Dunkirk
Um espetáculo, inegavelmente, mas que não dá chance à força do silêncio.
Por Luiz Joaquim | 25.07.2017 (terça-feira)
Semana passada (19/7), Andrew Pulver – crítico do jornal inglês The guardian – usou a palavra mágica do cinema quando publicou sua critica (uma das primeiras de respeito) sobre o mais recente filme de Christopher Batman Begins Nolan. Pulver dizia que “com Dunkirk (GB, Hol., Fra., EUA, 2017), Nolan chegava à altura de [aí entra a palavra mágica] Kubrick”.
Na verdade essa era a chamada do texto, que viajou pelo todo o mundo no átimo de um segundo via twitter. Pulver não podia ter feito maior desserviço a Dunkirk. O elogio saiu pela culatra pois, como qualquer notícia que siga os caminhos virtuais dos 2010, tem sua maior força na chamada, e não no seu conteúdo.
Ainda que ele, Pulver, explicasse no texto que o próprio estúdio de Nolan – a Warner Bros. – já vendia o cinema daquele cineasta, desde Interestelar (2011), como se fosse o de um Kubrick contemporâneo, chamar a atenção de seus leitores para o filme por esse aspecto era reduzi-lo a isto; o que é um erro, seja para aqueles que creditam valor ao trabalho de Pulver, seja aos leigos que nem sabem que Pulver existe, embora saibam quem é Christopher Nolan e tem curiosidade pelo seu cinema (com o fim de elogiá-lo o denegri-lo).
Dito isto, e agora concentrando-nos no filme, pode-se dizer que Dunkirk é um passo positivo e para frente, ainda que de média distância, na carreira que Nolan vem desenhando desde o seu cartão de visitas para o mundo: Amnésia (2000), premiado pelo roteiro no Festival de Sundance.
O primeiro dado a trazer sobre o filme é que ele busca (e encontra!), uma essência particular do cinema que anda bastante prostituída pelo seu próprio meio. A essência de que falamos chama-se ‘espetáculo’.
Dunkirk é, inegavelmente, um espetáculo cinematográfico.
Sabedor disso, o espectador esperto deverá procurar uma sala digna de ser chamada de ‘cinema’ (ou seja, projeção e som corretos – observe que não estamos usando a palavra ‘incrivel’, mas ‘correto’) – para ter o benefício de absorver toda a potência do espetáculo de US$ 150 milhões criado por Nolan.
Dunkirk refere-se à cidade portuária (Dunquerque) ao norte da França, distante a apenas 75 quilômetros da cidade de Dover, na Grã-Bretanha. A proximidade é algo como o espaço que separa Recife do município de Gravatá (PE).
O filme mostra o episódio de 1940 quando, encurralados ali por militares alemães, cerca de 350 mil homens, entre britânicos, franceses e belgas precisaram evacuar em massa. Sendo Dover o lugar seguro mais próximo.
A urgência que Dunkirk sugere é: como retirar centenas de milhares de soldados de um espaço cada vez menor enquanto são massivamente bombardeados pelo exército alemão.
Nolan consegue estabelecer este sentido de urgência em três ambientes. Na praia (sob tiroteios ou explosões), no mar (com soldados tentando embarcar, ou embarcados, ou naufragando) e no ar (numa perseguição entre caças ingleses e alemãs). Nesse sentido, não há tempo para alívio durante os 106 minutos de duração da obra.
A alternância ou o andamento paralelo dos diversos dramas e tragédias desta história também são extremamente bem dosados pelo roteiro do próprio Nolan. Por ele, envolvemo-nos com grupos de protagonistas em seus três núcleos de perspectiva, escolhidos para conhecermos essa história.
Elas (as perspectivas) são a da ‘praia’, quando seguimos o jovem soldado inglês Tommy (Fion Whitehead); o ‘molhe’ e ‘mar’, sob os cuidados, respectivamente, do Comandante inglês, Bolton (Kenneth Branagh) e do marinheiro amador, Sr. Dawson (Mark Rylance); e o ‘ar’, que nos dá a adrenalina dos pilotos ingleses George (Tom Hardy) e Collins (Jack Lowden).
Além do efeito perturbador de um explosão que fará tremer a poltrona do espectador, ou do estrondo que gera a passagem de um avião próximo a sua cabeça, ou ainda do som de um gigantesco navio afundando (metade de Dunkirk é feito de som), um outro aspecto que torna este trabalho de Nolan algo notável é a presença de figurantes.
No filme, a infinita paisagem de soldados no molhe, todos agachando-se em sincronia ao iminente tiroteio de um caça alemão, empresta força àquilo que o cinema de ação deve prezar ao máximo: a verossimilhança. Entendermos que aquilo que estamos vendo diante de nós são corpos reais expressando-se sob um comando (e não efeitos CGI) nos leva aos seus lugares de desconforto.
Agora… se podemos dizer que metade da beleza de Dunkirk é composto pela excelência de seu som e de sua mixagem de som, podemos dizer também que seu porém está (como na maioria da filmografia de Nolan) na trila sonora.
Ela, composta por Hans Zimmer (com Nolan desde Batman Begins, 2005), é boa. Este não é seu problema. O problema está no excesso. Para entender isso basta saber que de seus 106 minutos o filme dedica apenas dois segundos de silêncio. Não é figura de linguagem, não é exagero deste que escreve. São realmente apenas dois segundos de silêncio. E para alcançar estes dois segundos de preciosa dramaturgia você precisa esperar o fim do filme.
Optar por isto até parece uma estratégia de quem não confia na força das próprias imagens que criou. Uma pena.
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