9º Triunfo (2016) – balanço / premiação
Um festival interessante, que poderia tornar-se extraordinário e inclusivo.
Por Luiz Joaquim | 15.08.2016 (segunda-feira)
O 9º Festival de Cinema de Triunfo (PE) encerrou na noite de sábado (13/08) premiando Para minha amada morta, de Aly Muritiba, como o melhor longa-metragem da competição. O mesmo levou também os prêmios de melhor direção, roteiro, montagem, produção (?), e melhor ator para Fernando Alves Pinto (veja lista completa dos premiados ao final deste texto).
No belo Cine-Theatro Guarany, com vista para o cartão postal da cidade, o lago João Barbosa, foram exibidos filmes brasileiros em competição e fora de competição. Foram realizadas homenagens, oficinas, seminários e mostras itinerantes. Com isso, o Festival, em seu 9º ano consecutivo, parece ter chegado naquilo tudo que a demanda tradicional pede de um festival de cinema nacional.
Mas não chegou.
Os avanços atingidos do início do festival (leia aqui análise feita pelo CinemaEscrito em 2009) até hoje foram largos, e a equipe coordenada por Milena Evangelista e Shirley Hunther – o festival é realizado pela Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE)/Fundarpe – merece todos os louros pelas conquistas alcançadas.
Há, entretanto, ajustes que podem deixar o festival não apenas interessante (como foi neste 2016), mas extraordinário. A primeira delas e torná-lo um patrimônio da cidade. Para isso sua própria população precisa desejá-lo.
Movimentos já foram dados no sentido de criar esse desejo, uma vez que, conforme informa o release para a imprensa divulgado pela Secult-PE, durante os seis dias de atividades, “mais de 3 mil pessoas” foram contempladas pelo festival, incluindo as alcançadas por uma reduzida programação itinerante do evento – inaugurada nesta edição – acontecendo Serra Talhada e Afogados da Ingazeira.
O detalhe nessa população de espectadores é que boa parte dela foi composta por estudantes da rede de ensino das regiões próximas a Triunfo, como Jatiúca, Canaã, Jericó, Santa Cruz da Baixa Verde, Manaíra, Princesa Isabel e Flores. Muitos destes pequenos, inclusive, acessaram ali uma sala de cinema pela primeira vez. Aí esta um grande gol do Festival de Triunfo.
Ao mesmo tempo, a estrutura de exibição disponibilizada pelo Cine Guarany ainda não oferece a “magia” – para usar uma palavra que muitos gostam de empregar para promover o cinema -, na potência que ela pode proporcionar.
E não apenas para as crianças, mas para qualquer espectador em qualquer sessão dali. Isto porque o Guarany não está equipado com poltronas próprias, mas com cadeiras soltas e desconfortáveis para o propósito de uma sala que não tem inclinação correta; deixando a postura de olhar para a tela sem conforto se consideramos a duração dos filmes e da programação.
O Cineteatro também não possui refrigeração interna e nenhum canal de ventilação com o ambiente externo do prédio (que à noite costumava marcar entre 17 e 19 graus centígrados); ou seja, com pouco mais de 30 minutos de iniciadas, sessões que duravam cerca de 3 horas (entre curtas e longas) começavam a incomodar pelo calor intenso, o que, logicamente, interfere no modo de recepção da obra pelo público.
Na noite de sexta-feira (12/08), por exemplo, ao apresentar o documentário Umbigo, sua personagem, Valdeci Santana, pediu a platéia: “Vi muitas pessoas deixando a sala na noite anterior, acho que por causa do calor. Por favor, fiquem hoje até o início do filme porque vale a pena”.
Por fim a sonorização e projeção do Guarany contratados especificamente para o Festival desta edição eram (sendo generoso) aceitáveis, mas longe do que se entende como uma projeção profissional, ou seja, com a qual salientasse os contraste e nitidez da imagem, e que apresentassem uma calibragem adequada no som.
Voltando ao ponto do “sua própria população precisa desejar” o Festival de Triunfo, é importante dizer que tal conquista não acontecerá por meio de um evento anual, por melhor que seja realizado. Se assim permanecer irá, no máximo, fidelizar alguns poucos jovens locais interessados em cultura, além das crianças que por ali chegam conduzidas pelas escolas a partir de um chamado da coordenação do festival. Coisa que já vem sendo feita.
Para dar o passo seguinte os movimentos seriam dois. Primeiro a requalificação técnica do Guarany – pelo conforto (poltronas, ar-condicionado), e de experiência cinematográfica (com projeção digital profissional e som dolby).
Uma vez equipado, estabelecer exibições contínuas de cinema, com uma programação semanalmente atualizada – como qualquer sala de cinema funciona –, o que potencialmente daria início a uma nova cultura para a população de Triunfo. A de sair de casa para ver um lançamento simultâneo no País pelo Cine Theatro Guarany.
Só pelo carinho construído a partir dessa nova cultura estimulada o Festival de Cinema de Triunfo talvez pudesse vir a funcionar como o ápice de um evento cinematográfico daquela bela cidade, não apenas para os convidados, mas também para os moradores dali.
Uma vez que recursos financeiros são cada vez mais escassos, talvez seja o caso de se pensar em reservar uma fatia do que iria para a produção da próxima edição do festival, e direcioná-lo à requalificação técnica do Cine-Theatro.
Não seria o caso de interromper o Festival – isso poderia iniciar um caminho sem volta (vide o caso de Paulínia-SP) – mas torná-lo menor, simbólico em 2017 para no ano seguinte surgir mais forte, já com um “novo” Guarany equipado e em pleno funcionamento.
PROGRAMAÇÃO – Para ganhar projeção nacional, a grade da programação precisaria buscar novos filmes para a sua competição. Não que deixasse de apresentar os recentes títulos da região já vistos em outros festivais ou mesmo já lançados no circuito comercial – uma vez que eles nunca chegam ao Sertão do Pajeú senão pelo festival -, mas agendá-los numa mostra paralela.
A conquista do interesse nacional (e da corporativa imprensa pernambucana, ainda não conquistada) pelo festival justificaria, por exemplo, um seminário já realizado neste 2016, no caso o Diálogos da ABPA: a importância dos arquivos regionais (feito em parceira com a Fundaj), e uma master class proferida pelo arquiteto especialista em salas de cinema, Osvaldo Emery, que veio da regional do MinC do Rio de Janeiro para Triunfo. Foram eventos que mereciam uma plateia maior daquela que o acompanhou em função de sua temática e dos nomes de competência nacional que a integrou.
Um caminho que parece já bem traçado pelo evento são suas oficinas, tomando como exemplo as oferecidas nesta edição: Documentando, por Marlon Meirelles; Experimentando animação, por Paulo Leonardo; Videoclipe experimental, com Ana Olívia e Marco Bonacha; além da oficina criativa As maiores historinhas brasileiras de todos os tempos, com Lucas Fonseca.
O resultado (vídeos) destas oficinas foi apresentado antes do anúncio da premiação na noite de sábado (13/08) e todos os trabalhos surpreenderam, mostrando-se melhores do que qualquer outro do gênero produzido, por exemplo, ao longo do histórico do Cine-PE.
São enfim, movimentos que apontam a evolução do Festival de Cinema de Triunfo, e reafirmam sua importância já conquistada. E são também outros movimentos que podem, enfim, vir a mostrar aos moradores dali que este Festival deve ser primeiramente para eles.
PREMIAÇÃO
TROFÉU CINECLUBISTA DE MELHOR FILME PARA REFLEXÃO.
– Exília, de Renata Claus
Menções Honrosas:
– Aroeira, de Ramon Batista
– Cumieira, de Diego Benevides
– Quem matou Eloá, de Lívia Perez
PRÊMIO ABD-PE/APECI
– Black Out, de Felipe Peres
PREMIAÇÃO DO JURI POPULAR
– Melhor Curta-Metragem da Mostra Competitiva dos Sertões:
Joaquim Bralhador, de Márcio Câmara
– Melhor Curta-Metragem da Mostra Competitiva Pernambucana:
Um brinde, de João Vigo
– Melhor Curta-Metragem da Mostra Competitiva Infanto Juvenil:
Ana e a Borboleta, de Isabela Veiga
– Melhor Curta-Metragem da Mostra Competitiva Nacional:
Em Defesa da Família, de Daniela Cronemberger
– Melhor Longa Metragem da Mostra Competitiva Nacional:
Danado de Bom, de Deby Brennand
PREMIAÇÃO DO JÚRI OFICIAL DO FESTIVAL
CATEGORIA CURTA METRAGEM:
– Melhor atriz:
Ceronha Pontes, pelo filme Elogio do Tremor
– Melhor ator:
Tavinho Teixeira, pelo filme Ainda me Sobra Eu
– Melhor Som:
Danilo Carvalho, pelo filme A Clave dos Pregões
– Melhor Trilha Sonora:
Cosmo Grão e Samuel Nóbrega, pelo filme Catimbau
– Melhor Direção de Arte:
Gustavo Guedes, pelo filme Cuscuz Peitinho
– Melhor produção:
Equipe do filme Dalivincasso
– Melhor Montagem:
Filme Em Defesa da Família
– Melhor Fotografia:
Adalberto Oliveira, pelo filme Tarja Preta
– Melhor Roteiro:
Diego Benevides, pelo filme Cumieira
– Melhor Direção:
Felipe Peres, Adalmir da Silva, Francisco Mendes, Jocicleide Oliveira, Sérgio Santos, Paulo Sano pelo filme Blackout
– Melhor Filme da Categoria Curta-Metragem dos Sertões:
Praça de Guerra, de Ed. Junior
– Melhor Filme Infanto Juvenil:
Ilha das Crianças, de Zeca Ferreira
– Melhor Filme Pernambucano:
Exília, de Renata Claus
– Melhor Filme da Categoria Curta-Metragem Nacional:
Quem matou Eloá?, de Lívia Perez
CATEGORIA LONGA-METRAGEM NACIONAL
– Melhor Personagem de Longa-Metragem:
Valdeci Santana, pelo filme Umbigo
– Melhor ator:
Fernando Alves Pinto, pelo filme Minha Amada Morta
– Melhor Atriz:
Sabrina Greve, pelo filme Todas as Cores da Noite
– Melhor Som:
Danilo Carvalho e Érico Paiva, pelo filme Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós
– Melhor Trilha Sonora:
Filme Danado de Bom
– Melhor Direção de Arte:
Sérgio Silveira, filme Clarisse ou Alguma Coisa sobre nós Dois
– Melhor Produção:
Equipe do filme para Para Minha Amada Morta
– Melhor Roteiro:
Aly Muritiba pelo filme Para Minha Amada Morta
– Melhor Montagem:
João Menna Barreto, pelo filme Para Minha Amada Morta
– Melhor Fotografia:
Petrus Cariry, pelo filme Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois
– Melhor Direção:
Aly Muritiba, pelo filme Para Minha Amada Morta
– Melhor filme da categoria Longa Metragem:
Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba
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