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Críticas

Z: A Cidade Perdida

Filme de James Gray é vendido como filme de aventura, mas é o épico do espírito humano de um explorador.

Por Luiz Joaquim | 06.06.2017 (terça-feira)

Há um pequeno tesouro escondido nos multiplex, desde o 1º de junho, que em breve deverá dissipar-se em ar. Chama-se Z: A cidade perdida (The lost city of Z, EUA, 2017), de James Gray, e serve como um belo exemplo de como um filme pode ser vendido pelo que não é (vide seu trailer), frustrando quem o compra assim (fãs de filmes de aventura), e deixando desavisados aqueles pelo qual o filme poderia tornar-se um relativo sucesso (fãs de cinema).

Gray, que também assina o roteiro adaptado de Z a partir do livro de David Grann, começou a ganhar um maior número de admiradores no Brasil pelo seu superestimado Amantes (2008), mas consolidou mesmo seu nome como cineasta de rara sensibilidade com o filme posterior, Era uma vez em Nova York (2014).

Agora com Z, seu sexto filme, o realizador norte-americano coloca-se num terreno indefinido. Dirige este épico de um homem só, o explorador inglês Percy Fawcett (Charlie Hunnam, também em cartaz com Rei Arthur, a lenda da espada), mas mantem-se ainda no campo da introspecção de seu protagonista para contar uma história real.

Uma história que toma 20 anos, entre 1905 e 1925, do verdadeiro Fawcett, quando iniciou uma exploração na Amazônia, para mapear a divisa entre a Bolívia e o Brasil em 1906.

Há no desenho humano que Gray dá ao seu Fawcett – com este sendo servido por uma comovente precisão dosada por Hunnam – algo de muito nobre. Logo de início, sabemos que o militar Fawcett não dá a mínima para medalhas, mas sabe que elas são necessárias para conseguir patentes e oferecer uma melhor vida à esposa e ao filho pequeno.

Resgatar o prestígio do nome da família é também algo que o impulsiona a aceitar a missão que o Sociedade Geográfica Real, da Grã-Bretanha, lhe designa. E o que seria mais uma missão num lugar inóspito transforma-se numa busca de uma vida inteira, uma vez que Fawcett descobre vestígios de uma civilização num local onde supostamente nunca havia sido alcançado pelo homem.

 

Além da concentração generosa e apaixonada sobre o assunto pela romântica perspectiva de Fawcett a respeito de Z, o que também faz deste trabalho de Gray um filme incomum é como eles nos apresenta as dificuldades na selva de seu explorador com seus fiéis soldados, entre eles Henry Costin (Robert Pattinson).

Acontece que, sob a fotografia apurada de Darius Khondji (o mesmo de Amor, de Haneke), Gray nos dá imagens de lugares reais, com gente real em dificuldades reais.  Z teve suas filmagens divididas em dois grupos de cinco semanas. Uma na Irlanda do Norte, outra nas selvas da Colômbia. De modo que, o que se vê na tela apresenta apenas o mínimo necessário de pós-produção digital, e com ela em função da real beleza e da força natural da selva.

Mit dem Boot geht es auf den riesigen Wasserläufen des Amazonas immer tiefer in ungekanntes Gebiet

Nesse sentido, Z parece mesmo um filme fora de seu tempo, ou melhor, do tempo de hoje, quando atores encenam em estúdios com paredes forradas de verde para ali ser aplicado o posterior efeito CGI. Z deixa claro o cansaço do elenco transpassando aos personagens, e não há nada mais convincente do que a marca do real impresso na tela. Com o detalhe que essa beleza foi sonoramente emoldurada pela trilha grave, mas discreta, de Christopher Spelman.

No que diz respeito aos valores humanos retratados em Z, Gray parece ter explorado o que poderia haver de mais nobre no seu destemido protagonista. Em primeiro lugar o amor à família, a proteção e o respeito à esposa Nina (Siena Miller, de Sniper Americano), mas também aos seus princípios e aos seus deveres, e a lealdade aos amigos. Como ressaltar tantos valores “fora de moda” em 2017 sem soar frágeis, ou fáceis de errar pelo excesso da dose na sua construção num filme de época?

O roteiro e a performance de seu elenco, em particular Hunnam e Miller, merecem o crédito aqui. Em Z, cada fala é dita buscando a potência dessa fala. Nada parece ser dito sem uma convicção na crença do que é dito. Isto tem muito valor, não é fácil de dosar dramaturgicamente e deve sempre ser celebrado.

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