americano de SP, dois foram destaque ontem (23/07) com o primeiro, pela manhã, oferecendo um panorama a respeito da lógica da atual coproduçåo internacional do nosso cinema e o segundo, à tarde, interessado em desdobrar as possibilidades de difusão entre nós do cinema produzido pelos latino-americanos.
No encontro da manhã, Emilie Lesclaux (na foto acima, crédito Mário Miranda Filho), da produtora pernambucana CinemasCópio (de Aquarius) chamou a atenção para a importância da circulação da produtora por festivais, lembrando que o espaço que O som ao redor (2012) conquistou chamou a atenção de potenciais produtores estrangeiros. Foi o caso do francês Said [Ben Said], “Ele disse que estava interessado em colaborar com o próximo projeto de Kleber [Mendonça Filho], e quando fomos lhe falar do roteiro, ele disse que nem queria saber”, recordou.
Nesse ponto, Emilie revela que receia quando vê um produto com a participação de muitos coprodutores, tendo o roteiro passando por vários laboratórios. “O resultado pode sofrer muitas influências e cobranças além das necessárias”.
Como um novo projeto em coprodução internacional, a francesa adiantou que em outubro deve já iniciar as gravações de Isolar, novo filme de Leonardo Sette [de Hiper-mulheres]. No caso, serão apenas imagens capitadas em função das eleições. “Será um filme de orçamento pequeno, e por ter locações na Amazônia terá uma logística diferente”, conta. A maior parte das gravações, entretanto, tomam início no primeiro semestre de 2017. O projeto ganhou um edital de Portugal que contempla quatro obras – duas portuguesas e duas brasileiras -, recebendo cada uma US$ 150 mil. A parceira lusitana da CinemaScopio será a Rosa Filmes.
Já a convidada do Uruguai para o debate, Agustina Chiarino – da Control Z Films e da Mutante Cine – destacou que todas os trabalhos em seu país funcionam por coprodução. “É praticamente impossível produzirmos apenas com recursos uruguaios”.
Assim como Emilie, Agustina reforça que vê como negativo mudar o roteiro em função de apoios. “A pergunta que devemos fazer numa coprodução é: qual a necessidade específica desse projeto? Coisas óbvias como locações, atores. Um produtor elege sócios técnicos e isso também é parte do processo criativo”, diz a uruguaia que trabalhou ao lado de Gustavo Pizzi no longa carioca Riscado (premiado em Gramado, 2011).
A terceira convidada, a argentina naturalizada chilena, Gabriela Sandoval, da Storyboard Media e também a frente do Santiago Festival Internacional de Cinema, lembrou o foco do filme deve orientar a busca pelos parceiros internacionais. “Se seu projeto tem o perfil de um cinema de gênero, os melhores parceiros estão nos EUA e no México. Se estiver trabalhando em algo mais autoral, então o destino e a Europa, principalmente a França”, sugeriu.
No Chile, completou, a grande parceria se dá com a Argentina. E assim como Emilie, Gabriela lembrou da importância de circular em festivais. “Devendo ser claro qual festival combina melhor com o seu produto”.
Numa das perguntas da platéia, sobre a atuação da Ibermedia nas coproduções, Emilie aproveitou para explicar que o apoio francês para Aquarius chegou no “último minuto do segundo tempo”, possibilitando a conclusão do filme, e com isso nem todos os pré-requisitos que dariam uma binacionalidade ao filme foram cumpridos. “Aquarius tinha um final alternativo, que quase foi gravado na França, mas não aconteceu”.
Agustina alertou que em processos assim, sendo firmado 80% do custeio da produção pelo pais de origem do filme e 20% pelo país coprodutor resulta numa dinâmica problemática para países pequenos, como o Peru, por exemplo, quem tem dificuldades para levantar recursos que atijam o percentual necessário para firmar a parceria.
*Viagem a convite do festival.
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